Quem mora perto de áreas com grande circulação de automóveis tem um risco maior de desenvolver um quadro de demência. Há evidências que a poluição do ar promove estados de inflamação no cérebro, assim como o fenômeno de degeneração. Já foi demonstrado também que o ar poluído aumenta o grau de aterosclerose que pode levar ao aumento da incidência de lesões vasculares no cérebro.
Vale lembrar que as lesões vasculares representam a segunda causa mais comum de demência na maioria das populações, perdendo para a doença de Alzheimer. Em algumas populações, a demência por lesões vasculares é até mais frequente que a doença de Alzheimer.
A poluição sonora
A exposição a um exagero de barulho pode ser um fator estressante comparável ao estresse psicológico, podendo levar a alterações no sistema nervoso autônomo e endócrino que podem promover a redução de calibre de pequenas artérias, aumentando o risco de lesões vasculares, não só no coração, mas também no cérebro.Ruído em excesso mexe com o corpo e a mente, mesmo que de forma inconsciente. Não é difícil imaginar que muito barulho também atrapalha o desempenho cognitivo. Entre adultos, temos uma piora da memória e de funções executivas durante a exposição ao barulho e mesmo um pouco depois de sua suspensão. As crianças são ainda mais vulneráveis, já que estão em franco processo de desenvolvimento cognitivo, e os estudos apontam que múltiplas dimensões da cognição são afetadas por um ambiente cronicamente barulhento, como é o caso da atenção, motivação, memória e linguagem, chegando ao ponto de entenderem menos aquilo que leem.
Essa alta exposição a ruídos pode levar também a um comportamento mais agressivo, reduzindo a capacidade de cooperação, o que pode se refletir no trânsito como um círculo vicioso. Mais ruído, mais intolerância, mais buzina, mais intolerância, mais acidentes...
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e Diretor Clínico do Instituto do Cérebro de Brasília