Lá, a empresária percebeu que podia unir a indústria da moda ao artesanato sentimental e único. ;Sempre trabalhei com indústrias: petróleo, minas etc. E, para mim, a moda era uma indústria também. Sempre acreditei que o artesanato é o maior luxo que temos, e achei que havia um gap na moda em relação a isso.;
O primeiro destino foi o Peru, onde a empresária detectou uma desvalorização no artesanato local. ;Naquele ano, a Nannacay era só um projeto social meu. Eu trabalhava de segunda a sexta na IBM, pegava um avião na sexta para o Peru, passava o fim de semana com as artesãs e voltava para o Brasil no domingo. Fiz isso umas 10 vezes durante um ano;, relembra.
Quanto à distribuição de renda, Marcia garante que a profissionalização é aliada. ;Elas colocam o preço no produto, e eu compro delas. Acredito que isso faz parte do que é ser família Nannacay: não fazemos caridade nem damos assistencialismo. Eu as capacito para que sejam independentes;, esclarece.
Duas perguntas para Marcia Kemp
; Produtos artesanais pedem uma produção mais lenta, mais demorada. Como você lida com esse tempo necessário de produção e o atual imediatismo do consumo de moda?
Sigo o mercado internacional. Lanço três coleções por ano: junho, setembro e fevereiro. Se um cliente compra de mim em setembro, ele espera alguns meses, pois preciso de um tempo de produção. Tenho o e-commerce com produtos prontos e showrooms, mas recebo muita encomenda. E aqui no Brasil é onde faço o processo de finalização e todos os acabamentos. Consigo misturar um país com o outro, e é isso que difere, porque não se encontra muito esse tipo de trabalho hoje em dia.
; A indústria da moda está gritando por iniciativas mais sustentáveis e afetivas. Como você vê o panorama da responsabilidade social dentro da indústria? Sente que a Nannacay influencia nesse sentido?
Creio que isso parte de cada indivíduo. É uma motivação individual. Saí do corporativismo, porque queria deixar uma marca no mundo e um legado visível para as pessoas. Estou fazendo minha parte. Hoje, tenho artesãs que têm o próprio carro. Comecei com 13 famílias e, agora, atendo 200. É uma missão. Comecei os trabalhos com presidiários também. Nunca imaginei que conseguiria alcançá-los, mas agora são 20 que produzem. É uma consciência que cada um deve ter, e o que cada um quer para o planeta.
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte