André Baioff*
postado em 30/09/2018 08:00
A frequência com que as coisas mudam, ultimamente, é impressionante. Todo mundo quer se sentir parte da sociedade e ter direito a voz. Para recuperar o tempo perdido por conta de repressões históricas, a comunidade LGBT vem se redefinindo e se reclassificando. É comum, porém, as pessoas estranharem tantas letras que, a cada dia, aumenta com a criação de gêneros e formas de expressão. A prefeitura da cidade de Nova York, por exemplo, já reconhece 31 tipos de gêneros.
Para ajudar os leitores a conhecerem a complexa sigla e suas ramificações, a Revista preparou um glossário. A consultoria ficou por conta de Lina Vilela Santos, professora de serviço social do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb), mestre em ciência da saúde e militante das causas do movimento LGBT; de Lucci Laporta e Bruno Zaidan, militantes dos movimentos LGBT; além do Manual de Comunicação LGBT, da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABLGT).
História
De acordo com Lina, o formato da sigla para representar a comunidade começou na década de 1970. Na época, o movimento era intitulado Movimento Homossexual Brasileiro (MHB). ;Depois de diversas conferências com ativistas e militantes, incorporaram-se outras siglas, principalmente pela atuação de lésbicas, pessoas transexuais e bissexuais.; Assim, chegou-se à sigla GLS (gays, lésbicas e simpatizantes).
Em 1993, tornou-se GLBT e, em 2008, LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros), a mais reconhecida nos dias de hoje. ;Considero a sigla LGBT a mais correta e conhecida, respaldada pelos encontros e seminários nacionais da comunidade. Mas todos os movimentos têm autonomia para criar, a fim de se sentirem representados;, explica Lina.
Entenda as diferenças
Agênero
É aquele que não quer ser identificado socialmente com nenhum gênero.
Andrógino
Indivíduo que usa vestimentas comuns a ambos os gêneros (masculino e feminino). O termo andrógeno era muito usado entre as décadas de 1960 e 1980 para designar artistas consagrados, como David Bowie, Annie Lennox (da banda britânica Eurythmics), Madonna e Prince.
Assexual
São pessoas que não têm desejos sexuais. Porém, há ramificações no meio.
Assumir-se
Por conta de barreiras socioculturais, muitos sentem dificuldade na aceitação como indivíduo da comunidade LGBT. Essas pessoas avaliam se querem revelar isso para a família e para a sociedade. Por isso, a autoaceitação pode durar a vida inteira.
Bicha
É um jargão muito utilizado no meio LGBT. Porém, muita gente de fora do meio usa esse adjetivo de forma pejorativa. Em inglês, é traduzido como faggot.
Bissexual
É a pessoa que se relaciona afetiva e sexualmente com pessoas de ambos os sexos e gêneros. Entre o meio LGBT, para abreviar, usa-se ;bi;.
Cisgênero
Pessoa que se identifica com o sexo biológico que nasceu. Para simplificar, abrevia-se ;cis;. No meio LGBT, é comum dizer ;mulher cis; em contraponto às mulheres transgêneros.
Crossdresser
Os crossdressers usam ocasionalmente roupas do gênero oposto, mas não sentem a necessidade de fazer modificações físicas permanentes, como os transgêneros. Vale lembrar que essa prática nada tem a ver com orientação sexual. Inicialmente, esse termo se originou do fetiche que alguns homens tinham de se vestir como mulher para satisfazer uma fantasia sexual.
Drag queen/drag king
Normalmente, drag queen é o homem cisgênero que se veste com roupas femininas de forma satírica e extravagante para shows e outros eventos. As roupas são questões artísticas. Atualmente, há diversos outros tipos de drag queens que não necessariamente utilizam o humor como base para as performances, como a cantora Pabllo Vittar, que trouxe maior visibilidade às drags. Já o drag king é a versão masculina das drag queens, ou seja, uma mulher que se veste com roupas masculinas para performances artísticas.
Fobia
Distúrbios psiquiátricos que se expressam na forma de aversão e medo mórbido, irracional, desproporcional, persistente e repugnante, que pode e deve ser tratado.
Gay/homossexual
São homens (cisgêneros e/ou transgêneros) que sentem atração sexual, física e afetiva por outros homens.
Heterossexual
Indivíduo que sente atração sexual, física e afetiva por pessoas do sexo/gênero oposto.
Heteronormatividade
Expressão usada para descrever o comportamento heterossexual como a única conduta válida socialmente. Quem não segui-la ficará em desvantagem perante o restante da sociedade. Esse conceito é a base dos argumentos discriminatórios e preconceituosos que a comunidade LGBT repudia.
Homofobia
Consiste em um problema social e político. Esse conceito ganhou o domínio público, no ativismo, na academia e na mídia. Homofobia deve ser definida como medo, aversão ou ódio irracional aos homossexuais e, também, aos que manifestem orientação sexual ou identidade de gênero diferente dos padrões ditos normais. Tem sido um conceito usado para descrever fenômenos sociais relacionados ao preconceito, à discriminação e à violência contra homossexuais. Militantes lutam para que seja tratada como crime.
Intersexual
Historicamente, os intersexuais eram conhecidos como hermafroditas ou eunucos. São pessoas que têm características sexuais e reprodutivas dos gêneros masculino e feminino. Ao nascerem, muitas vezes, a genitália fica indefinida se é pênis ou vagina. Nesses casos, o Conselho Federal de Medicina dá suporte para que sejam feitos procedimentos para a definição de sexo e gênero do bebê. No entanto, há uma ampla discussão sobre isso.
Lésbicas
São mulheres (cisgêneras e/ou transgêneras) que sentem atração sexual, física e afetiva por outras mulheres. O significado da palavra lésbica provém dos poemas da poeta Safo, nascida em 630 antes de Cristo, na ilha de Lesbos, na Grécia.
Não binário
São pessoas cuja identidade ou expressão de gênero não se limitam às categorias ;masculina; ou ;feminina;. Na dúvida, quando uma pessoa se denomina não binária, é importante sempre perguntar como quer ser identificada. Ela não é, necessariamente, sinônimo de transgênero ou transexual.
Pansexual
Não fazem distinção de pessoas. São atraídas sexual, física e afetivamente por todos os tipos de gêneros e identidade de gêneros. ;É uma nova forma de enxergar a bissexualidade, ultrapassando o binarismo de gênero;, explica Lina Vilela Santos.
Queer
Palavra do idioma inglês que significa excêntrico, diferente ou esquisito. Por muitos anos, foi usada de forma pejorativa para designar pessoas LGBTs. Até que, na década de 1990, ganhou notoriedade com a Teoria Queer, de Judith Butler. Mesmo a sigla LGBT sendo a mais usada, muitos acrescentam o Q para pessoas que se sentem diferentes dentro mesmo da comunidade.
Sair do armário
Gíria muito comum entre LGBTs usada basicamente para explicar quando alguém assume publicamente sua orientação sexual ou identidade de gênero.
T-lover
São pessoas que se sentem atraídas por travestis e transexuais.
Transfobia
Palavra criada para representar a rejeição e a aversão às pessoas transexuais. A expressão está mais relacionada às ações políticas do movimento LGBT.
Transformista
Assim como drag queens e drag kings, são indivíduos que se vestem com roupas do gênero oposto movido para fins artísticos. Porém, de forma menos extravagantes.
Transgêneros
Esse termo abarca tanto transexuais quanto travestis.
Transexual
São pessoas que não se enxergam no gênero em que nasceram. Exemplo: uma pessoa que nasce em um corpo biologicamente masculino e, de alguma maneira, não se sente social nem culturalmente representados dessa forma e passa a se sentir confortável na forma feminina. Muitos e muitas se submetem a intervenções cirúrgicas para realizarem a adequação de gênero. Mas não é regra.
Travesti
Muita gente faz confusão entre transexuais e travestis. Travesti é a pessoa que nasce do sexo masculino, mas que tem sua identidade de gênero oposta ao seu sexo biológico. Muitas travestis modificam os corpos por meio de hormonioterapias, aplicações de silicone ou por meio de cirurgias plásticas. Porém, vale ressaltar que isso não é regra. Diferentemente das transexuais, as travestis não desejam realizar a cirurgia de redesignação sexual (a famosa mudança do órgão genital). Utiliza-se o artigo definido feminino ;a; para falar da travesti.