Jornal Correio Braziliense

Revista

Chef transforma as refeições em experiência de conforto e sensações

À frente de quatro empreendimentos gastronômicos, Marcelo Petrarca traz emoção para os pratos


Como a maioria dos garotos, Marcelo Petrarca costumava dizer que seria jogador de futebol quando crescesse. E realizou o sonho. Aos 15 anos, entrou em campo pelo Internacional de Porto Alegre. Na sequência, já como atleta profissional, vestiu a camisa do América do Rio de Janeiro. Mas a carreira de atacante durou pouco. Aos 19 anos, com a morte do pai e um pouco de desencanto pelo esporte, decidiu voltar para Brasília e ficar perto da mãe e dos irmãos.

Ainda perdido sobre os próximos passos a trilhar, Petrarca só tinha uma certeza: não seguiria a carreira de advogado, como toda a família. A irmã, que dava aula de direito no Iesb, sugeriu, então, que ele visitasse a faculdade para conhecer o recém-inaugurado curso de gastronomia. Ele foi, gostou do que viu e se matriculou. ;Nunca tive essa de, desde pequeno, colocar um banquinho para ajudar minha mãe a cozinhar. Meu contato com a gastronomia era zero.;

Logo nas primeiras aulas, Petrarca conseguiu um estágio no Dudu Bar como cozinheiro. ;De cara, eu já me vi apaixonado pela gastronomia;, conta. Depois de um ano, recebeu um convite para trabalhar no Zuu a.Z d.Z e por lá ficou até concluir a faculdade.

Decidiu, então, fazer uma pós-graduação na Escola de Hotelaria de Sevilha, na Espanha. Foram nove meses de especialização. De lá, partiu para mais uma temporada de quatro meses na Itália. Foi quando recebeu a proposta de retornar ao Zuu. Desta vez, como chef de cozinha. Era o início de uma bem-sucedida carreira.

Depois de dois anos, Petrarca assumiu o comando da cozinha do Grand Cru e, na sequência, do Gazebo. ;Comecei a perceber que a cada mudança as pessoas me acompanhavam. Vi que estava preparado para alçar voo solo.; E assim o fez.

Em sociedade com os irmãos, Petrarca juntou todas as economias e abriu o Bloco C, em janeiro de 2015. ;Não havia plano B, tinha que dar certo.; E deu. Com uma cozinha contemporânea e autoral, o restaurante é uma homenagem à capital, a começar pelo nome e passando pela arquitetura. ;Brasília não tinha algo parecido, tanto que recebemos muita gente de fora, das embaixadas. Por lá, passam também empresários, políticos e aquele casal que economizou para celebrar uma data especial;, orgulha-se.

Petrarca classifica a cozinha do Bloco C como confortável. ;É aquela comida que abraça, que remete à infância. Já ouvi de clientes que tinham trauma de rapadura, mas que, quando comeram o nosso filé com rapadura (carro-chefe da casa), não só amaram como se emocionaram.;

Expansão


O sucesso do restaurante foi tanto que, em um ano, surgia o Bloco C em Casa, um bufê preparado para servir festas de seis pessoas a 2 mil. ;Hoje, temos uma demanda de 15 a 18 eventos por mês;, calcula. Como se não bastasse tanto trabalho, um ano depois, Petrarca era convidado a abrir o restaurante do Blue Tree Jade, o Reverso.
Ao contrário do que ocorre na maioria dos hotéis, lá, o room service funciona 24 horas e o cardápio é o mesmo do restaurante. ;Não tem essa de o hóspede chegar de madrugada e não ter o que comer.;

Workahoolic assumido, o chef não se contentou em tocar os três negócios. Em dezembro do ano passado, abriu as portas do Lago Restaurante, com uma proposta completamente diferente do Bloco C. ;Não queria ser meu concorrente;, justifica. A ideia da casa surgiu das constantes conversas que tinha com os clientes. ;Muitos me diziam que sentiam falta de comer clássicos de algumas cozinhas internacionais que tinham experimentado em viagens. Daí, decidi fazer um cardápio com essa pegada internacional.;

O bife Wellington, aliás, um clássico da cozinha inglesa, é a receita que Petrarca compartilha com os leitores da coluna. Prato mais pedido da casa, o chef garante que foi também o que mais deu trabalho para desenvolver. ;Foram pelo menos 10 meses de teste.;

Diante de tantos empreendimentos, ainda dá para cozinhar? Petrarca admite que está difícil se dedicar às panelas, mas faz questão de estar sempre na cozinha. ;Tenho dois chefs em cada casa, treinados por mim. Mas, não raramente, acontece de um cliente fazer questão que eu monte o prato. Às vezes, estou em outro restaurante, mas vou imediatamente.;

Aliás, a boa relação com a clientela é algo que o chef faz questão de cultivar. ;Hoje, 70% dos meus clientes viraram amigos. Um dia eles estão almoçando aqui; no outro, estou jantando na casa deles.; Petrarca garante que se sente totalmente realizado com a profissão que escolheu. ;Sou apaixonado pelo que faço e nada me deixa mais satisfeito do que ver a felicidade do outro, de saber que ele escolheu o meu restaurante, entre tantos, para celebrar um aniversário, uma conquista, uma data especial. Sinto-me um privilegiado.;

E, para quem pensa que os empreendimentos param por aí, Petrarca, hoje com 30 anos, já anuncia: daqui a uns três anos, o projeto é abrir um restaurante em São Paulo. Sampa que o aguarde!


Filé Wellington


Ingredientes
Cogumelos Paris
Cebola
Alho
Presunto Parma
Massa folhada
Filé-mignon
Mostarda Dijon
Tomilho Fresco
Shoyu

Modo de preparar
Refogue a cebola, o alho e o cogumelo. Acrescente tomilho fresco e shoyu a gosto. Depois, triture até virar uma pasta e deixe esfriar. Em uma panela bem quente, sele os filés e deixe repousar na geladeira por meia hora. Abra a massa folhada. Em outra tábua, espalhe o presunto de Parma e, sobre ele, o recheio de cogumelo. Enrole o filé com presunto e depois com a massa folhada. Leve para gelar novamente. Asse por 10 minutos a 180;C.