<div style="text-align: justify">Alguns dados, um bom grupo de amigos e muita imaginação: atenção, a partida começou! Longe de computadores e videogames, a magia se dá ali, em volta de uma mesa, com o tradicional ; hoje, nem tanto ; jogo de tabuleiro. Os clássicos, como War, Jogo da Vida e Banco Imobiliário, ainda fazem os jogadores virarem noites, mas há também quem se arrisque em títulos mais modernos, que se tornam atrativos por sua beleza e acabamento inovador. Gosto não é o problema. Basta selecionar tema, estratégia, quantidade de participantes e escolher entre tantas opções.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Os produtos aparecem mais aprimorados. Essa seria a razão mais evidente para o ;boom; dos jogos de mesa. Os melhores jogos, agora, são sociáveis, envolventes e fáceis de aprender, mas também trabalham o cérebro, são intrigantes e difíceis de dominar. Os jogos de celular e a série Game of Thrones deram, aos poucos, permissão para que os adultos que ainda não tinham interesse se envolvessem abertamente em passatempos antes considerados muito juvenis. Assim, o boardgame, como também é conhecido, é um exemplo de hobby analógico que, longe de ser morto pela tecnologia, foi revigorado por ela.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">E, mesmo que o comportamento remeta ao universo geek ; ou nerd ;, ele não se restringe a essa tribo. De acordo com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), 8,9% das vendas são representadas por esses produtos, o que gera um faturamento em torno R$ 600 milhões por ano. Títulos clássicos continuam conquistando novas gerações, mas os novos, cada vez mais dinâmicos, colaboram para esse retorno de interesse.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Aqui na capital, cada bar, esquina e encontro de amigos pode ganhar a companhia de um bom jogo. Os que não sabem jogar não se acanham: entre companheiros, o clima é de descontração e aprendizado. Facilmente contabiliza-se mais de cinco casas especializadas em jogos de tabuleiro por aqui. Apesar de ser um mercado ainda em crescimento, é notável o esforço dos donos para que os locais sejam cada vez mais movimentados e especiais ; de bar medieval a taqueria, existem opções para todos os gostos.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Pela internet, canais no YouTube fazem apresentações e tutoriais sobre os mais diferentes títulos; blogs crescem falando sobre o tema; eventos por todo o mundo reúnem apaixonados; editoras desenvolvem novos boardgames; e nas lojas, a surpresa de vitrines cheias de jogos nunca vistos antes. Como não poderia ser diferente, apaixonados mostram, com orgulho, suas coleções e jogos favoritos. Eles garantem que o gosto passa de geração para geração e reforça diversos ensinamentos da infância.</div><h3 style="text-align: justify">Olho no olho </h3><div style="text-align: justify"><img src="https://imgsapp2.correiobraziliense.com.br/app/noticia_127983242361/2018/05/27/683575/20180525182648619915o.jpg" alt="Um homem sorrindo na frente de um monte de jogos de tabuleiros coloridos." />Até para os que já conhecem a variedade e os encantos dos jogos, entrar na sala principal da Orgutal pode ser surpreendente. A casa de jogos foi a primeira de Brasília e conta com mais de 600 títulos no acervo. Lugar simples, de apenas um dono. Quando batemos na porta, lá está ele: Luiz Cláudio da Mata, o arquiteto de 34 anos, organizando algumas coisas na pequena geladeira. Apesar de nos oferecer algumas bebidas, ele confirma que esse não é o foco do local ; os snacks são para os visitantes se sentirem em casa, mas a essência está nas centenas de jogos organizados pelas prateleiras.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">;Tudo começou com meia dúzia de jogos;, lembra. A experiência na tentativa de abrir outros negócios e na profissão de arquiteto fez com que Luiz entendesse o que a cidade precisava, há sete anos. ;Tive a ideia por conta da demanda. Meus amigos e eu tínhamos muita dificuldade em achar um lugar para jogar. Nunca fui um apaixonado, mas vi nessas pequenas peças a oportunidade de fazer algo inovador.;</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Logo na abertura, para a surpresa do dono, a casa já recebeu 150 visitantes. O local, na 205 Norte, foi escolhido com carinho e planejamento: perto do centro e com a superquadra como cartão-postal. ;Imaginei que quem visse fotos já saberia que estamos falando de Brasília;, explica. Em cada história e fala do arquiteto, é possível ver seu amor pela cidade e sua vontade de reconhecimento, também na área dos boardgames. ;Brasília é capital de tanta coisa. Por que não dos jogos?;, imagina.</div><h3 style="text-align: justify">Projetando inovação</h3><div style="text-align: justify">Quem visita o local se senta em volta de uma grande mesa para jogar. E o dono garante que sempre há espaço para mais um. ;Eu queria colocar as pessoas em contato. Mesa no meio e olho no olho. A interação social é o que me faz estar aqui, essa questão de passar os valores. Não sirvo coisas em bons copos, não tenho as melhores comidas. Aqui, o que vale é a paixão pelos jogos;, afirma Luiz.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Paixão essa que fez com que o arquiteto aprendesse a explicar quase todos dos 600 títulos do local. Ele garante que aprender as regras de um jogo é como ler um bom livro ; depois que se gosta, procura-se outras obras de um mesmo autor e, de repente, se tem inúmeras coisas de qualidade nas mãos. ;Quem entende o mínimo que seja desse mundo de jogos sabe como é curioso cada regra, cada tipo, cada tema. Eles não são mais como antes. Hoje, é um hobby que exige investimento.;</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Investimento que, para a empresa de Luiz, é feito apenas no Brasil. ;Comprar do exterior está bem complicado, mas o bom é que não vejo tanta necessidade. O mercado daqui cresceu muito.;</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Quem passa na casa durante o funcionamento sempre vai encontrar Luiz e seus monitores. A Orgutal também trabalha com a venda de alguns títulos e artigos para jogos. ;Como meu foco agora são os jovens e adultos, ainda quero fazer um espaço infantil, colocar uma cozinha e acrescentar outros tipos de jogos;, planeja. Além disso, outros projetos ainda vêm por aí. ;Dizem que um empresário tem que ter em mente o que ele quer para daqui a cinco, 10 anos. Eu, como urbanista, vejo uma cidade para daqui a 200 anos!&rdquo; </div><h3>A vez delas</h3><div style="text-align: justify"><img src="https://imgsapp2.correiobraziliense.com.br/app/noticia_127983242361/2018/05/27/683575/20180525182526583306o.JPG" alt="Uma mulher sorrindo ao fundo de um objeto colorido desfocado." />Para quem cresceu no mundo dos videogames e dos clássicos, os jogos de tabuleiro são uma realidade um tanto comum. Foi brincando com a família que An;is Almeida, 25, pegou gosto pela coisa. Ela conta que, nas viagens, sempre tinha algum jogo guardado na bolsa e aproveitava o tempo de espera para se entreter com os pais.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Mas foi há três anos que ela e a família sentiram que precisavam ter alguns títulos em casa. ;Os jogos têm um potencial incrível de integrar, sentar próximo às pessoas, olho no olho. É um momento em que todos paramos e focamos em algo leve;, descreve.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Cerveja gelada e um bom grupo de amigos, diz ela, são a combinação perfeita para a diversão. ;O jogo é que nem uma tatuagem, nunca estou satisfeita só com um. Vamos às lojas e ficamos planejando e guardando aquele dinheirinho.; A designer afirma que as mulheres têm ganhado mais espaços no mundo dos games. Ela acredita que, apesar do machismo ainda presente no meio, elas estão com força para se mostrar. </div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Assim como An;is, Mariana Dornelas, 25, se apaixona um pouquinho mais por esse mundo a cada título que joga. Como nunca gostou de lugares cheios ou festas agitadas, a veterinária viu no hobby o lazer ideal. Quando foi apresentada aos jogos de tabuleiros por amigos, há dois anos, os programas de fim de semana estavam garantidos. ;Tenho 10 jogos e sempre estou pensando em comprar algo novo ou pedir de presente para alguém;, conta.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Jogando em casa ou não, segundo ela, os jogos a ensinaram a lidar com perdas e frustrações. ;No início acabávamos levando mais a sério, mas acredito que, hoje, tudo é apenas diversão.;</div><h3>Paixão para colecionar</h3><div style="text-align: justify"><img src="https://imgsapp2.correiobraziliense.com.br/app/noticia_127983242361/2018/05/27/683575/20180525182532697803a.JPG" alt="Gustavo Gil com o filho Gabriel Gil" />Bastou o primeiro contato com os livros da saga Senhor dos Anéis, aos 11, para que Gustavo Gil, 41, passasse a carregar o título de nerd com muito orgulho. Ele brinca que o universo da fantasia é um caminho sem volta e conta que a introdução aos jogos de tabuleiro, assim como para tantas outras pessoas, começou no famoso Banco Imobiliário ; na época, a variedade dos títulos ainda era bem reduzida.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">;Sempre joguei com os amigos da escola, mas o meu forte era o RPG, como é até hoje.; Os boardgames modernos apareceram na vida do publicitário em 2004 ; paixão também quase imediata. ;Curto muito porque, além de estimular a criatividade, é uma diversão sadia entre amigos. Os jogos são caros porque o mercado está muito aquecido, mas, para quem gosta, vale a pena.;</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Já com os próprios gostos desenvolvidos, Gustavo começou a comprar os jogos de tabuleiro de que mais gostava para colecionar: atualmente, são mais de 120 títulos, o que, segundo ele, é pouco perto de tantas opções existentes. Toda semana, o encontro com os amigos é programa certo. ;Quarta, é dia lá em casa. Ficamos a noite toda jogando, comendo e bebendo. É religioso.;.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">O colecionador explica que os boardgames atuais são muito diferentes do papelão de antigamente. ;É algo que nos convida a jogar. Um hobby construtivo, em que ninguém está apostando nada. São jogos estratégicos, que estimulam nossa inteligência.; Mesmo jogando em casa, a diversão pela cidade também é uma boa aposta. ;Existem muitos eventos em que podemos ver pessoas novas, novidades e estratégias que não conhecíamos antes;, comemora.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Além de acompanhar as novidades sobre o tema em feiras e no mercado internacional, Gustavo aproveita o tempo livre para compartilhar um pouco de sua paixão com o filho, Gabriel, de 9 anos. ;Quero que ele perceba o valor nessas coisas, pois acho um hábito saudável. Os jogos estimulam a criatividade, a fantasia e o raciocínio lógico dentro de temas lúdicos. Melhor do que um jogo de videogame, por exemplo;, ressalta.</div>