<div style="text-align: justify">Salvador ; Uma boa alimentação, aquela que traz todos os nutrientes que cada pessoa precisa no seu dia a dia, não é importante apenas para prevenir doenças. Ela é crucial, especialmente, para quem precisa garantir forças nas duras batalhas contra doenças ou pela sobrevivência em hospitais. Desnutrição mata e ainda é uma das mazelas do Brasil.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">;A comida é o sustentáculo da vida, se não comer, não para em pé;, lembra o médico José Eduardo Aguilar Siqueira do Nascimento, presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (Braspen). E não para mesmo. Na década de 1970, a falta de alimentação tirava a vida de 100 em cada mil crianças. Sucessivos governos apostaram em programas sociais para ceifar o mal.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">O alvo, agora, são os pacientes das unidades de terapia intensiva. Metade dos doentes internados nas UTIs tem desnutrição, sendo que 14,4% deles morrem. A falta de nutrientes afeta todo o quadro clínico: aumenta o risco de infecções, compromete a cicatrização, aumenta complicações pós-operatórias e prolonga o tempo de internação. Pessoas nessa situação correm 2,5 vezes mais riscos de morrer e até 50% mais de sofrer complicações.</div><div style="text-align: justify"><img src="https://imgsapp2.correiobraziliense.com.br/app/noticia_127983242361/2017/12/03/644808/20171201150250637741e.jpg" alt="Desnutrição fragiliza 50% dos pacientes internados em UTIs no Brasil. Especialistas apostam no uso de suplemento oral" /><br /></div><div style="text-align: justify">O cenário preocupa especialistas ; um alerta já havia sido apresentado, em 1996, na conclusão do Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional Hospitalar. Conduzido pelo gastroenterologista Dan Waitzberg, o estudo revelou que a maioria dos tratamentos contra doenças como o câncer, por exemplo, não surtia efeito porque os doentes estavam desnutridos (leia entrevista).</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Vinte anos depois da pesquisa, o 22; Congresso Brasileiro de Nutrição Parenteral e Enteral, realizado em Salvador, na última semana de outubro, apontou que o problema persiste e ultrapassou os corredores das unidades de saúde. O tratamento dos pacientes que voltam para casa é comprometido pela negligência no cuidado nutricional, o que aumenta o índice de readmissão hospitalar.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">A desnutrição afeta principalmente pacientes oncológicos (66,3%) com mais de 60 anos (52,8%) e com infecções (61,4%). Para mudar esse cenário, a Braspen promete publicar uma nova diretriz com oito recomendações ao Ministério da Saúde. O documento vai ressaltar a importância da suplementação e atualizar a visão nutricional do ponto de vista da alta médica.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">;Além da prescrição médica, os médicos deverão fazer um formulário com informações e recomendações para a alimentação e a suplementação oral;, adianta José Aguilar. Ele explica que, muitas vezes, o paciente vai para casa e necessita de outra internação devido a uma perda de músculos que pode causar insuficiência respiratória. ;Para avançarmos, temos que melhorar a informação e a política pública. A desnutrição é tão grave como a doença a ser tratada.;</div><div style="text-align: justify"><br /></div><h3 style="text-align: justify">Solução líquida</h3><div style="text-align: justify">Para a Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral, a suplementação ; feita com soluções líquidas de pequeno volume ; deve ser introduzida na dieta do paciente quando ele não consegue ingerir alimentos na taxa adequada para a idade ou doença que enfrenta. Essa é uma das conclusões do estudo. O próximo passo será negociar com o Ministério da Saúde a implantação e o custeio desse modelo de alimentação a partir de 2018.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">;Esse tipo de doente, normalmente, tem pouca fome. Você pode até dar um prato de comida, que é o adequado, mas eles não comem. Então, com uma pequena quantidade de suplemento, você repõe toda a quantidade de calorias e nutrientes necessários. Isso é estratégico. E não é uma coisa cara, é muito mais caro uma dose de antibiótico, por exemplo;, compara José Aguilar.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Por lei, cada unidade de saúde é obrigada a manter um setor para monitorar os casos de desnutrição. A portaria que regulamenta a prática completou 10 anos. Agora, diz José Aguilar, é atacar o problema.;Muitos hospitais entendem que isso faz parte da dieta, mas não faz. A dieta hospitalar é entendida como o prato, esses suplementos são específicos, têm gradações. Alguns hospitais privados têm aceitado as prescrições médicas e cobrado os planos de saúde, que estão entendendo que isso é custo benefício;, revela.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Bom para a saúde do paciente e para as finanças do governo e dos hospitais. ;O importante é entender que, quando se usa terapia nutricional oral, se evita antibiótico, se evita UTI, se evitam gastos com diária hospitalar. Dessa forma, estão se reduzindo custos. Quando se relaciona o custo da terapia com os suplementos em relação ao que se economiza, a terapia se torna altamente benéfica;, destaca José Aguilar.</div><h3 style="text-align: justify">ENTREVISTA - Dan L. Waitzberg </h3><div style="text-align: justify"><img src="https://imgsapp2.correiobraziliense.com.br/app/noticia_127983242361/2017/12/03/644808/20171201141650874241a.JPG" alt="Desnutrição fragiliza 50% dos pacientes internados em UTIs no Brasil. Especialistas apostam no uso de suplemento oral" /> </div><div style="text-align: justify"> </div><div style="text-align: justify"><strong>Um copo vale uma refeição</strong></div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Responsável pelo Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional Hospitalar, o gastroenterologista e professor do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Alimentos e Nutrição da Universidade de São Paulo (USP) fala sobre a relação custo/benefício da suplementação oral: menos remédio e menor tempo de internação.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><strong>Por que os pacientes hospitalizados têm mais tendência à desnutrição?</strong><div style="text-align: justify">O envelhecimento da população contribui para este cenário. Os idosos são mais sujeitos à desnutrição naturalmente. Eles comem menos proteína, são sujeitos a doenças infecciosas e ao câncer. A desnutrição está associada ao aumento do tempo de internação, piora a evolução cirúrgica, diminui cicatrização, usa mais antibióticos, o paciente custa mais caro e morre mais.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify"><strong>Faltam políticas públicas para combater esse problema?</strong></div><div style="text-align: justify">A política brasileira é avançada. O Brasil foi um dos primeiros países a custear a nutrição enteral. Os avanços pararam por uma série de questões políticas. Existem leis muito boas. O cumprimento e a modernização são outra coisa.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify"><strong>Médicos apostam na suplementação oral para tratar esses casos. É a melhor saída?</strong></div><div style="text-align: justify">Os suplementos orais, por exemplo, um copo equivale a uma refeição. Essa é uma estratégia de fácil implementação. Os suplementos são específicos para doenças como câncer, diabetes, pacientes idosos e pediátricos. Na Inglaterra, um estudo com milhares de pessoas mostrou que a evolução é melhor quando há a suplementação oral.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify"><strong>Quais são os efeitos da suplementação?</strong></div><div style="text-align: justify">Redução de custos. O paciente fica menos tempo internado, toma menos remédio e demanda menos terapia. Não adianta gastar uma fortuna no tratamento e o paciente não reagir por estar desnutrido.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify"><strong>A suplementação é possível no Sistema Único de Saúde?</strong></div><div style="text-align: justify">A quantidade de gente que precisa é grande, por isso o volume (de dinheiro gasto) é grande. O governo olha o montante e raciocina que é caro, mas essa lógica é inversa. Temos que investir na nutrição.</div><div><br /></div>