<div style="text-align: justify">Com as intensas pressões do dia a dia, o ser humano sente uma necessidade crescente de aliviar tensões por meio de práticas terapêuticas e exercícios físicos, para manter a saúde em equilíbrio. Os animais, por sua vez, sempre estão atentos: usam os sentidos, instintos e movimentos para permanecer alerta contra os perigos iminentes, como parte de suas táticas de sobrevivência.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Os movimentos que eles realizam no seu habitat são desenvolvidos no kempô indiano, um conjunto de técnicas corporais inspiradas na estratégia de sobrevivência do mundo animal, e na natureza. Os exercícios corporais trabalham o equilíbrio, a postura, a mente, fortalece os músculos e são também muito usados na preparação de dançarinos e atores.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">O kempô surgiu na tribo Kastria, do Sul da Índia, há 7 mil anos, com o nome original de vajra mushti. Vajra significa trovão, ou a força que liga o céu à terra. E mushti, a consciência profunda. A tribo utilizava os métodos de imitar animais para invadir e atacar grupos rivais. Os movimentos eram, então, vistos como uma espécie de luta marcial. Como surtiam efeito no combate ao inimigo, as técnicas corporais acabaram passando de geração para geração.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Em viagem pelo mundo, no fim da década de 1960, um grupo de monges aproveitou a passagem pela América do Sul para compartilhar os conhecimentos sobre o kempô indiano. Em terras brasileiras, ancoraram no Rio de Janeiro. E uma das pessoas que estavam lá para encontrá-los era Jô Azer, mestre do músico, professor de dança negra contemporânea, terapeuta prânico e instrutor de kempô Júlio César Pereira, 56 anos.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">;O mestre Jô Azer manteve a técnica dos monges, ou seja, não quis modificar nada para adaptar aqui;, detalha o instrutor da técnica corporal de kempô indiano em Brasília. Natural de São Paulo, Júlio veio para a capital federal na década de 1990 e, desde então, realiza cursos e workshops na cidade.</div><h3 style="text-align: justify">Postura consciente</h3><div style="text-align: justify">Embora o kempô pareça luta, diz Júlio, a técnica vai muito além: é uma superação de obstáculos físicos e psicológicos e trabalha com o instinto de preservação. ;As técnicas buscam estimular o instintivo, o racional e o intuitivo, para que se possa ter postura consciente e alerta nas diversas situações da vida. Os exercícios não são feitos de maneira mecânica, como a ginástica, por exemplo;, explica.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Tudo começa com os alunos dispostos em círculos, que servem como uma espécie de ponte para a atividade. Depois, vêm os alongamentos. De olhos fechados, os participantes são orientados a focar toda a energia na barriga. Então, eles se abaixam, com os pés e as mãos no chão, movimentando os quadris e os ombros. Essa posição imita o tigre.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Em seguida, ao se levantar, precisam encontrar um eixo e se manter de olhos fechados. O objetivo é que a coluna seja o eixo central no espaço. O espaço, nesse caso, é uma expressão filosófica na qual se baseia o kempô. ;Isso quer dizer que o grande adversário não se encontra em outras coisas e pessoas, ou seja, não está do lado de fora, e sim, dentro de nós mesmos. Por isso, é preciso conhecer o eu interior para poder vencer o medo;, ensina Júlio.</div><div style="text-align: justify"><img src="https://imgsapp2.correiobraziliense.com.br/app/noticia_127983242361/2017/10/15/633481/20171013172534954000u.JPG" alt="Alger (no meio) faz os exercícios há um ano: %u201CSaímos alegres e com a postura melhor%u201D" /> </div><div style="text-align: justify">No kempô, o aluno tem contato direto com a natureza ; o que mais interessa ao funcionário público e professor de ioga e bambu-do Alger Carriconde, 51 anos. Ele pratica o kempô indiano há um ano e conta que o mais interessante é o desafio que a natureza propicia. ;Subimos em árvores, por exemplo, para elaborar as técnicas. Nisso, em vez de ficármos exaustos, como na musculação, saímos mais alegres, com mais vitalidade;, garante.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Alger ressalta que muitas pessoas procuram atividades físicas por estética e o kempô passa por cima dessa questão. Segundo ele, é um trabalho não convencional. Reúne força, resistência, e a prática está muito ligada ao ar livre. ;É como uma luta marcial. Melhora a postura e previne uma série de problemas. Trabalha com o próprio corpo de maneira integral, não apenas em áreas específicas;, complementa.</div><h3 style="text-align: justify">Respiração controlada</h3><div style="text-align: justify">Assim como Alger, o produtor de eventos Rafael Justus, 50 anos, apaixonou-se pelo kempô. Praticante assíduo de esportes como corrida de rua, ciclismo e natação, ele conta que queria complementar com outro tipo de exercício. Na busca, há 10 anos, conheceu a modalidade durante um evento esportivo. Desde então, pratica duas vezes por semana, e lista os benefícios. </div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">;O kempô fortalece toda a musculatura corporal, gera equilíbrio, flexibilidade e desliga a mente, por trabalhar movimentos inusuais;, explica Rafael. Ele diz que os exercícios envolvem tensão muscular e relaxamento, e são abordados de forma lúdica e com uma ligação excessiva com a natureza. A modalidade não tem restrições. Mas é sempre importante o praticante respeitar seus próprios limites, ele esclarece.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">No kempô, assim como na ioga e nos exercícios alternativos, uma das principais vantagens é o controle e o treinamento da respiração. De acordo com o coordenador do curso de educação física do IESB e vice-presidente do Conselho Regional de Educação Física do DF, Sérgio Avelino da Silva, em todos os exercícios e atividades físicas, o organismo precisa de oxigenação, principalmente a musculatura.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Ele ressalta que as práticas mais alternativas, como ioga, pilates e o kempô indiano são muito importantes nesse sentido. E chama a atenção para o controle médico. ;Vale enfatizar que todas as práticas esportivas devem ter exames preventivos de saúde. Não é uma obrigatoriedade, e sim uma responsabilidade pessoal de cada um;, destaca Sérgio Avelino.</div><h3 style="text-align: justify">Bichos que voam</h3><div style="text-align: justify">Diferentemente dos exercícios das ginásticas convencionais, o kempô indiano é uma técnica corporal que busca estimular os sentidos intuitivos de observação e de percepção, para aprimorar a postura consciente e de atenção constante das pessoas.</div><div style="text-align: justify"> </div><div style="text-align: justify"><ul><li>As técnicas iniciais se baseiam nos movimentos de animais rastejantes, como cobras, lagartos e até mesmo aranhas. A proposta é que os participantes se familiarizem com o solo.</li><li>Depois, é a vez de movimentos que remetem a animais quadrúpedes, como gatos, tigres, leopardos e macacos.</li><li>E, por fim, os movimentos reproduzem os bichos que voam.</li></ul></div><div style="text-align: justify"> </div><div style="text-align: justify">* Estagiário sob supervisão de Valéria de Velasco </div>