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A adolescência é uma fase intensa, que envolve a busca por identidade. Muitas vezes, esse porto seguro está em uma tribo em que os membros partilham o mesmo estilo de vida. Em meados dos anos 2000, a tribo dos emos (corruptela de emotional hardcore) conquistou corações juvenis com roupas pretas, franjas lisas, olhos delineados e muito rock melancólico.
As raízes musicais do gênero remontam à cena punk hardcore de Washington, EUA, berço de grupos como Rites of Spring e Embrace. O boom, porém, ocorreu nos anos 1990, com uma nova leva de roqueiros emotivos no meio-oeste americano (daí o nome midwest emo) ; nomes como Cap;n Jazz, Braid, Mineral, Christie Front Drive, The Get Up Kids e Jimmy Eat World se projetaram nessa época. ;Acredito que essas sejam as mais embrionárias, encabeçando uma grande árvore genealógica de dezenas de bandas e serviu como maior fonte de inspiração das gerações seguintes;, relata o designer gráfico Lucas Fuschino, 28 anos, diretor do selo independente Share This Breath.
Porém, na mesma velocidade que a moda pegou, refluiu: hoje, cerca de 15 anos após o ápice do gênero, existem poucos emos nos pátios das escolas, nos shows e nos rolezinhos de shopping. Cristianne Cunha, 22 anos, é uma exceção. ;Acabei amadurecendo o estilo e adaptando para a minha realidade atual. Ainda uso franja e roupas pretas. Também continuo curtindo as músicas;, ressalta a jovem.
Para Lucas Fuschino, o movimento sofreu certa estigmatização. ;A estética exagerada e a banalização da suposta tristeza foram as maiores nódoas deixadas pelo senso comum. É inegável sentir nostalgia daqueles dias pintando o cabelo, trocando arquivos de mp3 pelo MSN, escrevendo os versos preferidos em todos os cantos;, relembra.
Pontos de encontro
Na capital, os emos se aglomeravam no Pátio Brasil, na praça ao lado da estação de metrô do Park Shopping e, até mesmo, no templo budista na Asa Sul. Quem passava por esses locais logo reparava cintos de rebite, cabelos alisados tampando o rosto e calças superapertadas. Incontáveis piercings e lápis de olho compunham o visual.
Os shows das bandas NX Zero e Fresno eram um ponto de encontro da turma. ;As pessoas se reuniam nesses eventos. O Parque da Cidade também foi um grande reduto nosso. Lá, o pessoal fumava e bebia, sempre ao som de muita música;, detalha João.
A estudante de veterinária Nathalia Oliveira, 25 anos, entrou de cabeça na cultura emo na época em que cursava a oitava série do ensino fundamental. Ela relata que foi o período em que descobriu uma ligação com as bandas que ouvia e que se sentiu muito bem-vinda e acolhida nos encontros da turma. ;Costumávamos ir ao Pátio Brasil todas as sextas-feiras ; era o ponto de encontro da galera emo em Brasília. Mas, também, gostávamos de ficar nas praças e embaixo de prédios;, conta.
Depois de maduros
Passado o furacão emo, seus adeptos tomaram outros rumos. Nathalia e Cristianne, por exemplo, pretendem se aperfeiçoar na profissão que escolheram: a medicina veterinária. E o João, além de ser professor de educação física, termina, neste semestre, o bacharelado na área.
De vez em quando, uma pontada de melancolia vem à tona. ;Levo o estilo ainda, escuto os mesmos artistas de antes e com novos estilos musicais. Os amigos daquela época me acompanham até hoje. Ser emo pra mim foi mais do que uma fase da vida, eu realmente incorporei tudo o que tinha de melhor e levo as coisas boas, principalmente as lembranças;, garante Nathalia.
João, por sua vez, mantém a filiação apenas no nível musical. ;Ter feito parte desse movimento fez com que eu me apaixonasse ainda mais por música. Eu escuto até hoje, quando estou meio chateado. Acho que isso não passa ; essa relação música/sentimento;, especula o rapaz.
Para a Cristianne Cunha, que levou adiante a estética e continua gostando das marcas registradas do movimento, há, sim, um estilo de vida envolvido. E disso, ela não abre mão.
*Estagiário sob supervisão de Gustavo T. Falleiros