Além do comportamento, são analisados três outros dados antes de finalizar qualquer diagnóstico: o primeiro é sobre o período de desenvolvimento, que se refere às emoções que o bicho experimentou na infância; o segundo, o ambiente no qual ele está inserido; e o terceiro tem a ver com a herança genética. "Muitos fatores podem afetar a saúde mental dos animais, como o abandono durante a criação e as turbulências ao longo da gestação. Às vezes, eles entram em um quadro de estresse, ansiedade e depressão por não conseguirem dar vasão a necessidades evolutivas", afirma Faraco.
Para a veterinária, cada espécie possui particularidades que devem ser respeitadas:"Cães são gregários, necessitam de interação social, porém, muitos vivem grande parte do dia isolados, gerando problemas como automutilação e dermatites." Em contrapartida, personalidades diferentes também apresentam riscos de fragilidade nas emoções. "Os gatos não são totalmente domesticados. São animais solitários, obrigados a conviver com outros animais e pessoas. Isso pode gerar muitos conflitos, pois eles precisam de muito movimento, mas, vivem confinados em espaços pequenos. Essa questão ambiental está gerando animais estressados, ansiosos e obesos", acrescenta Ceres.
Uma vez identificado algum problema, as terapias para tratar os bichinhos são personalizadas. É necessário seguir alguns protocolos durante o tratamento de animais com transtornos psíquicos: o manejo, que é a mudança de como os tutores agem com o animal; o ambiente, que é modificar o lar para melhor adequá-lo ao animal; e o terapêutico, que é intervenção farmacológica. Existem casos crônicos que devem ser acompanhados pelo resto da vida. "São usados os mesmos ativos dos seres humanos. Isso assusta muito os tutores, que enxergam com desconfiança o uso de medicação psicotrópica. Via de regra, é necessário fazer uma revisão da medicação a cada dois ou três meses. Em casos crônicos, é feita uma avaliação de seis em seis meses", esclarece a especialista, que possui formação em psicologia e na área de comportamento animal.
Luto felino
Frajola, de 11 anos, sempre viveu cercada da mais fina companhia. A gata podia contar com a presença de outra gata, a Nina, sua amiga de brincadeiras, além dos cães Simba e Nala. Pouco a pouco, os seus companheiros morreram e a gatinha passou por maus bocados. Ela começou a desenvolver uma cistite intersticial emocional, que é uma inflamação da parede da bexiga devido às perdas.
"Ano passado, a Nina teve um problema de linfoma intestinal, e os veterinários não conseguiam descobrir o que era. Ela foi passando de clínica em clínica. A Frajola acompanhou todo esse processo e, antes da Nina partir, ela apresentou uma cistite emocional. Como era um problema psicológico, começou a tomar uma medicação sedativa. Ela ficava ;chapada; e ficava o dia todo dormindo", afirma a tutora Regina Uchoa, 67 anos.
Após um período usando a medicação, a gata passou por uma desintoxicação e ganhou uma nova rotina de atividades. "Tudo vai depender do manejo com o animal. Às vezes, uma rotina de brincadeiras consegue solucionar muitos problemas de ansiedade e de estresse. É necessário criar estímulos/exercícios que consigam sanar as necessidades de cada bicho", afirma Humberto Martins, veterinário comportamental.
Depois de quase um ano de luto, Frajola, com o carinho da família, dá sinais de recuperação. "Ano que vem vamos fazer uma reforma na casa, por isso, chamamos o Humberto para fazer uma avaliação e nos guiar no modo como devemos agir com ela. Ela está alegre novamente. Não podemos ignorar todo o sofrimento físico e psicológico que os animais sofrem durante a vida, seja nas casas, nas fazendas ou nos matadouros", reflete a aposentada.
Leia a reportagem completa na edição n; 598 da Revista do Correio.