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Conheça pessoas que adotaram o estilo de vida 'faça você mesmo'

Não precisa ter medo de errar. A paciência e a insistência são amigas de quem se joga na onda do "Do It Yourself". Mais do que personalizar a casa e reaproveitar peças e objetos, o trabalho manual é terapêutico

Colocar um pouco de si dentro de casa inclui escolher os móveis, a paleta de cores das paredes, os objetos de decoração. Quando tudo isso for feito pelo próprio morador, é impossível não perceber um pouco mais de alma na decoração. Uma festa com os enfeites feitos à mão, um jantar preparado em casa, com ingredientes da própria horta. A onda do Do It Yourself, o DIY, (ou "faça você mesmo", em tradução livre) parece ter contagiado a internet e, consequentemente, as pessoas. Basta uma rápida busca para descobrir dicas, tutoriais e projetos que, à primeira vista, podem até parecer muito difíceis para a execução de quem não tem talento manual. Para perder o medo das instruções, só há um caminho: ir lá e fazer.

Colocar a mão na massa tem muitas vantagens: é terapêutico, econômico e empoderador. Pode, inclusive, ser rentável. Vanessa Navarro, uma das sócias do Pupila — Experiências Criativas, conheceu o valor do trabalho manual há quatro anos, quando se apaixonou por encadernação. Publicitária de formação, viu na habilidade uma oportunidade de mudar de profissão. Para ela, o artesanato representa um resgate de perícias há muito deixadas de lado. "Vejo muito também a questão de segurança, autoestima. É bom saber que você consegue fazer algo."

O preconceito em relação ao trabalho feito com as mãos cada dia mais torna-se parte do passado. Hoje, Vanessa Navarro conta que o artesanato está mais moderno: intervenções artísticas feitas com crochê (como se fossem grafites), bordados feministas e muitos outros exemplos tomam conta dos coletivos artísticos de galerias pelo país. Deise Lima, 44 anos, é uma das alunas mais assíduas de Vanessa. Embora as artes manuais não tenham sido parte de sua vida, nos últimos anos, ela descobriu nas aulas de arranjos florais um escape para uma veia de artista que nem sabia que tinha. "Não é só ocupar o tempo. Pode ser um caminho de expressão artística", reforça.

Antes de começar a fazer, Deise já era uma entusiasta da ideia "compre de quem faz". Valorizar o trabalho dos brasilienses, manter a economia funcionando e contribuir para a sustentabilidade são valores que ela gosta de apoiar — agora, com as próprias mãos. "Vi essa possibilidade de passar a fazer. Sou aquela pessoa que tinha medo, me autoexigia muito. Sou um pouco lenta e sempre fico por último." Mesmo com a resistência inicial, hoje Deise vê no artesanato um hobby que não pretende abandonar tão cedo. "São conhecimentos que a gente leva para a vida."

Em setembro, Marcelo Darghan, artista plástico e colaborador de mídias relacionadas a artesanato, veio a Brasília para ministrar um curso. Batizado de Momento Döhler, a iniciativa itinerante viaja pelo país com mais de 28 cursos. Segundo ele, o segredo parece óbvio, mas muita gente esquece: comece por algo que te chame atenção. "Tem que te encher os olhos, mexer com você emocionalmente", completa. Depois de escolhido o projeto, separados os materiais necessários, é preciso tomar cuidado com a armadilha do ego. O erro, segundo Darghan, é um dos melhores amigos dos artesãos. É com ele que se aprende e se exercita, ainda mais, a criatividade. "Todo mundo é capaz", reforça o professor."É importante entender o processo do projeto, sempre sabendo que é preciso fazer pelo menos 10 vezes até ficar realmente legal."

Mais que a cola quente, a tesoura e a fita crepe, um item indispensável para qualquer projeto DIY é uma boa dose de paciência. Visar o meio, não o fim, é o segredo para aproveitar todas as vantagens da filosofia "faça você mesmo". "Quem faz artesanato não pode esperar que as coisas aconteçam rápido, imediatamente. É bom sempre pensar que é pelo prazer, e não pelo comércio", analisa Marcelo Darghan.
 
Entrevista//Maria de Melo Santos

Blogueira, gestora de marcas e cerimonialista, Maria de Melo Santos gosta de inventar. Em seu livro recém-lançado Faça você Mesma — DIY/89 Ideias (Editora Leya), a autora portuguesa ensina técnicas para incentivar até os mais descrentes nas próprias habilidades manuais a saírem da inércia.

Por onde começar a fabricar ou reparar algo por conta própria?

Antes de começar, é importante ver em livros e na internet alguns exemplos e perceber se sente ter disponibilidade para você mesmo fazer esses projetos. Eu comecei assim, vendo coisas na internet e olhando algumas o que tinha em casa e que queria reutilizar. Claro que sempre tive algum gosto por fazer trabalhos manuais, e isso ajuda, mas não é preciso ser nenhum especialista para conseguir projetos lindos. O truque é ser autodidata e não ter problemas em errar e começar de novo, porque vai acontecer algumas vezes e não podemos desistir ou desanimar.

Quais as maiores dificuldades de quem começa a investir na onda DIY?

Iniciar uma vida ou um hobby de DIY não é fácil, não vou mentir. Quando olhamos para os projetos que vemos no meu livro ou mesmo na internet, é fácil pensar que rapidamente conseguiremos fazer tudo. Não é que não se consiga, até porque, ao longo do livro, vou dando dicas muito simples para ninguém perder a motivação, mas muitas vezes são projetos demorados, que exigem muita paciência e dedicação, e nem sempre o resultado fica como queremos. Por isso, é preciso repetir todo o processo. A grande dificuldade é ter motivação para conseguir fazer vários projetos e não cair na tentação de pensar que é mais fácil comprar. Na verdade, por vezes, é mais fácil, mas nunca terá o mesmo significado.

É preciso ter alguma experiência ou curso em artesanato para conseguir fazer ou consertar coisas por conta própria?

Para iniciar, não é preciso ter nenhum tipo de experiência, mas é claro que, com o desenvolver dos projetos, vamos querendo sempre fazer mais e melhor. Há alguns cursinhos de bricolagem e reparação de móveis antigos que podem ajudar a conseguir algumas técnicas que facilitam o trabalho. Alguns vídeos na internet também podem ser úteis.

Quais as principais vantagens de colocar a mão na massa?

As vantagens são muitas. Além de alguma poupança, para mim, estes projetos são quase terapêuticos, uma forma de expor a nossa criatividade, de uma forma divertida, e longe do estresse do dia a dia. Além disso, vamos compondo a nossa casa de uma forma muito pessoal, oferecendo presentes a amigos que temos a certeza que mais ninguém vai oferecer igual, passando tardes divertidas com os nossos filhos, apoiando também o seu desenvolvimento criativo. Acima de tudo, vamos passando bons momentos. No que toca à parte prática, não posso deixar de reforçar a poupança na reciclagem de materiais que, às vezes, temos em casa e que parecem lixo, mas que, com uma nova vida, ficam como novos e ainda mais bonitos.
 
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