A descoberta da Chapada dos Veadeiros continua. Primeiro foi Alto Paraíso; depois, São Jorge. Agora, é a vez de Cavalcante, distante 320km da capital e com uma pequena população, que não chega a 10 mil pessoas, a maioria vivendo na área rural. Várias serras marcam a geografia acidentada do município. Centenas de cachoeiras são o grande atrativo. No Quilombo do Engenho, fica a mais linda: Santa Bárbara, de águas azuis. É a terra dos kalungas que se esconderam durante séculos no Vão do Moleque e no Vão das Almas.
Vão é o termo geográfico para vale profundo, sertão alto, despenhadeiro no meio de tabuleiros, ensina o Dicionário Houaiss. E foi num vão chamado simplesmente Vão, sem sobrenome, que eu passei o fim de semana passado. Um Goiás profundo que ainda não tem energia nem televisão, onde não pega celular e muito menos internet. A única ligação com o mundo de fora é uma estrada de terra, que liga Cavalcante a Colinas do Sul, na Serra da Mesa.
Serras circundam em 360; o Vão. O Ribeirão Montes Claros serpenteia pelo cerrado alto de árvores e veredas. O céu limpo sem a intervenção das luzes da cidade e a lua discreta permitiram que as estrelas brilhassem como eu nunca tinha visto, ou não me lembrava. Em três noites, vi mais estrelas cadentes do que em toda a minha vida. Sem esquecer as araras, as flores rosas do pau-santo, os cajuzinhos e, claro, os espetáculos diários do Sol. O Vão é bão!