Todos os anos, Milão, na Itália, se torna a capital mundial do design. O Salão do Móvel é responsável por apresentar as novidades da área. Ocorrem ainda várias mostras paralelas. Uma delas é a Brazil S/A, que, com o tema "Brasilidade para todos", apresenta o melhor da produção verde e amarela. Este ano, o único representante de Brasília é o designer Aciole Félix, 33 anos. Ele desembarcará no Velho Mundo com quatro móveis ; a maioria dos criadores expõe apenas um.
A ida de Aciole para Milão é, na verdade, um retorno. O designer, formado na UnB, fez um mestrado de dois anos no Politécnico de Milão. De volta à capital, começou a desenhar móveis como um hobby. "Era quase uma válvula de escape. Eu trabalho para a indústria, projetei produtos que grande parte dos brasilienses já usou, como as telas que ficam na frente das baias de ônibus na rodoviária ou mobiliário de exposições no Museu Nacional. Trabalhei também para a indústria de eletrônicos, equipamentos hospitalares;", lembra-se. Em 2010, o hobby virou prioridade e Aciole foi deixando os projetos industriais para se dedicar aos móveis.
O trabalho do designer é sempre inspirado em Brasília. Se não de forma objetiva (o banco Alvorada tem inspiração clara no Palácio da Alvorada, e a mesa Hera reproduz a estrutura do Ginásio Nilson Nelson), as peças de Aciole lembram o aspecto escultural da arquitetura de Oscar Niemeyer. "Se não remetem a uma obra específica, acredito que trazem uma reflexão do que a gente vê no dia a dia da cidade. São peças muito diferentes das que circulam no eixo Rio-São Paulo justamente por ter essa visão de quem cresceu vendo as obras de Brasília", conta. Para fazê-las, o designer circula pelo DF inteiro, absorvendo o máximo de informações. Ele trabalha com uma marcenaria de Ceilândia. Já as peças de metal vêm do Núcleo Bandeirante. Mantém, ainda, fornecedores em Sobradinho.
Os móveis de Aciole foram para a Itália graças a uma parceria entre o Studio Aciole Félix e a marcenaria Unique ; Usina da Madeira com a Fibra (Federação das Indústrias do Distrito Federal), por meio do selo Indústria Brasília. "É um selo que diz que os produtos são de qualidade e genuinamente brasilienses. O Marcelo Bilac, da marcenaria, sugeriu que nós procurássemos um patrocínio, e conseguimos essa parceria com a Fibra. Ainda é muito caro expor fora do país ; é preciso incentivo e patrocínio mesmo. Fui chamado para expor em Paris em setembro, mas não temos verba para levar os produtos", conta o profissional.
Mesmo com todas as dificuldades, Aciole comemora a oportunidade de participar de um evento internacional. Ele explica que 90% dos expositores da Brazil S/A são da Região Sudeste do Brasil, e poder estar dentro desse time, como designer da capital, é um prazer. "Ainda temos uma dificuldade muito grande de fabricação de mobiliário em Brasília por não ser uma cidade industrial, e batalhamos muito para estar em Milão. É um feito muito bacana poder levar a nossa cidade pra um evento onde estão pessoas do mundo inteiro. É um prazer enorme."