Contamos hoje com diversos pequenos estudos que têm-nos mostrado a influência que a roupa pode ter na nossa mente e nosso corpo. Pode influenciar o desempenho cognitivo incluindo até as habilidades de negociação. Mexe até com os hormônios e a frequência cardíaca.
Em ambiente de laboratório, voluntários com uma roupa bacana têm melhor desempenho em testes cognitivos. Um estudo publicado em 2015 pela Social Psychological and Personality Science mostrou que os bem vestidos apresentavam um melhor pensamento abstrato, ponto cardinal para a criatividade e formulação de estratégias. Pode-se hipotetizar que esse efeito positivo da beca é decorrente de sentimento de empoderamento que ela pode promover.
Outro estudo testou o quanto a roupa era capaz de influenciar o desempenho em um jogo que avaliava a capacidade de negociação. Aqueles que se vestiam bem para os jogos iam melhor. Os que foram sorteados a ficar com uma roupa ;simplesinha; mostraram até mesmo níveis mais baixos do hormônio testosterona.
E não é que vestir um jaleco pode fazer com que uma pessoa tenha mais atenção numa tarefa? Em 2012 uma pesquisa publicada no Journal of Experimental Social Psychology apontou que pessoas que usaram jaleco numa tarefa que demandava atenção apurada cometiam duas vezes menos erros.
E em competições esportivas? Desconfia-se que a cor vermelha possa ser um fator de intimidação nos oponentes. Chegam até a propor aos cartolas que criem regulamentos para banir o vermelho dos uniformes, evitando vantagens pela cor do uniforme. Em 2013, o Journal of Sport and Exercise Psychology publicou um estudo mostrando que lutadores vestidos de vermelho ou azul não tinham resultados diferentes ao fim da luta. Entretanto, os que vestiam vermelho eram capazes de levantar mais peso antes da luta e tinham frequência cardíaca mais alta durante a luta.
Não há dúvida que as pessoas nos enxergam diferente quando estamos bem ou mal vestidos. Esses estudos sugerem que nós também nos enxergamos diferentes de acordo com a roupa que vestimos.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília e professor de pós-graduação em divulgação científica e cultural na Unicamp.