Jornal Correio Braziliense

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A Justiça de pedra-sabão

Aos pés da Torre, os turistas buscavam o souvenir mais típico da capital


A escolha geralmente recaía sobre as flores desidratadas do cerrado, mas o artesanato feito em pedra-sabão rivalizava. Eram pequenas catedrais e estátuas esculpidas de forma singela. As que reproduziam as obras de Bruno Giorgi e Alfredo Ceschiatti tinham apelo garantido. Ao menos, foi assim que a memória registrou.

Hoje, a feira não tem cara de feira e não contorna desordenadamente as pilastras da Torre de TV. As imitações d;A Justiça agora são de resina e pintadas de modo a parecer bronze. Não são bem-acabadas, mas, ainda assim, guardam uma fração do carisma da original, trabalhada a partir de um único bloco de granito de mais de 3m de altura. Está na Praça dos Três Poderes desde 1961, como que guardando o Supremo Tribunal Federal.

Só recentemente tive notícia de que existem miniaturas ;autorizadas; da estátua. Ceschiatti assinou uma tiragem de 200 cópias feitas pela Fundição Zani. De vez em quando, aparecem em leilões de arte e custam caro. Outra novidade, ao menos para mim, é que a criação do artista ítalo-mineiro é vista com desconfiança por diversos juristas. Eles deploram o fato de que a Justiça está sentada e que, portanto, transmite a sensação de apatia.

Como Ceschiatti já se foi, temos de buscar na própria obra os símbolos que confirmam ou não essa tese. Pois a professora de filosofia do direito Gisele Mascarelli Salgado fez exatamente isso. O primeiro fato relevante apontado por ela é que são raríssimas as representações sentadas da Justiça. As deusas gregas Diké e Themis jamais descansam.

Em favor da acusada, podemos argumentar que um de seus pés está avançado em relação ao outro, o que sugere prontidão para se reerguer. Data venia, outro ponto positivo é que a imagem candanga exibe os seios nus, o que a humaniza. Ela está vendada e carrega uma espada (a força da lei) no colo, mas nenhuma balança (a ponderação), o que é grave, muito grave. Quer saber qual foi o veredicto da professora Gisele? Leia aqui: migre.me/seGfV.