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Afasta de mim esta carne

Para algumas pessoas, um suculento bife simplesmente "não desce". Elas podem, sim, abrir mão do alimento, mas não dos nutrientes associados à dieta carnívora

O prato clássico do brasileiro não dispensa arroz, feijão, salada e carne. Mas nem todo mundo é chegado em bife: para as pessoas que não gostam do sabor da carne, cada refeição precisa ser pensada ; e equilibrada ; com cuidado. Tatiana Matsunaga, 28 anos, é um bom exemplo de que é preciso unir informação e criatividade no caminho para uma vida sem frango, carne vermelha ou peixe. Nas refeições da família, a proteína animal nunca foi a estrela. O pouco contato na infância e na adolescência fez com que a carne perdesse a graça para Tatiana na vida adulta. ;A questão da gordura, do sangue; Nunca fui muito fã disso.;

As aulas de biologia da escola fizeram com que a já reduzida vontade de comer carne desaparecesse por completo. Saber como funcionam os matadouros foi o estopim para a vida vegetariana, iniciada aos 17 anos. O desempenho físico foi o primeiro sinal de que algo estava errado. Ativa e fã de exercícios, Tatiana não conseguia correr e praticar musculação da mesma forma que antes. Ela, que chegou a ter apenas 14% de gordura no corpo todo, engordou 7kg após cortar a carne do cardápio. ;Comecei a ter muita celulite, meu cansaço era enorme;, descreve. Sem saber muito bem como preparar as refeições, ela abusava do sal e ingeria muitos carboidratos.

Durante uma viagem ao Chile e à Bolívia, o sinal amarelo acendeu. A baixa altitude, a mochila pesada e a falta de vitaminas a fizeram desmaiar. ;Tudo lá é feito com carne, então tinha muita dificuldade de encontrar o que comer;, relembra Tatiana. O nutricionista matou a charada: ela estava com deficiência de vitaminas. Hoje, até come peixe, mas confessa que precisa se desdobrar para mascarar o gosto. ;Tive que aprender a cozinhar, porque ninguém da minha família é vegetariano.; Apesar das piadinhas ; ;Mas você só come mato?; ; e da dificuldade em encontrar o que comer na rua, Tatiana não poderia estar mais feliz. ;Minha digestão é mais rápida e estou sempre animada. Comer carne me incomoda.;

Assim como Tatiana, muitas pessoas optam por refeições constituídas apenas por vegetais. Os motivos são os mais diversos: paladar, ideologia e até genética. O nutrólogo Macos Sandoval explica que tirar a carne do prato não representa risco à saúde, desde que a dieta inclua todos os nutrientes que o corpo precisa para funcionar corretamente. A carne, especialmente a vermelha, é o maior repositor de zinco, vitamina B12 e ferro, que são elementos essenciais para a manutenção da saúde, para o metabolismo e para o fornecimento de energia. ;Obter zinco, vitamina B12 e ferro apenas com vegetais é complicado, porque são de pouca biodisponibilidade;, detalha. Em outras palavras: legumes e verduras até têm as vitaminas necessárias, mas, como também têm muitas fibras, a absorção dos nutrientes é limitada.

Para as mulheres, a falta de carne ; consequentemente, de ferro ; é ainda mais perigosa. Durante o período menstrual, há maior perda do elemento. Como consequências, Macos Sandoval cita anemia, cansaço, fraqueza, falta de ânimo e dor nas pernas. O que fazer, então? Uma estratégia, segundo o médico, pode ser comer pelo menos três leguminosas diferentes por dia. ;A soja, por exemplo, é quase a carne vegetal, mas não tem todos os aminoácidos necessários.; O mesmo vale para o feijão, a lentilha, o grão-de-bico e por aí vai: três tipos somados podem ser suficientes para suprir a quantidade de vitaminas necessárias. ;Mas só um especialista vai poder esquematizar uma dieta com as quantidades adequadas;, reforça.

O nutricionista Clayton Camargos dá mais uma dica: uma opção para quem não come carne de jeito nenhum é abusar de outras fontes de proteína animal, como ovos, leite e derivados. Caso o alimento rejeitado seja apenas carne vermelha (mas a pessoa consome frango e peixe), não há o que se preocupar, já que a harmonia da oferta nutricional estará, teoricamente, garantida. ;Uma dieta equilibrada em uma estrutura que consiga oferecer os requerimentos nutricionais essenciais para o organismo não depende exclusivamente do consumo desse alimento;, frisa. ;No caso de restrição total do consumo de qualquer tipo de proteína animal, deve-se atentar para uma estrutura mais diversa na rotina alimentar, priorizando a oferta de proteínas vegetais que possam dar apoio às demandas do organismo.;

Do ponto de vista nutricional, parar de comer carne pode até ser uma boa ideia. ;Sobretudo do ponto de vista científico, o que se tem registrado é que o consumo de proteína animal, especialmente bovina, precisa ser feito com parcimônia para evitar associação com doenças, como gota, hipertensão arterial ou até mesmo alguns tipos de cânceres;, completa Clayton Camargos. Como tudo na vida, a moderação é a regra de ouro. ;Quadros de anemia em razão de carência micronutricional podem ser resolvidos com uma dieta equilibrada. Por isso, é fundamental buscar supervisão de um nutricionista para avaliar a história clínico-nutricional e promover um planejamento alimentar ajustado às necessidades de cada indivíduo.;




Aversão genética

* Um estudo de 2002 feito pela Universidade Norueguesa de Ciências da Vida apontou o gene OR7D4 como ;culpado; pelo asco ao bife. Segundo o trabalho, publicado no periódico Plos One, pessoas com duas cópias do gene são mais sensíveis a um hormônio presente em porcos machos. O cheiro do hormônio, para os detentores do OR7D4 duplo, foi comparado ao odor de suor ou de urina.