* Por Ricardo Teixeira
Pais superestimam a felicidade dos filhos quando eles têm entre 10 e 11 anos. Por outro lado, eles subestimam a felicidade quando eles chegam à idade de 15 a 16 anos. Esses são os achados de um estudo publicado recentemente no periódico especializado Journal of Experimental Child Psychology.
Os resultados sugerem que a percepção dos pais do quanto os filhos se sentem felizes tem um viés egocêntrico, ou seja, essa avaliação é baseada nos seus próprios sentimentos em relação à família. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores aplicaram escalas que medem o bem-estar mental das crianças e também o dos pais.
Além de saúde, o que os pais mais desejam aos filhos é que eles sejam bons, felizes e com boas relações de amizade. A relação entre bondade, amizade e felicidade tem sido descrita como de reciprocidade. Pessoas mais felizes têm maior tendência a apresentar comportamentos prossociais e também a ter um bom círculo de amizades. Crianças com boa aceitação pelos amigos, por sua vez, também são mais cooperativas e equilibradas emocionalmente. Além disso, pessoas mais felizes têm mais ferramentas para fazer o bem aos outros, atitude que também promove o bem-estar.
Sonja Lyubomirsky, uma das maiores autoridades em pesquisas sobre felicidade, participou de um estudo experimental muito interessante que aponta que crianças que exercitam a gentileza passam a se sentir mais felizes e também a serem mais populares com seus coleguinhas.
Quatrocentas crianças canadenses com idades entre 9 e 11 anos foram estudadas em dois diferentes grupos. Metade delas foi orientada a fazer três ações de gentileza por semana, por exemplo, dividir o lanche com um amigo ou dar um abraço na mãe ao sentir que ela está estressada. A outra metade tinha a tarefa de visitar três lugares diferentes por semana, por exemplo, o parquinho e a casa dos avós.
Após quatro semanas, as crianças sentiram-se mais felizes e passaram a ser mais populares, mas esses efeitos foram maiores entre aquelas que cumpriram as tarefas de gentileza. Escalas de felicidade e bem-estar foram aplicadas e a popularidade foi medida pelo número de coleguinhas que escolhiam a criança como potencial parceiro para um trabalhinho escolar.
A conclusão é fácil, não é? As escolas poderim incluir na lista de deveres de casa tarefas prossociais. O efeito é positivo mesmo para aqueles que não fizerem a tarefa, menos bullying etc.
* Dr. Ricardo Teixeira é neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília e professor da pós-graduação em divulgação científica e cultural da Unicamp. Escreve às segundas neste espaço.