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A arte de Espedito Seleiro

Em Nova Olinda, no Sertão do Cariri (CE), existe uma lenda viva. O nome dele é Espedito Seleiro. Placas indicativas levam à Rua Monsenhor Alencar, n° 190, onde o mestre do couro está sentado na porta de casa, brincando com a netinha. A simplicidade do estilista não condiz com sua fama %u2014 ele já esteve na São Paulo Fashion Week, e suas peças foram usadas por estrelas de cinema, graças ao diretor Guel Arraes. Espedito acorda às 4h para ficar desenhando. Aproveita enquanto o telefone não toca, os turistas não chegam, os vizinhos não vêm puxar prosa. Ele diz que suas inspirações são "aciganadas e acangaçadas" e explica que sempre ficava encantado com os ciganos e com os cangaçeiros. Seu pai era seleiro e, numa ocasião, se esmerou para fazer sandálias sob encomenda para o próprio Lampião (nem cobrou por elas). A história animou Ronaldo Fraga, fã de Espedito, a criar a coleção "Carne seca ou um turista aprendiz em terra áspera", que desfilou, inclusive, em Londres. Sandálias, bolsas e carteiras vêm se tornando objetos do desejo de muitos fashionistas. O Iu-á Hotel, o mais chique da região do Cariri, que fica na cidade de Juazeiro, projetado pela famosa Roberta Borsoi, faz questão de ostentar cadeiras e gibões de Espedito logo na entrada. Na mesma rua onde o artesão mora, está sendo terminado o Museu do Couro, que abriga as peças mais bonitas dele e do pai. O mestre não gosta de contar vantagem, mas não tem dúvida: o melhor lugar do mundo é o Cariri.