O corpo feminino exibe formas que possibilitam a geração de uma nova vida. Em princípio, ele está perfeitamente preparado para tal finalidade. Tarefa intransferível, com prazo de validade, e que exige do organismo um esforço adicional. Gestar um bebê sobrecarrega o coração, diminui a imunidade, aumenta o fluxo sanguíneo e o trabalho de alguns órgãos vitais. Demandas que, por vezes, complicam estados de saúde mais vulneráveis e transformam o processo natural de engravidar em um delicado procedimento, com consequências diversas para a genitora.
São mulheres com o organismo mais fragilizado, resultado de alguma patologia crônica, que pede preparação e cuidados especiais para que a gravidez seja possível. Elas precisam trocar previamente a medicação que lhes garante a própria saúde, sem colocar em risco a vida dela ou a do bebê que planejam. São mulheres que passam meses sobre uma cama, quase imóveis, já que os movimentos corriqueiros podem ser fatais à criança em formação. Futuras mães que sentem dor durante boa parte da gestação; que correm riscos ainda maiores durante o parto, mas nem por isso desistem dessa tarefa exclusivamente feminina.
Por definição, gravidez de risco é aquela que indica maior probabilidade de ocorrer algum percalço ao longo dos nove meses. O termo "risco", por si só, assusta quem faz parte de tal categoria. É tão somente uma questâo de semântica, garantem os médicos ; a interpretação não precisa ser fatalista. Devemos entender como um sinal de alerta, uma precaução para garantir um final feliz.
"Na verdade, não existe nenhuma gravidez sem risco. O fato é que cerca de 10% a 15% das mulheres apresentam alguma condição que aumenta esse risco habitual, seja porque são obesas, têm hipertensão, são portadoras de doenças crônicas ou autoimunes, são diabéticas ou pacientes de câncer. Com acompanhamento, a chance maior é que dê tudo certo", tranquiliza o obstetra Alberto Zaconeta, especialista em gravidez de risco e professor do Hospital Universitário de Brasila (HUB/UnB). Para isso, no entanto, é preciso orientação adequada. "A única patologia que impede a gravidez é a infertilidade", acrescenta Zaconeta.
Entre os fatores que mais apresentam chance de complicar uma gestação, destacam-se o diabetes e a hipertensão. No primeiro caso, a descompensação da glicemia, que naturalmente é aumentada durante a gravidez, sobrecarrega ainda mais os rins e o coração. Além disso, a hiperglicemia é um potente teratogênico (fator de má-formação em fetos), já que interfere na multiplicação das células.
O coração é muito exigido na tarefa de gerar outra vida, tendo um pico de trabalho entre a 24; e a 28; semana, etapa em que o acompanhamento deve ser mais rigoroso, como orienta o cardiologista Lázaro Miranda, coordenador da cardiologia do Hospital Santa Lúcia. Nos três últimos meses da gestação, a pressão arterial aumenta em decorrência do maior volume de plasma. Por isso, mamães hipertensas estão predispostas ao um quadro de pressão excessiva, o que pode desencadear a chamada eclâmpsia. Em sua manifestação aguda, o desequilíbrio pode ocasionar edemas pulmonares, convulsões, AVCs, hipertensão crônica e até levar a óbito. Para a criança, também há inúmeros prejuízos quando a pressão da mãe está descontrolada. Ela pode nascer antes da hora, abaixo do peso, ou ter uma hipovascularização, que compromete o desenvolvimento cognitivo.
Prejuízos que devem ser visto como hipóteses e não uma certeza por essas mães. "O desejo reprodutivo é inerente à vida e não é uma doença que vai impedir essa mulher de ter filhos", considera a ginecologista Lauriene de Sousa Pereira, médica do Hospital Anchieta e especialista em reprodução assistida. "Hoje temos conhecimento melhor das medicações que causam má formação em bebês. Além disso, temos uma série de exames laboratoriais e de imagem que permitem observar o desenvolvimento da criança e o estado de saúde da mãe. A maior complicação é a falta de acompanhamento", acrescenta a médica.
Leia a reportagem completa na edição n; 454 da Revista do Correio.