Rotweiller, cocker spaniel, poodle, boxer, labrador. Praticamente todos conhecem essas raças de cães, muito comuns em todas as partes do mundo. Porém, não foi sempre assim. As "raças" de cães foram criadas a partir da interferência dos humanos e, sem essa intervenção, eles seriam todos mestiços.
As pessoas identificavam características específicas em uma família de cães, e desejando mantê-las, cruzavam indivíduos da mesma família. Simplificando, essa foi a forma que as raças se desenvolveram até o estágio que conhecemos hoje. O problema é que esse cruzamento de indivíduos da mesma família, com alta taxa de consanguinidade, causa diversas alterações genéticas que podem prejudicar bastante a vida do animal de raça.
Segundo o veterinário Kleber Felizola, essas alterações genéticas desencadeiam mutações fisiológicas que, em alguns casos, resultam em anomalias de ossos, membros ou órgãos, com grande prejuízo para o animal. Além disso, as mutações podem causar problemas como sarna demodésica, cardiopatias ou até crises epiléticas.
O veterinário Luiz Carlos Albuquerque informa que cada raça carrega problemas em potencial, característicos da sua linhagem. Segundo ele, raças pequenas, como pincher e poodle, têm tendência a ter crises epiléticas, além de má-formação da dentição. Já cães como o pastor alemão e o rotweiller têm grande probabilidade de desenvolver displasia coxofemoral (encaixe falho entre a fêmur e a bacia). O boxer costuma desenvolver câncer, enquanto o shar-pei é vítima de problemas nos rins e no fígado.
Outro exemplo bem conhecido de raça com pré-disposição a mutações genéticas é o buldogue inglês. Cães da raça tendem a apresentar criptorquidia ou monorquidia (quando o testículo não desce para o saco escrotal e a ausência de um dos testículos, respectivamente) e problemas cardíacos e respiratórios. Uma consequência dessa fragilidade física é o fato de eles serem incapazes de se reproduzir sem intervenção humana, ou seja, inseminação artificial. Segundo Kleber, outra grande limitação que acomete boa parte dos indivíduos dessa raça é a hipersensibilidade ao calor.
A psicanalista Thais Souza percebeu a fragilidade genética dos buldogues da pior forma possível. Seu primeiro exemplar foi Athena, que, de tão bonita, acabou sendo campeã em algumas exposições em Brasília. Em certa ocasião, a dona levou a mascote e a filhotinha dela, a Ennya (fruto de uma inseminação artificial), para um banho no pet shop. Thais pediu que o estabelecimento levasse as cadelas para casa após o banho, o que seria em torno de meio dia. "Quando deu a hora e elas não tinham chegado, já desconfiei. Eles costumavam ser bem pontuais", diz Thais. Horas depois, finalmente veio a notícia. "Eles me ligaram e disseram para eu ir ao pet shop. Ao chegar lá, Athena estava morta, já sem pulsação. Apesar disso, quando coloquei a mão nela, senti sua temperatura altíssima. Devia estar quase uns 50;C", conta a psicanalista. Para ela, o pet shop disse somente que Athena passou mal - provavelmente do coração - quando estava no carro a caminho de casa, e não houve tempo hábil para tratá-la.
Leia a reportagem completa na edição n; 450 da Revista do Correio.