A preservação do meio ambiente para a garantia de sobrevivência no planeta ganha novos contornos na primeira década do século. Há mais informação disponível; a mídia abriu novos espaços para a cobertura do tema; o ativismo ganhou força com as redes sociais. Paradoxalmente, o crescimento econômico a qualquer custo e, consequentemente, o maior poder aquisitivo da população respondem por uma cadeia vertiginosa de consumo. Em suma: mais indústrias, mais produtos, mais carros, mais lixo e por aí vai. Algozes e, ao mesmo tempo, reféns nesse cenário em desequilíbrio, colhemos resultados preocupantes. E todos eles se refletem no meio ambiente. Segundo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), apresentado em julho passado, o período entre 2001 e 2010 foi o mais quente da história e também o mais chuvoso. O levantamento destacou extremos do clima, como enchentes e secas, que ocorreram na última década de uma forma sem precedentes. A OMM também apontou que a temperatura média global nesse período foi de 14,47;C: a mais quente desde 1850. E esse é apenas um entre inúmeros levantamentos que atestam o quanto ainda é preciso ser feito para que a consciência ambiental deságue em uma sociedade e em uma economia sustentáveis. Para refletirmos sobre o assunto, a última reportagem da série ;Nosso Tempo; entrevista especialistas que apontaram avanços e retrocessos em quatro temas recorrentes na última década: Código Florestal, consumo consciente, teste em animais e ativismo ambiental. Sem pretensões de que o assunto ; tão vasto e complexo ; encerre-se aqui, esperamos concluir esta série de matérias com a certeza de que instigamos nossos leitores a buscar novos pontos de vista sobre os grandes temas do presente.
Testes em animais
O teste em animais divide opiniões e segue como um assunto delicado nesta última década. Também foram publicados novos estudos sobre a consciência de dor no cerébro animal, tema investigado por um grupo de renomados neurocientistas, que endossaram o discurso de ativistas defensores dos direitos dos animais. Doutores de instituições como Caltech, MIT e Instituto Max Planck publicaram um manifesto em julho de 2012, em Cambridge, que coloca em xeque o uso de roedores, mamíferos e outras espécies em laboratórios.
Nesse grupo, encontra-se Philip Low ; criador do iBrain, aparelho leitor de ondas cerebrais ;, que apontou um dado alarmante: 100 milhões de vertebrados são sacrificados anualmente em experimentos científicos. Desse total, aproveita-se apenas 6% do material analisado em testes com humanos. Tendo em vista essa e outras pesquisas, a ciência se divide entre aqueles que acreditam ser de grande importância o teste em animais para que remédios e cosméticos possam ser usados por humanos, e aqueles que rechaçam essa necessidade.
Para o mestre em ciências pela Universidade de São Paulo (USP) Carlos Rosolen, ao saber que os testes em animais são dispensáveis, a sociedade começou a refletir sobre o assunto e a comprar com maior consciência produtos higiênicos, cosméticos e farmacológicos. Diretor-geral do Projeto Esperança Animal (PEA) ; entidade que atua para a proteção dos direitos animais desde 2003 ;, Carlos vê como um avanço esse questionamento. Ele também avalia com otimismo ações como a promovida por ativistas que invadiram o Instituto Royal, em São Roque (SP), em outubro passado, a fim de salvar 178 beagles de maus-tratos.
;Discordamos da depredação de patrimônio alheio, mas estamos comemorando a revelação de um instituto em situação irregular, financiado pelo governo e sem qualquer fiscalização. Casos como esse nos mostram o quanto é fácil conseguir dinheiro público com o argumento de que o teste de medicamentos em animais poderia promover a cura do câncer;, alerta. O especialista aponta ainda que há lacunas na regulação do tema que confundem a opinião pública.
;O ambiente de testes em animais é muito ruim, nunca deveria ter existido, é antiético. Mas, já que ele existe, e partindo dessa triste realidade, acredito que os últimos 10 anos foram positivos, porque vemos o cerco se fechando. Em breve, vou ver o Brasil abolir os testes em animais por acreditar que eles não são viáveis;, acredita Carlos Rosolen.
Livres de crueldade
A seguir, algumas empresas nacionais que não fazem teste em animais. A lista completa está na página www.pea.org.br
; Adcos (cosméticos)
; Afro Nature (cosméticos)
; Água de Cheiro (cosméticos)
; Bioderm (cosméticos)
; Bio Extratus (cosméticos)
; Contém 1g (cosméticos)
; Davene (cosméticos)
; Éh Cosméticos (cosméticos)
; Embelleze (cosméticos)
; Granado (cosméticos, bebês, pets)
; Jequiti (cosméticos)
; Leite de Rosas (cosméticos)
; Mahogany (cosméticos)
; Natura (cosméticos)
; O Boticário (cosméticos)
; Ypê (produtos de limpeza)
; Weleda do Brasil (cosméticos)
Leia a reportagem completa na edição n; 447 da Revista do Correio.