No seu último desfile verão 2013/2014, durante a SPFW, foi aplaudido de pé. Nenhuma modelo entrou na passarela. Marionetes com as feições idênticas às das tops Gisele Bündchen, Linda Evangelista, Naomi Campbell, Carol Trentini, por exemplo, vestiram cópias em miniatura dos vestidos da estação. Um espetáculo que emocionou a plateia, os críticos da moda e agora pode ser visto por quem não estava lá. As delicadas bonecas que vestiram, impecavelmente, a coleção de O maravilhoso mundo do Dr. F virou exposição e chega a Brasília. Em passagem pela cidade, Fause conversou com a Revista do Correio e garante: no próximo desfile, em outubro, haverá mais surpresas na passarela.
Você nunca apresenta seus desfiles no molde convencional. Por quê?
Gosto de procurar novas formas de mostrar meu trabalho e um pouco do imaginário da minha marca. Quero despertar o desejo daquela cliente, quero especialmente que aquelas pessoas tenham uma experiência na sala do meu desfile. Isso significa uma emoção, que pode ser positiva ou não. E tem várias formas de fazer isso para tentar despertar alguma sensação. Uso o desfile como uma forma de expressão, como exercício criativo e como uma vontade de vender sonhos. Cada dia mais estou levando meu trabalho para esse lugar do sonho, de um lugar ideal de escapismo. Acho que é isso. É tentar dizer para a mulher que sou uma pessoa que está aqui próxima e que posso criar uma roupa de sonhos para ela.
E quem é a mulher que veste Fause?
Tenho uma legião de clientes muito fiéis e muito apaixonadas pelo meu trabalho, que gostam de exuberância. É porque eu tenho uma mão forte, quando é cor é cor, quando é brilho é brilho, e eu gosto disso. Meus acessórios são pesados. Apesar da estrutura e da textura da minha roupa, sempre gosto de valorizar cintura e busto. Sempre escuto elas falarem: "Nossa, Fause, sua roupa, por mais estranha que seja, valoriza o corpo, a gente fica bonita". Tem famílias em que visto a avó, a mãe e a neta.
E quanto vale uma peça assinada por você?
Há vestidos de R$ 1 mil a R$ 12 mil.
E como se diferenciar no mercado invadido pelo fast fashion e pelas marcas internacionais?
Tenho direcionado minha coleção para um trabalho muito artesanal. Com essa onda da roupa importada, em vez de buscar tecnologia, cada dia mais trabalho com o mesmo tecido e faço ele virar um outro que ninguém tenha, só eu. Todas as roupas desse último desfile, por exemplo, foram feitas de pedacinhos e pedacinhos de tecidos, que iam se somando e fazendo a peça.
E você é otimista quanto ao futuro na moda no Brasil?
Da mesma forma que, entre 2000 e 2004, a bola da vez eram os estilistas brasileiros e todo mundo queria a nossa roupa, hoje não é mais a nossa hora. Agora, é a vez das marcas internacionais. O mercado todo está deslumbrado com a entrada delas no país. Tem a questão do fast fashion, que também é relevante. Então, me pergunto: que lugar sobrou para mim nesse mercado? É o da roupa muito especial. Em primeiro lugar, o Fause é uma pessoa que mora no Brasil e está acessível , ninguém vai conversar com o Domenico ou com o Stefano, da Dolce & Gabbana, mas pode conversar com o Fause e até se encontrar com ele. Depois, fazer uma roupa que não existe em nenhum lugar do mundo, só o Fause faz. Também posso garantir uma exclusividade que nenhuma marca internacional pode. Cada dia chega na minha loja mais notícias de que a pessoa foi a um casamento e tinha três vestidos da Gucci iguais. Claro, uma comprou na Gucci de Nova York, a outra comprou aqui;
E como o estilista pode sobreviver a isso?
Quando você lança alguma novidade, todas as clientes querem, todas elas brigam. Mas passam duas ou três coleções e elas não querem mais. Por isso, além de estilista, você tem que ser um empresário inteligente para inventar coisas para ser um grande sucesso e aquela cliente voltar a comprar a sua marca. Eu já superei esses altos e baixos. Nos anos 2000, quando eu fazia estampas, todo mundo queria minhas estampas, mas eu vou mudando. Uma época sou todo estampado, depois sou todo escuro. Aí, aquelas que gostavam de cor desaparecem e vêm outras e a coisa vai se renovando. Hoje, eu entendendo o que está acontecendo do mercado, crio só roupa especial, que é quase uma joia, que fica quatro, cinco dias na máquina para sair. A cliente olha e diz: "Vou comprar esse vestido e sei que em qualquer lugar do mundo serei exclusiva". Quando o mercado começar a copiar minha roupa de pedacinhos e de viés, invento outra.
Você já declarou que falta novidade na moda brasileira;
Acho que tem muita criatividade, o que acontece é que as pessoas estão com medo de correr riscos. Isso em função do mercado, das vendas. Você tem que ser comercial, agradar à editora de moda; Decretei uma liberdade, uma independência e não acho que tenha que fazer nada que não queira. É disso que eu sinto falta. Cadê os chifres do Alexandre (o Herchcovitch)? Eu quero voltar a ver uma coisa na passarela que me deixe completamente fascinado, como acontecia lá atrás. Então, cadê essas pessoas? Todos dizem: "Nossa, o Pedro (Lourenço) é um talento" Tá, ele é um talento, mas ele tem a fábrica da mãe (a estilista Gloria Coelho), o expertise de costura e de estrutura industrial dela. Aí, a mãe faz um paletó branco e ele faz o branco com preto. Mas onde aquilo é algo que emociona, algo que nunca vi na vida? É isso que acho que está faltando, mas não só aqui no Brasil. É no mundo todo.
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