postado em 25/08/2013 08:00
Um ícone musical não sobrevive apenas de música. Ao montar seu estilo, é preciso uma preocupação com a estética visual a ser passada no momento em que se sobe ao palco. Nessa seara, homens e mulheres (quase) esquecem o sexismo: os dois gêneros sabem da importância de construir uma identidade condizente com o som que apresentam, inclusive com as roupas. Gaivota, vocalista da banda Rios Voadores, conta que essa atenção se tornou mais evidente nos últimos meses, mas ainda não tomou conta de todos os integrantes do grupo."Há os meninos que têm essa preocupação, vão às lojas e compram imaginando que a peça será legal para o figurino. Mas há outros sem a menor noção disso. Fica engraçado: a metade arrumada e a outra numa esculhambação só", brinca. Gaivota é ilustradora e usa esse talento, inclusive, na hora de compor. Assim, entende a imagem como um fator decisivo para que o público crie empatia com o artista, e tenta passar isso para o restante do grupo. "Imagina, alguém apresentar um som grunge vestido de bailarina? Mesmo que seja demais, você não conecta."
Esse cuidado perpassa todos os estilos musicais. Ana Reis é sambista, adora uma calça jeans no dia a dia, mas não espere encontrá-la com a peça no palco. Ao soltar a voz, escolhe sempre vestidos confortáveis, que a permitam dançar. "Quando comecei, não pensava muito no que vestiria. Mas sabia que era preciso me arrumar. Até foi bom porque fiquei mais vaidosa. Antes, era mais largadona. Tudo foi amadurecendo junto, inclusive a presença de palco e a estética que pus nele."
Ela foi ouvindo outras cantoras, bem como suas professoras, que a apresentavam não só às grandes divas do samba, mas ao guarda-roupa delas. "É comum, no samba, as pessoas se arrumarem. No palco, o vestido longo, principalmente, dá uma imagem melhor. Não foi por isso que comecei a usá-los, mas o estilo me fez comprar muitos. Eles acabam sendo uma identificação minha, dentro do que canto." A montagem do figurino começa no momento em que elas sabem onde vão cantar. A iluminação pode tanto empoderar como destruir uma produção.
"Raramente, nos apresentamos em teatros. Mas, neles, é preciso se preocupar com a roupa da mesma forma como fico atenta ao repertório, à maquiagem e aos sapatos. Sem falar que o teatro traz um aspecto mais lúdico, no qual as pessoas se envolvem melhor e o figurino tende a fazer toda a diferença", explica Ana Reis. O momento também é decisivo, porque é fato que a roupa reflete o humor. A cantora brasiliense Anabelle explica que, ao se vestir com algo que escolheu com calma, o artista vai se sentir mais à vontade para desenvolver seu trabalho de forma segura.
"Não adianta também colocar um casquete exagerado à la Carmem Miranda e depois cantar baixinho", brinca. Para ela, os shows são como instalações artísticas. Assim, ela quer oferecer ao público experiências visuais e sensoriais. "Criar um diálogo entre roupa, iluminação, cenário e música para causar alguma emoção ou passar uma ideia. Valorizo tanto que, às vezes, crio e costuro roupas especialmente para as apresentações."
Como ocorre no controle da voz, a artista vai, com o tempo, transformando seu modo de vestir para acompanhar o amadurecimento. Bianca Jhordão, da banda Leela, começou a carreira com roupas mais adolescentes, muitas minissaias, tons de voz mais agudos e presença de palco explosiva. "Atualmente, canto em tons mais graves, figurino mais 80;s, me sinto mais mulher depois da gravidez. E a presença de palco está mais dançante-cool e menos pulação."
O conforto não pode ser esquecido. Gaivota confessa: ao subir no palco, solta um dragão que tem dentro de si e, se a roupa não acompanhar o compasso, atrapalha a performance. "Eu vendo teatro. Quando subo no palco, entro em um estado performático, que envolve tudo. É um posicionamento que acaba me trazendo algo com dança, sensações corporais diferentes. Nele, todas as minhas características se potencializam."
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