Jornal Correio Braziliense

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A ginástica da mamãe

Uma praticante de stroller strides compartilha sua experiência e nos conta por que a atividade física com os bebês pode render muito mais do que boa forma

Por Fabiana Santos, especial para a Revista do Correio


Washington DC (EUA) ; É manhã de uma segunda-feira e tenho uma aula de ginástica pela frente. Mas eu não vou sozinha para uma academia ou estou esperando um personal trainer. Além da roupa apropriada, garrafa de água e disposição, dois "detalhes" não podem ser esquecidos: o carrinho de bebê e a minha filha, agora com 2 anos. O nosso destino é um shopping center, no horário em que ele não abriu ainda, na região metropolitana de Washington. E a nossa "turma" é um grupo de mães, todas acompanhadas dos filhos e seus carrinhos de bebê.

Stroller strides ("passos de carrinho", em tradução livre) é um programa que funciona em várias partes dos Estados Unidos de uma maneira peculiar e divertida. A primeira condição é ter um filho em idade para usar carrinho de bebê. Às vezes, até mais de um filho. Como é o caso da minha amiga Ewa (mãe de Amélia, 3 anos, e Natália, 1). E quem sabe até três crianças? Caso de outra amiga, Sarah, mãe de três meninas, sendo a mais nova de 2 meses (já imaginaram que heroína?).

A outra diferença dessa "academia" é não ter um espaço físico convencional. A ginástica de mães com bebês pode ocorrer num parque público local; na calçada das ruas comerciais no centro de Silver Spring, Maryland; no Sawgrass (maior outlet de Miami) antes do horário comercial.

O preço é bem convidativo: 55 dólares por mês para quem se torna membro do programa, com direito a fazer quantas aulas quiser por semana, inclusive aos sábados. Ninguém se preocupa muito com o visual, porque a turma não está indo paquerar ninguém. O flerte aqui é com os filhos. E ninguém compete com ninguém, a não ser consigo mesmo. Ou porque a última gravidez deixou indesejados culotes, ou porque o peso não é o mesmo do tempo de solteira, ou porque é muito bom malhar ao lado de gente da mesma tribo: mães que não têm onde deixar as crianças e querem cuidar do corpo, além de fazer amizades.

As aulas têm uma professora (que também leva seu pimpolho). A corrida é sempre feita empurrando o carro do bebê. O carrinho continua por perto em todas as outras atividades, às vezes, servindo de apoio. Como regra, as crianças ficam nele até a aula acabar. O que mais intriga quem não conhece o programa é desvendar como conseguimos manter as crianças "presas" durante uma hora. É fato que nem sempre elas ficam quietinhas e é aí que está o segredo: nenhuma colega fica de cara feia porque o filho da outra está chorando.

É engraçada a corrente de ajuda na hora do aperto: a mãe que está mais perto devolve o brinquedinho que caiu, a professora dá uma mãozinha oferecendo a mamadeira para o bebê esfomeado. Também temos os nossos truques: cantamos várias canções infantis ao longo dos exercícios de agachamento, flexão, resistência, perna, braço ou cintura. As musiquinhas funcionam como verdadeiros mantras: as crianças cantam também e ficam mais calmas. Outro truque infalível (que eu sempre aplico) é levar fruta, biscoito e suco. Qualquer lanchinho funciona para entreter os pequenos, bem como os brinquedos favoritos.

A aula vai além de suar a camisa: trocamos experiências, conselhos, angústias, telefones de pediatra e até receitas de bolo. Viramos melhores amigas e vamos juntas a piqueniques, passeios no parque e festas de aniversários. Desde novinhos (há mães no meu grupo com bebês de poucas semanas), eles começam a ver como é bom ter uma mãe ativa e tomam gosto por exercícios físicos. É sensacional perceber a minha filha acompanhando os detalhes de cada movimento. Em casa, eu dou boas risadas quando ela faz questão de mostrar o que assimilou. "É a ginástica da mamãe", diz a minha pequena aprendiz.