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Sem modismo

Precursoras em blogs de moda, Cris Guerra, do Hoje vou assim, e Cris Zanetti e Fê Resende, do Oficina de Estilo, lançam livros para ajudar aqueles que querem conhecer o próprio estilo

Elas rechaçam as modinhas passageiras, defendem ao autoconhecimento na hora de se vestir e acham que moda tem tudo a ver com autoestima. Famosas na internet por seus blogs, Cris Zanetti e Fê Resende, do Oficina de Estlio, e Cris Guerra, do Hoje vou assim, acabam de colocar em livros toda a experiência adquirida nos últimos anos nesse contato direto com as internautas. Negam que se tratam de guias ou manuais de moda. Preferem dar o caminho das pedras para que cada um encontre o seu próprio estilo. Confira o bate-papo que a Revista teve com as duas Cris, a Zanetti e a Guerra.

Ponto a ponto com Cris Guerra
Tudo começou com uma brincadeira. A publicitária Cris Guerra decidiu, um dia, a caminho do trabalho, fotografar a roupa que usava, pois, depois de um longo período de turbulência na vida pessoal, finalmente, estava se sentido bem. Daí para o surgimento do primeiro blog brasileiro de looks diários foi um pulo. O Hoje vou assim virou sucesso na web, seu formato passou a ser copiado por centenas de outras moças e Cris deu uma guinada na vida profissional. Sem formação em moda, mas apaixonada pelo tema, largou a publicidade e começou a dar palestras Brasil afora. Cheia de estilo e atitude, passou a ajudar outras pessoas a encontrarem seu próprio estilo. Agora, leva para o Moda Intuitiva ; Um "não manual" de moda para ajudar você a descobrir seu próprio estilo (Lafonte, R$ 34,90) toda essa experiência.

Blogs
"O blog Para Francisco (o primeiro de Cris) foi uma salvação, me ajudou a viver o luto (o namorado de Cris, pai de Francisco, morreu quando ela estava no fim da gravidez). Tudo começou quando escrevi uma carta para o meu filho, precisava desabafar e fazer um registro para o Francisco. Passei várias madrugadas, na licença-maternidade, escrevendo o Para Francisco (que, depois, virou um livro). Com ele, também tomei intimidade com a ferramenta blog. Já o Hoje vou assim surgiu quando, um dia, indo para o trabalho, resolvi me fotografar. Não tinha legenda. Uma amiga disse para eu pôr referências. Assim surgia o primeiro blog de looks diários do país. Eu não sabia que já existia esse modelo fora do Brasil. Hoje, algumas pessoas falam: ;A exibicionista do blog de moda é a mesma viúva que chora no outro blog? (risos)."

Moda
"Há um excesso de informação de moda, com muita teorização, quase matemática, em vez de ser uma coisa sensorial. As revistas fizeram com que a moda se distanciasse, se tornasse algo inatingível. O chato da moda é que vira moda. Há extremos, exageros e, naturalmente, você tem que separar o joio do trigo e ter senso crítico. Será que há tanta novidade assim? O grande lance na moda é o autoconhecimento, e isso está sendo deturpado."

Blogueiras

"Se há esse fenômeno de blogueiras, é porque existia uma vontade latente de aproximação com a moda. O problema é que algumas meninas endinheiradas se vestem como se fossem ficção. E acabam virando ícones de uma massa de adolescentes. Claro que há as que percebem que aquilo é vida real."

Relação com as lojas
"Nego os presentes que não têm a ver comigo. Não uso só por usar. Também tento colocar claramente as roupas que comprei e as que ganhei. Pretendo mudar o formato do blog, dar mais transparência. Quando tiver link, significa que ganhei a peça."

Evolução do estilo
"Vestir para o blog me fez me conhecer melhor. Aprendi a aproveitar o meu guarda-roupa, a repetir as peças. Estou mais pragmática nas minhas escolhas. Aprender a se vestir melhor é um exercício diário. Tenho um estilo livre, o que não significa que me visto sempre da mesma forma, vai a favor do humor. Tem dias que estou mais avacalhada, em outros invisto mais na produção. A moda lhe proporciona isso: o ecletismo de ser uma pessoa diferente a cada dia. O estilo da gente precisa ter um nome: o nosso."

Autoconhecimento

"O caminho não é fácil. O fundamental, porém, é você se descolar do olhar do outro e se concentrar no seu, se vestir para você, fazendo disso um prazer. Existem manuais para quem quer um formato pronto. Não é o caso do meu livro. Para mim, É como um encaixe de peças de lego."


Ponto a ponto com Cris Zanetti
O que era apenas um meio de comunicação com suas clientes virou um blog acessado por mais de 15 mil pessoas por dia. Cris Zanetti e Fê Resende são personal stylists e autoras do blog Oficina de Estlio desde 2006. Com uma visão da consultoria de estilo mais ligada ao ser humano, suas frustrações e sucessos, do que com as roupas em si, elas trabalham a autoestima, a segurança e a credibilidade de leitoras e clientes. É o que elas chamam de "terapia de guarda-roupa". A favor de compras conscientes, elas se preocupam com a sustentabilidade, no sentido de que roupas não precisam nem devem ser descartada a cada temporada. Agora, as duas consultoras de estilo lançam o livro Vista quem você é ; Descubra e aperfeiçoe seu estilo pessoal (Casa da Palavra ; R$ 39,90). Como em um livro de escola, nele, há exercícios que ajudam a leitora nessa descoberta. Cris Zanetti fala à Revista sobre o trabalho delas e sobre o livro que acabam de lançar.

O início do blog
"Em 2006, criamos o Oficina de Estilo para substituir as newsletter que mandávamos para nossa clientes. Na época, a gente não imaginava que ia ter esse alcance. Mas aconteceu de forma orgânica, não foi de repente. Até que as coisas caminharam de um jeito que chegou um momento em que fazia muito sentido escrever um livro."

O livro
"Não temos a pretensão de passar nada. Ele é um manual, com exercícios práticos, que ajudam a leitora a descobrir quem ela é, o que é importante para ela e, com nossas ferramentas de identidade, ajudamos a traduzir tudo isso no visual. Tudo isso para que ninguém seja refém de circunstâncias externas ao se vestir. Que não se vistam de tal forma porque o outro quer ver isso, porque a blogueira ou a revista falou que é bonito."

Tendências da moda
"Uma coisa muito boa é que, desde a década de 1990, não existe uma tendência que impera naquele momento e o resto é resto. Hoje, são muitas tendências ao mesto tempo. Numa semana de moda, não dá para dizer que o comprimento é mídi. Não chega a ser a ideia do livro, mas se conseguirmos que as leitoras percebam isso, que hoje é muito mais fácil se vestir com originalidade e que não existe mais ;fora de moda;, será muito bom também."

Regras
"O nosso livro não traz dicas do tipo, o que cai bem em um corpo não cai em outro. É um quebra-cabeça. A gente reúne várias coisas. Por exemplo: ;Eu gosto de saia mídi, mas ela não favorece minha altura. Eu uso outras peças que me alonguem;. Não tem isso de um estilo não combinar com um corpo. Há várias elementos: tem caimento, tem bolsa, tem cabelo, tem maquiagem, etc. Juntando vários elementos que se balanceiem, é possível se sentir segura com o que veste e saber que tudo pode vestir bem em você."

Nosso corpo

"A gente sempre está encanada com alguma coisa: coxa muito grossa, perna muito curto, seios muito pequenos ou muito grandes. A gente tem que se conscientizar de que não somos só coxas, pernas ou peitos e não devemos nos resumir a isso. Precisamos pensar: ;Poxa, eu tenho um cabelo superlegal, meu pescoço é longo, minhas mãos são bonitas;. A mulher costuma focar no que é ruim, um queixo quadrado de que não gosta ou qualquer outra coisa. Não somos açougueiros para nos cortarmos em parte, somos inteiros. Não tem porque focar só no que não gosta. Neutralizar com amor é disfarçar ou fazer as pazes com aquilo de que não se gosta e olhar e valorizar aquilo que temos de mais bonito."

Autoestima
"O livro é uma proposta de autoconhecimento. Então, não deixa de ser uma terapia. Se nós não dialogássemos com as clientes e as leitoras sobre o que elas querem, quais são suas desilusões, do que não gostam nos próprios corpos, não poderíamos levar nada para o guarda-roupa dela. É uma terapia através dele."

Consumismo
"A gente, na verdade, não trabalha com moda. Nós trabalhamos com gente, e nossa ferramentas são as roupas e acessórios. Queremos que as pessoas tenham um guarda-roupa que funcione, e isso significa versatilidade, com peças que combinem entre si. Ele precisa ser atualizado também de tempos em tempos, claro. Mas isso tem que ser feito com reflexão. É o consumo consciente: ;Não vou comprar tal bolsa por causa da blogueira. Vou refletir se ela combina comigo, se combina com o que eu tenho, etc.;. E pra saber o que combina com você, é preciso se entender e saber o que quer.