Jornal Correio Braziliense

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Papo de homem, só para mulheres - UFC

Uma vez por mês, a presença feminina em rodas tipicamente masculinas. Hoje, um olhar em direção ao octógono

O convite era para ver o Ultimate Fighting Championship (UFC). A luta ocorreria em Newark ; Nova Jersey, a 80km de Nova York. Só a palavra Nova York já era motivo suficiente para aceitar, mas ter a oportunidade de ver ao vivo um evento de tão grande porte parecia imperdível. Convite aceito! Recebo então o primeiro aviso da assessoria: você será a única mulher do grupo. Era tudo verdade. Não só o grupo, como todo o público, era majoritariamente masculino.

Entendo minimamente sobre artes marciais mistas (MMA) e nunca achei que o termo "raspar", em uma luta do UFC, tivesse algo a ver com giletes e depilação. Isso não significa que eu seja especialista, muito pelo contrário. E sem nenhuma vergonha comecei a tirar dúvidas com os espécimes masculinos do grupo. Sendo mulher, eu poderia perguntar qualquer coisa. A questão era: eu poderia falar qualquer coisa?

No dia da pesagem dos atletas, percebi que não. De jeito nenhum! Para mim, aquele evento tinha um sentido completamente diferente do que para o público masculino. A logística consiste na entrada dos atletas ; ainda vestidos ; e a pesagem deles, quase nus (alguns realmente ficavam nus). Era como um clube das mulheres: cada um entra no palco encarnando um personagem, tira peça por peça de roupa, sobe na balança e executa a melhor pose. Depois, os desafiantes se encaram e, aos pares, fazem mais pose para os espectadores.

Alguns lutadores faziam o tipão de maluco, outros eram mais tímidos. Os que caprichavam mais no enrijecimento dos músculos arrancavam mais suspiros das poucas mulheres na plateia. Essa é a hora em que os atletas conquistam a torcida. Uns puxam briga, outros são mais confiantes. Existem até os que ganham aplausos por parecerem mais fracos.

Achei que os homens na plateia não estavam reparando no físico dos atletas tanto quanto eu. Debatiam as chances de cada um no combate que aconteceria na noite seguinte. Já eu, não conseguia deixar de reparar que desfilavam no palco cuecas do Batman e do Homem de Ferro. Até que um repórter ao meu lado soltou: "Poxa, esta berinjela é dispensável" E, ao ouvir esse comentário, tão despretensioso, percebi que todos nós ; homens e mulheres ; estávamos, sim, reparando nas mesmas coisas.

UFC
Ultimate Fighting Championship (UFC) é o nome do maior evento de luta para praticantes das Artes Marciais Mistas (MMA). Originário do Vale-tudo, o UFC foi criado em 1993 ; nos EUA ; por Rorion Grace. O objetivo era mostrar a supremacia do Gracie Jiu-Jítsu por meio de disputas ; sem limite de tempo nem regras ; entre diferentes modalidades de artes marciais. Depois de passar por um período de rejeição do público (devido ao alto grau de violência), o evento ganhou regras que protegem os lutadores.

Desferir golpes como dedo no olho, mordidas, socos na nuca, cabeçadas e o famoso "golpe baixo" (na região dos genitais) são algumas das proibições. As lutas têm tempo definido (de três ou cinco rounds de cinco minutos) e são interrompidas sempre que há prejuízo à saúde do atleta. Entre nocautes e finalizações, o UFC conquistou o público dos canais por assinatura e hoje ; comandado por Dana White ; tem média de 1 milhão de espectadores por evento.

MMA
O termo Artes Marciais Mistas (MMA) foi criado para nomear o conjunto de técnicas de diferentes modalidades de artes marciais empregadas em uma mesma luta. Com a criação do UFC, os competidores perceberam que quanto mais habilidades tivessem, maiores seriam as chances de vencer. Assim, passaram a treinar vários tipos de artes marciais e a usar todas elas em um mesmo combate.

A repórter viajou a convite do evento