Quando os filhos saem de casa, muitos pais se sentem desmotivados. A esteticista Áurea Figueira, 74 anos, sempre gostou de animais, mas foi a solidão que a levou a adotar três cachorrinhos da raça pinscher. "Os filhos já estavam crescidos e vi nos animais uma maneira de preencher meu tempo", diz. No fim das contas, Áurea se separou do marido, os filhos se casaram, os pinschers morreram e ela não tardou a comprar outro pet, um poodle. Agora, é Beethoven o seu amigo de aventuras. "É bom saber que existe um ser interessado na gente", confessa.
A chamada síndrome do ninho vazio chega assim que os filhos crescem e vão morar sozinhos. Os pais se sentem tristes durante um tempo, mas é uma melancolia com hora para acabar. "A síndrome é explicada não só pela ausência do filho, mas pelo fim de um ciclo. O casal precisa se adequar a uma nova ordem familiar", explica o psicólogo Lucas Bezerra. Nessa fase, adquirir um pet pode ajudar. No entanto, não vai quitar pendências conjugais. Segundo Bezerra, muitos casais usam os filhos como artifício para esconder problemas da vida a dois. A indicação do psicólogo é nunca descuidar da relação homem-mulher.
Se a tristeza continua, pode evoluir para uma depressão. "Nas mulheres mais velhas, a menopausa tende a piorar o quadro, pois mina a autoestima delas", comenta o especialista. A personalidade de cada um também interfere no modo como a situação é encarada. Mesmo que a separação seja previsível, os pais costumam sofrer. "Outros fatores também podem intensificar esse estado de tristeza, como o motivo pelo qual o filho está saindo ou o tipo de relação do filho com os pais, no caso de pais superprotetores", observa Bezerra. Não à toa, alguns filhos, sabendo da solidão dos pais, os presenteiam com um pet. É o caso da aposentada Ana da Silva, que ganhou do filho a cachorrinha Pandora. O presente veio assim que o marido de Ana faleceu, há seis anos. "Digo que ela é minha amiga, e tenho o maior prazer em cuidar dela", comenta.
A adoção de um animal em períodos de separação e luto favorece a comunicação e atua como redutora da ansiedade. A psicóloga Karen Thomsen trabalha com terapia assistida por animais (TAA) há sete anos e explica como a presença do animal ajuda em momentos difíceis. "O pet desenvolve em nós maior sensibilidade, responsabilidade e respeito pelo próximo. É, comprovadamente, benéfico para nossa saúde ; reduz a pressão arterial, melhora a imunidade e nos mantém calmos e alegres", afirma Karen. Esse convívio pode, inclusive, aumentar os níveis de serotonina e oxitocina, hormônios responsáveis pelo bom humor e pelo amor materno.
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