Mais do que a crença de seus pacientes, a técnica criada pelos chineses tem como aliada a ciência. Ao atingirem terminações nervosas, as agulha estimulam a liberação de substâncias químicas que ajudam no alívio da dor. O bem-estar proporcionado é importante no tratamento de uma série de males, conforme evidenciam as mais recentes pesquisas. Os céticos ; médicos ou pacientes ; agora se veem praticamente sem argumentos em suas críticas.
;Atribuo isso a três fatores;, diz o acupunturiatra Hildebrando Sábato, presidente do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura. ;O primeiro é um paciente contando para o outro dos seus resultados conforme nota as melhoras clínicas. O segundo é justamente o esclarecimento científico dos mecanismos de ação da acupuntura, que deixou médicos mais à vontade para indicar a terapia a seus pacientes. O terceiro é a maior divulgação da prática tanto na mídia quanto entre a comunidade científica;, enumera.
De fato, desde 1979, quando a Organização Mundial da Saúde finalmente deu crédito à técnica chinesa, o interesse da medicina ocidental pela acupuntura só tem crescido. O número de títulos de especialista expedidos pela Associação Médica Brasileira já passa dos 3 mil, segundo as contas do CMBA, e tratar pacientes com acupuntura na rede pública é algo cada vez mais comum. Para se ter uma ideia, no ano passado, o atendimento deu um salto de 76,4% em relação ao ano interior, passando de 680 mil, em 2011, para 1,2 milhão em 2012.
Nem tudo, porém, é confete nessa história. Há algum tempo, o CFM e outros conselhos profissionais (como o dos fisioterapeutas e o dos psicólogos) vêm brigando pelo direito de praticar a acupuntura. De um lado, os médicos dizem que são os únicos aptos ao exercício, já que fazem diagnósticos e prescrevem tratamentos. Do outro, os profissionais de outras formações, que há tempos tratam com êxito seus pacientes. No ano passado, em decisão da Justiça, a balança pendeu para o lado dos médicos, mas a polêmica continua.
Energia ou ciência, pouco importa: a acupuntura é amiga da saúde. Ao que parece, os chineses da era pré-cristã sabiam o que estavam fazendo. E você, já tem um acupunturista de confiança?
Do ceticismo ao entusiasmo
Para ela, desde que as dores apareceram, a normalidade consiste em buscar fontes de alívio. Foram muitas visitas a fisioterapeutas. ;Eu fazia todas aquelas 10 sessões que o médico pedia e, quando chegava em casa, não sentia um pingo de melhora. Chegava a dormir sentada de tanta dor. Não conseguia achar posição que fosse confortável;, conta a aposentada. Nessa busca, Yvannise apelou às infiltrações, procedimento bastante controverso. ;Tive duas filhas, cistos nos ovários e cálculo renal. Tirando o cálculo, nada doeu tanto quanto isso;, lembra, com humor. ;Eu precisava ficar imóvel. Os médicos diziam que podia aleijar. Morria de medo de me mexer sem perceber. Eu sentia verdadeiro pânico daquilo;, diz.
Conformada com os paliativos para a coluna, a aposentada retornou aos consultórios médicos há três anos, após sofrer um tombo dentro de casa. Machucou o rosto, adquiriu uma leve labirintite e ganhou uma lesão no ombro que a deixou ;travada; e a levou de volta à maca de um ortopedista. Por sorte, não havia rompido nenhum ligamento. ;Lembro que ele me disse: ;A boa notícia é que a senhora não vai precisar de cirurgia;;, lembra a aposentada. O tratamento para o seu caso era bem mais simples.
;Quando ele me disse que eu deveria procurar a acupuntura, tive vontade de chorar. Achava que isso fosse coisa de espertos;, lembra. Vencida pela dor, dona Yvannise foi a um médico acupunturista, desacreditada de que sairia dali com algum tipo de melhora. Quando chegou ao consultório, tinha o braço encolhido e imobilizado. Ao fim da sessão, ela lembra, o médico pediu que ela fizesse alguns movimentos aparentemente simples, mas até então impensáveis no seu caso, como esticar os braço ou tocar as costas com o dorso da mão. ;Eu mesma não acreditei. Tive que pagar a língua;, ri.
Com a acupuntura, dona Yvannise não só recuperou integralmente os movimentos do ombro, como acabou encontrando melhora também para o problema na coluna. As dores não desapareceram completamente, ela admite, mas as noites em que passava sentada ficaram para trás. ;Sei que não posso nem pensar em abandonar a acupuntura. Meu ortopedista diz que é o que tem me mantido longe da cirurgia. Se eu parar, em pouco tempo estarei em uma cadeira de rodas;, acredita. Hoje, parte dos ex-céticos, a aposentada conta já três anos de tratamento com as agulhadas. ;Vim para não acreditar, mas pude me retratar ainda em vida. Esse pecado já não levo para o céu;, diverte-se.
No DF, uma experiência promissora
Foi assim com a aposentada Sédia Rocha, 59 anos. Pouco tempo depois de aceitar o diagnóstico e enfrentar a cirurgia, o que já parecia difícil o bastante, descobriu que precisaria ainda lidar com as dores posteriores. O diagnóstico de dona Sédia veio em junho de 2011 em um checape de rotina, quando uma mamografia apontou um nódulo suspeito. Depois da retirada da mama direita, em dezembro do mesmo ano, não demorou muito até os incômodos apareceram. ;Eu sentia muita dor no braço no lado da cirurgia e acordava de manhã sem conseguir mexer direito os dedos da mão porque estavam dormentes;, conta a aposentada.
Foi o Departamento de Fisioterapia do hospital que encaminhou Sédia à acupuntura depois de ouvir suas queixas. Foram 10 sessões ao todo, uma por semana. As melhoras começaram a aparecer a partir da quarta. ;Não posso dizer que meu braço ficou 100% e até acho que ele nunca vai ficar. Mas posso dizer que melhorei 90% com as aplicações;, conta. Além disso, ela diz, as agulhas surtiram outros efeitos. ;Eu me considero uma pessoa forte. Mas estava mais ansiosa que o normal por causa da doença e tudo o que havia acontecido. Até nesse aspecto senti melhora;, relata.
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