É fácil lembrar-se de cães que estrelaram no cinema, como Bethoven e Marley. Adoráveis, deixavam seus donos malucos com tanta bagunça que faziam. Móveis, sapatos, tapetes e até eletrônicos não escapavam a tanta energia. Mas não é preciso recorrer à ficção para recontar histórias como essas. Na internet, tem até Tumblr só para exibir as travessuras dos animais de estimação. No dog-shaming.com, os donos enviam fotos da mascote e do estrago que provocaram. O animal ainda ganha uma placa, que explica o que ele aprontou. Uma prova de que o bom humor é fundamental para entender que é preciso educá-lo, e não apenas puni-lo severamente.
São muitos cachorros indisciplinados, principalmente os filhotes, que fazem uma algazarra e os donos ainda acham fofo. Mas na fase adulta, as aparentes travessuras podem resultar em multas de condomínio ou chegar a casos extremos de entregá-los para a doação. Entre as principais reclamações recebidas pela adestradora e comportamentalista Malu Bernardes, de 41 anos, estão os latidos e o fato de o cão fazer xixi em local errado. "Mas quando faço a consulta e com as informações que me passam, vejo que o maior problema foi a falta de experiência do dono ou falta de autocontrole", completa Malu.
Tudo começa com a escolha da raça. Para apartamento, por exemplo, qualquer cão de pequeno porte pode ser adquirido, afirma Malu. Mas todos devem receber as lições de boas maneiras. Por isso, se for um dono de primeira viagem, ansioso e inexperiente, a dica não vale. É melhor optar por raças como o bulldog francês, shitsu, basenji e shiba, que são mais tranquilas, menos barulhentas e mais obedientes. Já as outras raças exigem uma postura de líder, ou seja, um dono que saiba dar carinho e a bronca na hora certa e até mesmo ignorar as traquinices em alguns momentos. "Chantagem emocional, eles fazem mesmo. É uma gracinha. Mas se você não se controlar, não vai conseguir controlar seu cão", explica a especialista.
Lara Uchoa, estudante de 15 anos, sabe bem que a inexperiência de ter uma mascote e a vontade de não desgrudar do filhotinho podem ser prejudiciais para o convívio familiar. Ela ganhou o Zack, um schnauzer, que bagunçou bastante a rotina de casa até que foi levado para a adoção. Ele chegou de forma inesperada, como um presente da prima. Foi impossível recusar o filhote, que rapidamente tomou conta do lar. A mãe, Catherine Uchoa, de 37 anos, comenta que, ao sinal de qualquer latido, a filha corria e pegava Zack no colo, até que ele foi crescendo e os latidos e a agressividade aumentaram. Logo, o animal passou a não deixar ninguém se aproximar da garota e os passeios embaixo do bloco tiveram que ser suspensos por causa das tentativas de ataque a pessoas e até a cachorros maiores.
Mas Catherine também divide a culpa com a filha. Ela chegou a deixar de sair porque o cachorro latia pedindo para brincar. Esse era o segredo de Zack: latir para conseguir tudo o que queria. E dava certo. Até que ficou insuportável e elas resolveram chamar a adestradora. As lições não funcionavam e ele começou a ter "intensivões" na casa de Malu. Mas quando voltava, os maus hábitos apareciam novamente. "Destruiu tudo, rasgou livro do colégio, chinelo, mordeu os móveis. Até hoje, tem alguns pedaços. Ele comia principalmente o que não era dele", desabafa Lara. A bagunça foi tanta que elas aceitaram a ideia de doar o cão. A menina ainda mantém contato com Zack. Os novos donos ligam e permitem as visitas.
Leia a matéria na íntegra, na edição impressa da Revista n; 388.