Para início da conversa, é preciso entender o conceito de pompoarismo, que está longe de bizarrices do tipo fumar com as partes baixas. Pompoar é um ;método milenar taoísta (tradição chinesa) de tonificação dos músculos do períneo e fortalecimento da musculatura pélvica, visando facilitar o parto;, explica Antar Surya, professora dessa arte. Essa malhação ainda ajuda a evitar casos de incontinência urinária. A princípio, o prazer sensual não era um fim em si. ;Mas a mulher descobriu como utilizar a força da musculatura da pélvis a seu favor, visando aumentar a capacidade orgástica, a autoestima e a inteligência sexual e a emocional;, conta Surya, cuja especialidade é o pompoarismo tântrico, vertente que ensina a descobrir mais prazer no sexo.
Conhecida a teoria, é hora da prática. Em uma sala ampla e simples, alguns colchonetes são espalhados pelo chão. As alunas, algumas mais à vontade, outras nem tanto, sentam-se lado a lado, formando um círculo. Apesar do constrangimento inicial, todas estão no mesmo barco, então melhor entrar na onda e participar. A professora começa apresentando à turma o Osho, que está sorridente em um quadro pendurado na parede. Ele é o único homem presente no lugar. Sem o mestre indiano, ninguém estaria ali reunido. Foi ele quem trouxe o tantra ; a arte de resgatar o prazer na vida e nos relacionamentos ; para o Ocidente. Tudo por meio de meditações e treino da consciência corporal.
Feitas as devidas apresentações, é hora de cada uma revelar suas motivações. Uma diz que quer descobrir as delícias do prazer tântrico. Ela desconfia que seja algo muito especial, afinal, já sonhou com orgasmos que chegavam a liberar luz do corpo, de tanta energia sexual envolvida. Contou a história sorridente, para a inveja das outras que nunca tiveram experiência tão cósmica durante o sexo, ainda mais enquanto dormia.
A próxima mal conseguia olhar para a professora, tamanha a timidez. O marido tinha proposto que ela fizesse o curso. Na certa, esperava que a esposa voltasse uma verdadeira deusa para casa e direto para a cama. Ela topou o desafio. Vai que dá certo. Outras estavam ali por curiosidade; para se libertarem de traumas ligados à sexualidade e para melhorarem a relação com o parceiro e com o próprio corpo. Tem quem foi porque a ;irmã insistiu que viesse com ela; ou porque o namorado é especialista em meditação oriental e ela quer aprender alguma coisa para surpreender também.
As motivações são diferentes, mas algo as une: todas têm uma vagina. Parece óbvio, mas Surya quer relembrar que elas mantêm algo precioso na intimidade. Faz perguntas que, a princípio, parecem desconcertantes. Ela questiona qual é a relação das alunas com a própria genitália. Se a olham no espelho, se a tocam, se sentem o cheiro dela e até o gosto. As reações são de surpresa. Algumas expressam um ;como assim? Eu deveria ter feito isso?;. Um riso contido aparece, mais pelo fato de não saber o que responder do que pela vergonha imatura, igual à de adolescente, diante de tema tão íntimo.
A mulherada toma coragem. Elas contam como se depilam, se buscam o prazer sozinhas, se usam sabonete íntimo. Os questionamentos aparentemente sem propósito de Surya são, na verdade, um teste. Ela quer saber como as mulheres se ;entendem; com a própria vagina. Orientação sexual muito rígida na infância e na adolescência, relacionamentos frustrados e tabus explicam o afastamento da própria anatomia e a dificuldade que muitas têm de sentir prazer.
Assim, fica a primeira lição de casa proposta pela professora: olhar sua yoni no espelho. Sim, o nome da vagina feminina, durante a aula, é dito em sânscrito. Fica bem mais simpático chamá-la assim do que pelos tantos outros nomes criados pelas mentes ocidentais ; palavras cheias de mitos, preconceitos e malícias.
Anatomia redescoberta
Yoni agora é íntima de uma turma mais à vontade. Pode-se, então, falar de orgasmos. Que nota cada mulher dá ao seu? O objetivo da roda é saber a avaliação que cada uma tem do próprio prazer. As notas variam de zero a dez. Quem não tem, quer ter. Quem sente algum que considera bom quer que seja ótimo todas as vezes. E o conhecimento de sua intimidade vai ajudar nisso. A professora apresenta a segunda tarefa: que tal se tocar e buscar o prazer sozinha? Ela até cita que, nos Estados Unidos, existe curso de masturbação feminina na prática. A professora e as alunas peladonas praticando. Todas riem. Surya pondera que o método talvez não funcionasse tão bem por aqui. Então melhor ficar na teoria.
Ela continua: ;Levante a mão quem já usou um vibrador?;, pergunta. Na turma de oito mulheres, duas confirmam. Surya então cria em um pedacinho de pano um clitóris imaginário e mostra como ele deve manipulado. Abre e fecha, esfrega aqui, massageia acolá. Se precisar, use uns brinquedinhos. Surya apresenta os vibradores clitorianos e explica, com as mãos, onde se deve estimular. ;Quando estiver bom, não solta, deixa sentir. Você chega lá;, explica. Claro que para saber se aprendeu, cada uma terá de testar em casa.
Segundo tempo da aula, lição de anatomia. Slides mostram a musculatura pélvica, a vagina por dentro e o tão esperado ponto G. Na aula de pompoarismo, ele ganha outro nome. É a glândula Gragenberg, em homenagem ao médico alemão que descobriu sua existência. Como em uma aula de biologia, Surya explica didaticamente que se trata de ;uma glândula com alta concentração de terminações nervosas e vasos sanguíneos que se concentram em torno da uretra. O ponto é especialmente sensível à pressão e, quando estimulado, pode proporcionar orgasmos intensos;.
Ponto G, cada uma terá que descobrir o seu. Esse é mais um desafio para ser feito entre quatro paredes. Na aula, dá apenas para saber que ele existe mesmo. Mas que tal tentar alguns exercícios para aumentar o prazer e, quem sabe, se deparar com a glândula tão promissora mais facilmente? Hora, então, de treinar o pompoarismo. Ansiedade na turma. O que vai acontecer? A professora pede para que todas deitem em seus colchonetes. Para evitar constrangimentos, devem virar para a parede. Prontas? Vai começar o exercício de pompoarismo.
Nessa hora, as mulheres descobrem que tem uma ;vagina dentada; (veja quadro). Sim, o órgão sexual feminino é capaz morder, chupar e massagear, além de outras peripécias. Mas melhor ir com calma, esse estágio de desempenho exige treino. Sem afobação, concentre-se no básico. Surya explica que o pompoar é um controle da musculatura do períneo. Para isso, pede que todas simulem a sensação de segurar o xixi. Conseguiu? Você acaba de reconhecer sua musculatura pélvica.
O resto é literalmente malhação para fortalecer os músculos da região. Existem, inclusive, pesos indicados para essa finalidade, mas, como a turma é iniciante, o primeiro passo é apenas aprender a contrair e soltar a pélvis. ;Inspira: um, dois, três, prende. Expira: um, dois, três, solta.; A professora dita o ritmo e cada uma tenta acompanhar sozinha. Respiração e contração. É isso. O resto é prática: na hora de fazer o primeiro xixi da manhã, segure e solte, segure e solte. ;Olha, estou fazendo agora. Alguém percebe?;, pergunta a especialista. Não. Então tentem no trânsito, ;enquanto assistem à televisão e, especialmente, na hora do sexo;.
O resultado vem aos poucos e é bom para o parceiro também. Mas atenção, o objetivo não é agradá-lo, mas ter mais prazer a dois ou sozinha mesmo. ;A mulher que busca a educação sexual tântrica quer mais prazer, aumentar sua autoestima, além de ganhar consciência corporal e tônus na musculatura do períneo;, diz Surya. Ela lista ainda outros benefícios de exercícios aparentemente tão simples. ;O pompoarismo ajuda as que pretendem ser mães com um parto prazeroso e normal, além de prevenir incontinência urinária e problemas relacionados ao feminino;, acrescenta.
Fim da aula. Não se sabe o que vai mudar na história de cada mulher depois daquelas quatro horas de curso teórico. Algumas podem chegar em casa e colocar os ensinamentos logo em prática. Outras, talvez, precisem de mais esforço. Fato é que, ao menos naquele momento, as desconhecidas viraram cúmplices do mesmo objetivo: querem ser mais femininas, romper barreiras para ter um sexo mais prazeroso. Vão embora. Osho continua sorridente na parede. Mais uma missão cumprida.
Conheça alguns dos exercícios propostos pelo pompoarismo
Revirginar
Contrai-se fortemente o músculo de entrada da vagina, impedindo ou dificultando a penetração.
Ordenhar
É contrair individualmente os anéis circunvaginais de forma sequencial, pressionando o pênis/vibrador. O movimento começa na entrada da vagina e segue em direção ao útero, com força mediana.
Chupitar
É imitar com a vagina a movimentação que os bebês fazem com a boca quando estão mamando ou usando a chupeta.
Sugar
É chupar o pênis/vibrador com a vagina.
Massagear
O pênis/vibrador é massageado nas intensidades fraca, média ou forte.
Morder
É a pratica utilizada frequentemente para retardar o orgasmo do homem. Consiste em contrair fortemente o anel circunvaginal que circunda o região logo abaixo da glande do pênis.
Guilhotina
É uma ;mordida; com muita força.
Algemar ou agarrar
É contrair com tal força a musculatura vaginal que impede a saída do pênis/vibrador.
Expulsar
É quando a vagina expele o pênis ou vibrador.
SERVIÇO
Curso de pompoarismo tântrico
Informações no site www.conscienciatantrica.com.br ou pelo e-mail contato@conscienciatantrica.com.br