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Vestidas de música

As trilhas sonoras dos desfiles são importantíssimas para ritmar os passos das modelos e criar um clima todo especial

Quando começam as semanas de moda, revistas, blogs e sites de notícia viram um grande apanhado de imagens e críticas acerca das coleções. Mesmo quem não chegou nem perto da primeira fila dos desfiles consegue ver o menor dos detalhes. Cada estampa, acabamento e acessório. Dá até para emitir opiniões bem fundamentadas sobre os acertos e os erros dos estilistas. Há, no entanto, algo fundamental nas passarelas que não se pode ver nas imagens: a batida do som que embala o andar das modelos e, em alguns casos, os pés e canetas dos convidados, batendo nos seus bloquinhos conforme manda o ritmo.

O casamento entre moda e música não é recente. As principais passarelas mais de uma vez receberam coleções inspiradas em estilos musicais e homenagens a grandes nomes da música. Amy Winehouse, a mais recente das consagradas por um estilista, foi a musa de Jean Paul Gaultier em sua coleção de alta-costura apresentada em Paris no início do ano. Fora do croquis, no entanto, a música é capaz de criar a atmosfera ideal para o entendimento da coleção, levar aos convidados sensações e lembranças ou, em uma nota fora do tom, colocar tudo a perder. ;Na passarela a música proporciona uma condução rítmica para complementar ou induzir os ritmos, as trocas de cores, as variações dentro do tema. Ela cria atmosferas, complementa o cenário e ajuda muito na narrativa e na personalidade da marca;, explica o DJ Nepal, responsável pela trilha da Ausl;nder, uma das mais dançantes do Fashion Rio passado.

A última temporada teve de Gretchen a Louis Armstrong embalando seus desfiles. Paisagens sonoras que misturavam vários estilos e décadas sem pudor. Ainda no Fashion Rio, a Reserva, de Evans Queiroz e Rony Meisler, explorou a trilha para contagiar o público e incrementar a apresentação quase teatral da coleção na passarela. Assinado pelo DJ Felipe Venâncio, o set trouxe uma dançante sequência de sons feitos por bandas formadas por parentes ; o tema do desfile era ;Família é o novo cool; ; intercalados pela familiar vinheta do Jornal Nacional. O resultado foi um público animado e com New sensation (do INXS) na cabeça. ;Desfiles geralmente começam impactantes e firmes na comunicação para terminarem apoteóticos e com todos indo para casa cantarolando a trilha final;, frisa o diretor Evans Queiroz.

ENTREVISTA // Max Blum
Se o DJ Max Blum ainda não entende de moda, pode pelo menos dizer que entende do som que ela tem. Entre passarelas cariocas e paulistas, Max assinou as trilhas de 21 dos 61 desfiles da temporada de verão 2013, encerrada na semana passada. Marcas como Triton, Herchcovitch e Fernanda Yamamoto confiaram a ele a batida que embalaria a apresentação de suas coleções. Finalizada a correria das semanas de moda, ele contou à Revista por e-mail sobre o trabalho de unir moda e música.

Como é o processo de criação de uma trilha?
Para fazer essa quantia de desfiles, antes de tudo, é necessário ter um repertório muito grande. Por isso, passo o ano todo ouvindo coisas novas e buscando opções. Quando a temporada de moda se aproxima, me encontro com o estilista e ele passa o conceito da coleção (tema, cores, intenções, etc.). Algumas vezes, ele já tem até alguma ideia de trilha. Nesse caso, trabalho em cima desse caminho. Se não, o próximo passo é nos encontrarmos para ouvirmos algumas músicas juntos e definir a sonoridade. O último passo é a aprovação da trilha montada.

Ver a coleção e saber o que o estilista quer passar no desfile é fundamental na criação da trilha?
Para mim, ver a coleção não é tão importante quanto a intenção que a marca quer passar na passarela.

Acertar no setlist ajuda o público a captar melhor a ideia da coleção?
Acredito que sim, já que para mim a trilha do desfile reflete os sentimentos do estilista ao criar a coleção. Penso que a música certa posiciona as roupas no ;local ideal; imaginado pelo criador delas.

Batida mais lenta funciona na passarela tanto quanto a batida mais forte, mais dançante?
Claro. O que importa é criar o clima certo. Uma batida rápida em um desfile que pede leveza e romantismo pode ser um erro. Na verdade, as batidas mais dançantes, atualmente, são provavelmente as que menos funcionam em um desfile. Ninguém quer transformar a sua passarela em boate!

Leia na edição impressa a íntegra da matéria e confira playlist de alguns desfiles das últimas semanas de moda