Brasília é a capital das marcas de luxo, dos homens engravatados e das socialites peruas. Gente que enche seus armários de marcas caras, importadas e tradicionais. Mas existe um mundo pouco ilustrado no imaginário da maioria: a moda popular brasiliense. As tendências de verdade dos candangos estão nas feiras, nas lojas de camisetas e nos ateliês das pessoas que criam moda com a cara da cidade. É um estilo diretamente inspirado nos traços da arquitetura de Oscar Niemeyer, assim como nas peculiaridades urbanas e culturais daqui. Nesse universo, encontra-se de tudo: desde os ternos dos moderninhos que trabalham nos ministérios até as roupas simples dos trabalhadores que passam apressados pela rodoviária e as camisetas XXL dos cantores e apreciadores de rap. São as várias vertentes do brasiliense que aparecem no Plano Piloto e nas regiões mais afastadas. Universos, entretanto, que dificilmente se cruzam. Ficam trancados nos guetos. ;Falta um lugar aqui em Brasília em que todos esses estilos se encontrem. A escolha urbanística nos faz ficar segmentando, e isso acaba afetando a maneira como nos vestimos;, acredita o estilista Romildo Nascimento.
;Brasília é uma invenção. Gênios da arquitetura, um presidente bossa-nova, sonhadores pau-pra-toda-obra e voilà! Temos nossa cidade linda, moderna e única. A sua beleza é bestificante, já dizia a Legião. A sua concepção arquitetônica é tão forte, mas tão forte, que por alguns anos ofuscou as diferenças entre nordestinos, cariocas, mineiros e todos os outros brasileiros que chegaram por aqui.
Mas a urbis nasceu e agora nós, brasilienses-não-candangos, estamos nos construindo. Nossa identidade é moderna, cosmopolita e recente como a cidade, porém se engana quem pensa que não é distinta e única. Quem conhece Brasília pelos telejornais não faz a mínima ideia, né? Pergunta sobre o laquê da Dilma, a mão esquerda do Lula, o bigode do Sarney... Por tudo isso, não é de hoje que temos ensaiado um brado apaixonado: Nós amamos Brasília-além-esplanada.
Queremos nos esbarrar nas entrequadras, nos esbaldar no Setor de Diversões, deslizar no Bancários ou evitar ir de carro para o SCS. Gostamos de paquerar e papear embaixo do bloco. Nós nos aventuramos em viagens de camelo para Piri, morremos de rir quando turistas ficam tontos nas tesourinhas que cortam do eixinho-de-cima ao eixinho-de-baixo, pegamos um baú pra satélite na rodô, que fica em cima do buraco do tatu. Bota fé? Tudo isso é massa demais, véi! Agora me diz: quem não quer estampar isso no peito?;
Pil Popsonic,
sócio e designer da Verdurão
Leia a íntegra desta matéria na edição 362 da Revista do Correio