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Seduzidos pela aparência

Donos que escolhem seus cães pela beleza e pureza precisam lidar com os problemas genéticos característicos da raça. Nesse quesito, os vira-latas esbanjam saúde

Há quase seis anos, a advogada Samira Correia, 27 anos, decidiu comprar um cachorro. ;Eu queria um cãozinho pequeno. Estava em um criadouro e um dos beagles pulou em mim e fez uma gracinha. Escolhi por impulso;, lembra. A criadora prometeu que o pet não cresceria muito e que seria um animal bem calmo. Não foi bem assim. Com o pequeno Toy em casa, Samira resolveu procurar características da raça. ;Descobri que é originária da Inglaterra e que são cães caçadores ; ou seja, sobra energia para correr e fuçar tudo;, conta Samira.

Mesmo sendo um pet agitado, aos 3 anos, Toy começou a engordar. ;No ano passado, depois da cirurgia de castração, engordou mais 5kg. Chegou a pesar 34kg, quando o normal da raça é 25kg;, lembra a advogada. Agora, Toy come ração light três vezes por dia e já emagreceu 3kg, mas continua pedindo comida e, às vezes, chora em frente à tigelinha. A obesidade é típica dos beagles, assim como a otite. Como um bom exemplar da raça, Toy tem a inflamação do ouvido desde pequeno e Samira tem que pingar remédio nas orelhas do pet três vezes por dia.

;A maioria das pessoas escolhe o animal pela beleza. Os proprietários não sabem as características da raça e só vão descobrir quando perguntam para o veterinário, durante as consultas;, explica a veterinária Éryka Gracyely. Outros procuram as raças puras não só pela beleza, mas pela previsibilidade do comportamento. Se querem um animal que possa ficar sozinho, optam por uma raça específica. Mas se esquecem dos problemas de saúde característicos.

Segundo o professor de veterinária Jair Costa, nessa busca do homem por caracteres de beleza mais convenientes, a reprodução dos pets acaba contrariando o processo seletivo natural. ;As pessoas acham um focinho pequeno bonitinho, mas é uma alteração que não é fisiologicamente interessante para o animal, que acaba tendo dificuldade para respirar. Se, na natureza, a tendência seria do focinho ir crescendo com a evolução, o homem cruza os de focinho menor para ter animais mais bonitos;, explica.

O professor afirma que, se uma ninhada é mais mansa ou mais inteligente, é comum os donos promoverem a reprodução entre eles para manter aquela característica, mas os problemas fisiológicos acabam sendo perpetuados também. Criadores responsáveis evitam a reprodução dos animais que têm problemas de saúde típicos da raça. ;Não há problema algum em criar um cão que tenha problemas genéticos ; com tratamento, eles vivem muito bem;, salienta Jair Costa. Mas é importante para os donos conhecerem previamente as características do animal.

Os veterinários dão dicas aos proprietários de animais de raça que podem apresentar doenças para que tenham mais qualidade de vida. Por exemplo, pets com o focinho achatado ; os chamados braquicefálicos ; não devem fazer muito exercício devido a problemas respiratórios. Os dachshunds, mais alongados, devem tomar cuidado com escadas.

Por outro lado, os cães sem raça definida fogem dos genes defeituosos. ;Enquanto os de raça pura tem que pegar os genes dos pais que já vem com problemas, os SRDs buscam os melhores genes do pai e da mãe;, explica Éryka. O professor Jair afirma que, com essa variação genética, os SRDs manifestam as melhores características e têm probabilidade muito menor de apresentar doenças congênitas.

Cada raça com seus problemas
- Beagle: Tendência à obesidade, predisposição à otite e ao chamado cherry eye (a cartilagem do olho vira e é preciso cirurgia para resolver). Com menor frequência, pode desenvolver problemas de pele, neurológicos e de coração.
- Boxer: Como os cães braquicefálicos (que tem o focinho achatado), tem tendência forte a problemas respiratórios. Os mais idosos podem desenvolver também tumores e a cardiomiopatia dilatada ; o coração cresce, mas fica fraco e não consegue bombear o sangue corretamente.
- Cocker spaniel: Por conta das orelhas compridas, tem predisposição a doenças de ouvido, como a otite. Alguns animais podem desenvolver problemas cardíacos, entre eles a cardiomiopatia dilatada.
- Dachshund: A característica principal da raça é a coluna alongada ; e ela é a principal responsável pelos problemas do dachshund. Tem tendência a hérnia de disco e, por isso, os veterinários aconselham a não subir muitas escadas. Como tem pelo curto, frequentemente os proprietários não dão a atenção devida ao banho e à secagem, o que pode levar a problemas dermatológicos como seborreia seca, fungos e bactérias.
- Labrador: Predisposição à displasia coxofêmural (malformação da articulação fêmur-bacia), problemas cardíacos e à obesidade. Os cães na cor chocolate tem maior tendência a desordens dermatológicas.
- Lhasa apso e shih tzu: Como o boxer, são braquicefálicos e, frequentemente, apresentam doenças respiratórias como a estemose da narina (o canal é fechado e estreito, dificultando a entrada de ar) e a traqueia mais curta. Por terem muitos pelos, podem ser acometidos de doenças dermatológicas. As duas raças podem desenvolver problemas dentários ; a dentição de filhote, que deve cair até os cinco meses, não sai e os dentes adultos podem nascer tortos ou por cima dos de leite.
- Maltês: Tendência a doenças dermatológicas como alergias e doenças de coração ou de válvula.
- Pastor-alemão: Apresenta frequentemente displasia coxofemural e problemas intestinais.
- Poodle: Predisposição a doenças dermatológicas e alergias alimentares, tendência a coceiras ao redor do olho e catarata.
- Yorkshire: Podem apresentar doenças cardíacas, como sopro e problemas na válvula, e desordens ortopédicas ; principalmente a luxação patelar. O osso do joelho sai do lugar e se desloca para dentro da perna, causando muita dor ao bichinho.

Fontes: Éryka Gracyely e Jair Costa

Agradecimentos: UnB e VetBrasília.