A razão do sucesso foi simples: há 10 anos jovens urbanos e universitários ; daí o nome sertanejo universitário ; pegaram o sertanejo, substituíram as letras de corações partidos e passaram a falar sobre festas e paqueras de uma maneira irreverente. Trocaram o ritmo lento por guitarras mais aceleradas. Saíram das pecuárias e foram para as boates fechadas. E, por fim, aposentaram o chapéu e vestiram camisa polo e tênis da moda. As mudanças aproximaram os mais jovens. Consequentemente, mais duplas foram se agregando ao novo estilo. O resultado? De cada 10 músicas pedidas nas rádios nacionais, sete são sertanejas.
A mudança no ritmo foi bombástica. A procura do público por festas sertanejas e das duplas por um lugar para tocar transformou o estilo musical em um mercado lucrativo ; o único que a indústria fonográfica ainda tem controle comercial. Atualmente, o sertanejo é o que mais vende discos no país ; ao lado da música gospel. Por isso, houve uma proliferação das duplas no país. Se antigamente conhecíamos apenas Zezé Di Camargo e Luciano, Chitãozinho e Xororó e Leandro e Leonardo, hoje dominam as paradas artistas como João Bosco e Vinícius, Carlos e Jader, Victor e Leo, Guilherme e Santiago, Jorge e Mateus, João Neto e Frederico, Maria Cecília e Rodolfo. Sem contar os artistas que seguem carreira solo.
O status do cantor de sertanejo mudou. Agora, em vez de sonharem em ser jogadores de futebol, os meninos pretendem se tornar cantores de sertanejo para buscar uma vida melhor. Não necessariamente sabendo cantar ou compor, eles se apresentam em casas pequenas, gravam CDs independentes e torcem para serem descobertos por uma grande gravadora. A maioria dos profissionais que alimenta esse segmento ainda sai das duas grandes regiões sertanejas do país: interior de São Paulo e de Goiás. Mas Brasília, ao longo dos anos, vem se tornando um polo importante.
Além da ex-dupla Rick e Renner, o nome da cidade que alcançou fama nacional foi o Gusttavo Lima, que, apesar de mineiro, mudou-se em 2007 para a capital atrás de uma carreira como cantor sertanejo. Ele conseguiu um emprego como guitarrista da dupla local Jhonny e Rhaony. No fim dos shows, interpretava algumas músicas. Em 2009, decidiu se mudar para Goiânia. Lá, conheceu Jorge e Mateus, que resolveram apadrinhar o menino. "Ele era um cara muito carismático e talentoso, todo mundo sabia que ia chegar longe", revela Antônio Cézar, empresário da dupla.
A parada por aqui foi tão importante que Gusttavo Lima ainda mantém contato com alguns parceiros. Antônio Cézar é um deles. Recentemente, ele procurou o empresário para que pudesse agenciar na capital os irmãos, que sonham também em ser cantores. Se as casas de Brasília são boas suficientes para os irmãos de Gusttavo Lima buscarem sucesso, imagina o que não faz por desconhecidos.
Os novos ritmos
Sertanejo universitário
Há mais ou menos uma década começou a surgir o termo sertanejo universitário. Duplas como Victor e Leo, Edson e Hudson, assim como Maria Cecília e Rodolfo, viraram representantes do estilo. A diferença entre o sertanejo universitário e o clássico é, principalmente, o ritmo acelerado, que se combina bem com a noite. As letras das músicas também são bem diferentes. Enquanto os mais velhos prezam pelas músicas românticas, os jovens gostam de cantar sobre as festas e costumam criar letras bem humoradas.
Funknejo
Depois do domínio do sertanejo universitário, a nova moda entre as duplas é o funknejo. A ideia é simples: cantar funks e ritmo de sertanejo. A fórmula já é um sucesso. O principal representante do estilo é a dupla Carlos e Jader, que gravou o hit Sou foda, do grupo de Avassaladores. Espere que outras músicas do tipo vão surgir por aí.
Como se tornar um sucesso
Hoje, os cantores mais famosos não precisa ter uma dupla: fazem sucesso casais que cantam juntos e até homem e mulher com carreira solo.
Escrever uma boa música: ser autor de canções próprias já é um diferencial entre os diversos concorrentes.
Emplacar um hit: esse é o passaporte para a fama.
Emplacar uma música nas rádios: até hoje elas são o reino dos cantores sertanejos.
Arrumar um patrocinador que consiga investir na carreira e dar estrutura para viver de música.
Cair nas graças de um empresário influente: certamente, ele te abrirá muitas portas.
Ter um pouco de sorte sempre ajuda.
Na balada
A decoração tem algo que remete às tradicionais festas country, mas parece muito mais uma boate. Os locais são escuros e cheios de luzes coloridas, sempre com o estrobo ligado. No teto, normalmente tem um tradicional globo de espelho. As pessoas até bebem chope, mas são os combos de vodca e uísque com energético que fazem sucesso. Eles custam em média R$ 250 e servem seis pessoas. Tem gente que chega a gastar R$ 2 mil em uma única noite. No estacionamento, encontra-se de tudo um pouco: de carros populares, como Palio e Gol, a modelos como Volvo e Hilux.
Cada casa é destinado a um público específico. Algumas são favoritas dos casais, outras de pessoas mais maduras. Os jovens têm os seus destinos certeiros, assim como os que gostam do sertanejo mais tradicional. Nas novas baladas, dificilmente você encontra algum chapéu de caubói na cabeça dos frequentadores ; eles só aparecem em integrantes das bandas e nos dançarinos profissionais. O uniforme dos homens é camisa de botão, calça jeans e um tênis da moda. As mulheres abusam dos vestidos colados, curtos e decotados. E, claro, salto altíssimo.
Apesar da diferença de público, as festas sertanejas têm mais ou menos a mesma estrutura. Apresentam-se duas duplas por noite e um DJ no intervalo. Os cantores misturam os hits da moda com canções próprias. Os sertanejos tradicionais só tocam no início para aquecer os que chegam mais cedo. As duplas que embalam as casas são quase sempre as mesmas. Hoje, em Brasília, há 10 bandas com estrutura de 20 pessoas e um ônibus para transportá-las. Cada uma dessas duplas faz 20 shows por mês, sendo que cinco, geralmente, em cidades no interior de Goiás e de Minas Gerais.
Pedro Paulo e Mateus, sem dúvida, é a mais famosa delas. Eles têm músicas pedidas nas rádios da cidade, já aparecem em programas de TV e lotam qualquer casa de show da cidade. Depois, no ranking de preferências, vem duplas como Henrick e Ruan, Jhonny e Rhaony. Mas outras, como Roniel e Rafael, Roni e Ricardo, vêm conquistando o espaço na cidade. O sonho de todos é ter uma carreira de sucesso nacional. Mas pouca gente de Brasília conseguiu estourar. "Ainda existe muito preconceito com a música feita na capital. Mas, de fato, o que é feito aqui é de muita qualidade. Tenho certeza que mais cedo ou mais tarde alguém vai estourar", acredita Roniel, que faz dupla com o irmão Rafael.
Um caso de fé
Há cinco anos foi ordenado em Resende (RJ) e seis meses depois assumiu o papel de capelão do Colégio Militar em Brasília. "O sonho de ser padre parecia estar sendo realizado, mas Deus me preparou outra jornada", analisa. Foi aqui na capital que ele começou a brincar mais sério com a música sertaneja. Antes, ela era apenas um passatempo: padre Alessandro gostava de cantar com a família, aos domingos, depois da missa. Nunca foi uma pretensão seguir carreira. "Nem achava que cantava bem", confessa.
Ao realizar as missas, ele começou a tocar alguns cantos tradicionais em ritmo sertanejo. A ideia era atrair mais fieis. O resultado deu certo. Com o tempo, os párocos pediram para ele realizar uma missa com todas as músicas ao som sertanejo. O padre passou a celebrá-las mensalmente. As primeiras foram na igreja do Colégio Militar, onde cabem mil pessoas. Mas, rapidamente, o local ficou pequeno. Resolveram passar a cerimônia para o auditório do colégio, que comporta 3.600 pessoas. No fim do primeiro ano, 4 mil pessoas iam prestigiar o padre.
A fama do padre sertanejo se espalhou pela cidade e ele passou a ser disputado pelo fieis. Até que chegou o convite da Universal Music para gravar um CD. "Fiquei nervoso, mas sabia que essa oportunidade poderia me ajudar a evangelizar milhares de pessoas", justifica. O primeiro trabalho, O homem decepciona, Jesus Cristo jamais, foi produzido no ano passado e lançado em 20 de dezembro, em um grande show no Centro de Convenções. Para poder divulgar o projeto, o religioso pediu o desligamento da paróquia em Brasília e hoje atua como padre missionário. "Mas Brasília sempre será a minha casa."
Ele também optou por parar com as missas e transformá-las em show, pois os custos para montar um altar em todos os locais da turnê é muito alto. "O show também me aproxima dos fieis", justifica. A turnê começa este mês, em Fortaleza. No repertório, estão algumas músicas que compôs e outras feitas especialmente para ele. Há também uma série de clássicos transformados em versões religiosas, como Moreninha linda, que foi virou Jesus amigo.
Hoje, a rotina do padre Alessandro é de celebridade. Deu entrevistas para Marília Gabriela, participa de programa na TV e grava um programa que é vendido para diversas rádios no Brasil. Ele tem uma equipe de 20 pessoas, entre empresário, banda, secretário e produtores. "As pessoas têm a impressão que o sertanejo e a Igreja Católica são muito distantes. Mas, na verdade, esses dois universos coexistem. Os cantores sertanejos são muito religiosos. Eu, por exemplo, sempre cantei clássicos do sertanejo nas minhas missas."
Em busca da fama
Os dois cantaram juntos só de brincadeira. Conversaram sobre música e perceberam que tinham várias ideias em comum sobre o assunto. Cristiano gostou do som que eles criaram e resolveu chamar Augusto para formar uma dupla. Passados 10 anos, já gravaram dois CDs ; vão produzir o terceiro este ano ;, fizeram diversos shows e, desde então, vêm batalhando para emplacar um sucesso. O segredo da dupla é juntar boas letras com música de qualidade e voz afinada. Apesar de ganharam cachê quando se apresentam, a dupla ainda tem que trabalhar em outras áreas ; Augusto como auxiliar de fotografia e Cristiano como autônomo ; para sustentar o sonho da música.
Eles garantem que balancear as duas profissões não é difícil, mas só continuam no emprego formal porque precisam pagar as contas no fim do mês. Além disso, com o dinheiro que sobra, investem na própria carreira. Compram equipamento, reservam o estúdio, investem em publicidade, pagam a banda para fazer os shows e juntam para produzir o próprio CD. "Eu nunca vou perder o sonho de ganhar a vida cantando, é para isso que eu luto todos os dias", espera Cristiano.
Em alguns momentos da carreira, chegaram a fazer 20 shows em um mês. Mas, atualmente, realizam quatro ou cinco. Augusto e Cristiano já cantaram para 10 mil pessoas e hoje têm contrato para fazer shows semanais em um pesque-pague. Precisaram diminuir o ritmo, pois ficaram parados por um ano por causa de um calo na garganta de Augusto. Aos poucos, voltam à cena. Mas sentem as dificuldades. "O mercado de Brasília está saturado. As pessoas descobriram que aqui é um bom lugar para as duplas. Tem gente que acaba cobrando superbarato e isso desvaloriza as outras bandas", analisa Augusto.
Por isso, os dois tentam se agarrar ao talento para se destacar. Além de ter uma boa voz, a dupla conta com a vantagem de ter Augusto como compositor. A habilidade de escrever dele acabou aproximando os dois às duplas mais famosas da cidade. Pedro Paulo e Mateus, Roniel e Rafael e até Jhonny e Rahony já gravaram músicas dele. Nos dois CDs já lançados e no próximo em pré-produção, a maiorias das canções foram escritos por Augusto. "Acho que o segredo para o sucesso é ser profissional e tentar fazer o melhor que você pode", conclui Augusto.
De ônibus em ônibus
Um dia, voltando de ônibus da escola, decidiu entoar algumas músicas. As pessoas aplaudiram e ele, de quebra, ganhou umas moedas. Marcinho gostou tanto de cantar em público que largou o emprego de megafone. Passou a usar o ônibus como palco. O dinheiro que ganhava, guardava dentro de um baú para futuramente gravar o seu CD. A partir daí, escreveu um discurso para se apresentar aos passageiros e marcou as rotas dos ônibus que gostava de andar. A mãe do menino, Adriana Jesus de Oliveira, só foi descobrir a "nova profissão" do filho um tempinho depois, quando a professora de Marcinho comentou, emocionada, que tinha visto o menino cantando no ônibus. "Eu tentei fazer ele parar, não adiantou nada. Só parei de insistir quando percebi o tanto que aquilo fazia ele feliz", conta a mãe.
Hoje, Marcinho faz os shows nos ônibus sempre depois das aulas. Nos fins de semana, chega a andar 12 horas por dia. Vai de Ceilândia até o Plano Piloto e depois volta para casa. Ao entrar no veículo, combina com o cobrador para bater palma quando terminar de cantar. "Só assim eu garanto que as pessoas batam palma também", conta. O repertório é eclético, mas o seu cantor favorito é o mineiro Leo Magalhães. A escolha da música varia conforme o estado de espírito das pessoas. "Se sentir que está todo mundo cansado, interpreto uma animada para as pessoas voltarem para casa alegres." No fim do espetáculo, o garoto passa o chapéu para quem quiser contribuir com algum trocado. Em um dia, ele chega a ganhar R$ 50.
Em uma das viagens, decidiu começar cantando a sua música favorita, No dia que eu saí de casa, da dupla Zezé Di Camargo e Luciano. No meio da canção, percebeu que uma passageira chorava muito. Preocupado, Marcinho perguntou se estava tudo bem com a senhora. Ela lhe disse que o pai havia morrido há pouco tempo e aquela música era a favorita dele. A mulher levantou do banco, colocou uma coisa na mão do menino e disse: "Guarde no bolso e só veja quando chegar em casa". Mais tarde, ao abrir o bolo de papel, ele viu que era uma nota de R$ 50. "Aquilo mexeu muito comigo, alguma diferença eu fiz na vida daquela moça. Isso me deu mais força para gravar o meu CD e compor músicas."
O dinheiro que ganha com o "emprego" no ônibus é o que sustenta o sonho de Marcinho. Ele já conseguiu economizar para comprar roupa de apresentação, fazer cartões de apresentação e um pôster com os seus contatos. Mas a maior compra foi um amplificador e um microfone que usa na cintura. O próximo passo é a gravação do CD. Mas ainda falta muito para o menino conseguir o dinheiro. O que não falta, entretanto, é gente querendo ajudar. O violão, Marcinho ganhou dos músicos que conheceu no projeto Radio Feira Show ; um evento organizado pela produtora Roberta Gonçalves que tem como objetivo incentivar artistas desconhecidos da cidade. Ela juntou alguns músicos para fazer um tour pelas feira populares do Distrito Federal e foi em uma dessas que conheceu Marcinho Oliveira.
"Veio um menino pequeno e com um blazer duas vezes o tamanho dele me pedir para cantar. Pela insistência, acabei deixando", conta Roberta. Ela ficou emocionada com a vontade do garoto em seguir carreira e decidiu ajudar. A produtora incluiu o menino no grupo e o convenceu a tirar o blazer e colocar uma roupa mais jovial. O objetivo dos dois agora é arrumar aula de violão e de canto para Marcinho. Tudo com a condição de que ele continue na escola. "Sei que preciso melhorar muito, mas estou fazendo tudo o que posso para seguir o meu sonho", revela o menino.
Além de sustentar o sonho, o dinheiro que ganha nos ônibus ajuda a família. Até o ano passado, ele, a mãe, o padrasto e quatro irmãos mais novos viviam em uma casa pequena no P Norte, em Ceilândia. O espaço não era suficiente para os sete, e a construção ainda corria o perigo de desabar. Foi com R$ 500 de Marcinho que a família conseguiu comprar 2 mil tijolos para construir uma nova casa. Hoje, eles vivem em um imóvel com dois quartos e estão planejando a construção de mais um para o menino poder escrever as músicas que tanto gosta em paz. "Eu tenho o maior orgulho do meu filho. Fico tão emocionada que nem consigo vê-lo cantar. Sei que ele vai chegar longe", fala a mãe coruja.
Nas paradas do sucesso
Das 10 músicas mais pedidas na Clube FM ; a líder de audiência no Distrito Federal em todas as classes, horários e faixa etária;, sete são no estilo sertanejo. O fenômeno é relativamente recente, de uns 10 anos para cá. Antes, na lista, apareciam mais pagode, axé e MPB. Para se entender a força do estilo musical, a faixa mais tocada é Nêga, de Luan Santana, que recebe o dobro de pedidos da quarta colocada, Someone like you, da cantora inglesa Adele. Seguem as músicas que mais fazem sucesso na rádio:
1) Luan Santana ; Nêga
2) Jorge e Mateus ; Amor covarde
3) Michel Teló ; Humilde residência
4) Adele ; Someone like you
5) Jorge e Mateus ; Eu quero só você
6) Ana Carolina ; Problemas
7) Michel Teló ; Ai se eu te pego
8) Victor e Leo ; Lágrimas
9) Tiaguinho ; Buquê de Flores
10) Gusttavo Lima ; Fora do comum
Fonte: Clube FM
Estouro nacional
Surgem novos artistas sertanejos de tempos em tempos. Difícil acompanhar quem são os grandes nomes da cena nacional, mas veja quem está no topo do sucesso nos dias de hoje.
Michel Teló ; É o cantor que tem o maior potencial de carreira internacional após o sucesso de Ai se eu te pego.
Paula Fernandes ; A única mulher do grupo, gravou um dueto com a cantora pop country norte-americana Taylor Swift..
Luan Santana ; O sonho de consumo das adolescentes brasileiras não perde o reinado para ninguém.
Gusttavo Lima ; Uma mistura de Michel Teló e Luan Santana, é a nova aposta de galã e rei do sertanejo.
Victor e Leo ; A dupla é uma das mais famosas, canta um sertanejo mais clássico. Victor é o artista brasileiro que mais ganha dinheiro com direito autoral das músicas.