Os filhos são nossos, mas também são do mundo. A forma de educá-los é decisão de cada família, mas, às vezes, esquecemos que parte da aprendizagem é compartilhada com a escola. Exagerando, podemos dizer que a sociedade inteira tem o que ensinar, incluindo os outros pais, os coleguinhas e os professores. É estranho, portanto, que a gente nunca se pergunte: Quem é o dono do giz? E a lousa, é de quem? A quadra de esportes é de todos?
Há uma parte tímida da classe média disposta a pedir de volta o direito de matricular os filhos em uma escola pública de qualidade. Essa minoria não fica de braços cruzados e se sintoniza com as questões da comunidade escolar para que a formação dos filhos não dependa somente de verbas atrasadas ou projetos educacionais engavetados. Proativos, eles pretendem dar uma nova cara à instituição bordada por índices deficientes de qualidade. Tomam para si a responsabilidade de zelar pelo bem público e auxiliar a escola como coadjuvantes de destaques. Mas quem são esses pais? O que eles fazem pela escola pública?
Direito garantido
Na Escola Classe da 304 Norte, o barulho que se escuta pelos corredores não é dos alunos, que ainda aproveitam as últimas semanas de férias. Mas de pintores deslocando as escadas para alcançarem todos os espaços que precisam ser retocados antes do início das aulas. Lá fora, funcionários da Novacap retiram o capim da quadra de futebol e aparam os galhos que ameaçam cair no pátio. Enquanto a escola se prepara para mais um ano letivo, a empresária Angélica Brunacci, 33 anos, conversa com os funcionários, se dispõe a ajudar, faz sugestões sobre as mudanças e observa as melhorias do lugar onde a primogênita Sofia, 8 anos, estuda.
A empresária participa da APM porque acredita que uma atitude proativa dos pais seja peça fundamental para o êxito do ensino público. Além de participar de conselhos e reuniões da comunidade, Angélica e Diego também reservam algumas horas da semana para ir à escola e realizar atividades extras. Caso do laboratório de informática que Diego instalou e para o qual presta assistência. Angélica também ministrou uma oficina sobre segurança na internet. ;Ninguém te cobra para ser participativo, mas se um pai domina a parte elétrica, ele vem ajudar da mesma forma que outro pai, serralheiro. A escola pública é assim: uma via de mão dupla;, diz Angélica.
Apesar de se juntar a outros pais de classe média cujos filhos estão matriculados na escola classe, a empresária desconhece a existência de uma rede organizada de pais em prol do ensino público. No entanto, Angélica observa que tal envolvimento nas atividades pedagógicas passa a ocorrer a partir do momento em que pai e mãe matriculam os filhos no ensino público e se tornam parte da comunidade escolar. ;Acho que tudo parte do seguinte princípio: quando a classe média abandona o serviço público, ele fica caracterizado como ;para pobre;. E não é. É um serviço pelo qual todos pagamos por meio de impostos;, defende.
Sofia, filha de Angélica e Diego, não vê distinções entre os coleguinhas, ainda que muitos experimentem uma realidade bem diferente da menina de classe média. ;Andamos com ela de metrô, de ônibus e explicamos, à medida que nos questiona, como é a vida de algumas amigas da escola ou por que não é asfaltada a frente da casa da amiga. Queremos preparar nossas filhas para o mundo;, diz Diego. Isso porque, além de Sofia, a pequena Laura, de 3 anos, deve entrar na Escola Classe da 304 Norte em breve. Por enquanto, a caçula estuda na Vivendo e Aprendendo, uma associação sem fins lucrativos mantida pelos pais dos alunos, cujo modelo educacional difere das escolas particulares no DF.
Outra diferença no dia a dia de Sofia, ressaltada pelos pais, é que ela não demanda brinquedos ou gadgets como outras crianças da mesma idade. O celular que ganhou dos pais só é usado quando a menina tem aula de ginástica acrobática no Centro Interescolar de Educação Física (Cief), também público. A mochila ou mesmo o estojo também não são aqueles ;da moda;. Nem por isso, ela sente falta.
Tampouco Sofia sofreu qualquer tipo de bullying na escola por ser de classe média. Nem os pais foram questionados por outros de menor poder aquisitivo sobre a vaga que a menina ocupa numa escola pública, sendo que o casal de classe média teria condição financeira de matricular a menina numa particular. Para os pais de Sofia, a ideia de que estariam roubando a vaga de alguém que realmente precisa é consequência de um abandono do ensino público por parte da classe média. Para Angélica, o que houve foi um afastamento da classe média quanto às escolas públicas. ;Mas ainda há pais que querem usufruir desse direito;, complementa.
Por apostar numa educação diferenciada para as filhas, em que precisam acompanhar diariamente o desenvolvimento das filhas em casa e na sala de aula, Angélica e Diego também travam outra briga. Dessa vez, está em xeque o preconceito. O casal ainda se justifica para pessoas que rechaçam o ensino público. ;Já fomos recriminados por gente que tem condição financeira pior que a nossa;, lembra Angélica. ;Falam que não estamos dando o melhor para nossas filhas;, conta Diego.
Mesmo assim, os pais de Sofia e Laura não se arrependem da escolha, ainda que tenham cogitado matricular as meninas em um colégio particular. No entanto, eles desistiram por não encontrar nenhuma escola onde pudessem acompanhar tão de perto a formação da filha e participar das decisões da escola. Para o casal, a opção pelo ensino público só valerá a pena enquanto for benéfica à formação das filhas. ;O bem-estar das meninas vem antes. Não tenho esse absolutismo ideológico. Temos que pensar nelas primeiro;, destaca Diego.
Questão de formação
Até encontrar uma escola de ensino fundamental de qualidade para os filhos, ela e o marido, o servidor público Roberto Guerrero Marques, 56 anos, tiveram que pesquisar muito. Buscaram referências, foram atrás de instituições do ensino público e particular ranqueados pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), mas, graças ao boca a boca, chegaram à Escola Classe da 304 Norte. O filho mais velho, Fernando, de 14 anos, no entanto, não faz mais parte do ensino público. O adolescente foi matriculado, recentemente, numa escola particular porque os pais não encontraram uma instituição de ensino médio e público que oferecesse ao filho as mesmas condições que outros meninos do ensino particular têm para concorrer a uma vaga na universidade pública.
Esse, inclusive, é dos motivos pelo qual Mirian sabe que nem tudo são flores na escola pública. ;Existem muitos desafios, dificuldades, mas lutamos juntos com a escola;, pondera. A transição experimentada por Fernando provocou, de início, estranheza. Mas o adolescente diz que tirou de letra as mudanças. Uma das razões, acreditam os pais, é a visão diferenciada de mundo que ele desenvolveu no ensino público.
A servidora dá crédito ao exercício da cidadania e de responsabilidade que Fernando apreendeu durante todo a fase do fundamental. Ex-aluna de escola pública no Rio Grande do Sul, bem como o marido em São Paulo, Mirian não se arrepende da educação que traçou para os filhos. ;Quero que eles lutem por uma mudança na sociedade, por questões que realmente façam a diferença e que não tenham, simplesmente, uma carreira ou reduzam suas preocupações à própria questão financeira;, almeja.
Em prol da qualidade
Cidadania: a primeira lição
;Observei que eu e outros pais montávamos estratégias para matricular nossos filhos em determinadas unidades. No ensino público do DF, percebemos algumas escolas, de ensino fundamental e médio, como de referência. O que faz a gente buscar essas vagas? Uma direção forte, um corpo docente comprometido, uma participação da comunidade escolar, uma gestão que integre, de fato, os anseios das famílias;, enumera.
Sem uma pesquisa formalizada, a professora não se arrisca a apontar um ;renascimento; da escola pública de qualidade. Sua inserção prática, porém, comprova que há uma presença de pais bastante ativos nos colégios do governo localizados no Plano Piloto. ;Eles entendem que a cidadania só pode vir em um espaço coletivo, de amadurecimento de ideias. Então há um desejo grande de que essas instituições funcionem e cumpram um papel para além da transmissão de conhecimento. Tem uma questão ideológica, de querer acreditar no sistema público.;
A professora endossa esse ponto de vista quando descreve Brasília como uma cidade ;muito segregacionista;. ;A classe média pega o seu filho, tira o carro da garagem e vai direito para um espaço público entre iguais. Então essa criança não tem contato com aquelas de outra condição social, com outras referências culturais. Particularmente, acho que a escola pública é um desses espaços onde elas terão contato com a diversidade.;
Outro problema pontual aconteceu quando uma professora falou ao celular em sala de aula. Tânia foi reclamar pessoalmente e, diante da reincidência da atitude, se queixou ao conselho escolar. ;Achei um desrespeito com os alunos. Essa pessoa não tinha noção que estava ali como modelo de comportamento;, desabafa. A falta de espírito coletivo acaba tendo um efeito colateral: o pai exigente corre o risco de ser taxado de cricri. ;As demandas ficam como se fossem questões pessoais, é uma visão de personalização das relações, sendo que, na esfera pública, isso não poderia acontecer.;
Felizmente, os obstáculos acima foram exceções e nada tiveram a ver com a decisão da pesquisadora de, no ano passado, matricular o primogênito na rede particular. ;O Iago estava finalizando um ciclo (na Escola Classe 106 Norte) e achei que seria interessante para ele estar em um colégio menor, com atenção individualizada e com uma metodologia mais tradicional. Aí você tem que levar em conta o perfil da criança e esse acompanhamento para ele é importante;, avalia.
Não que esteja imune à sensação de nadar contra a corrente, mas Tânia aprova o caminho escolhido. ;Ainda há professores fazendo um trabalho maravilhoso e, às vezes, a gente encontra uma pessoa com sensibilidade, compromisso e humildade para dialogar. Eu tive a sorte de encontrar o sentido mais amplo da educação: na tentativa de ensinar, a gente aprende muito. Antes de mais nada.;
Parceria
Associação de Pais e Mestres (APM): Tanto a APM quanto a Associação de Pais, Alunos e Mestres (Apam) e a Caixa Escolar são entidades legalmente constituídas pelas comunidades escolares sob a forma de pessoas jurídicas de direito privado sem fins econômicos. Elas têm como objetivo: auxiliar na administração escolar, participar de reuniões de planejamento e avaliação das atividades da instituição, captar recursos financeiros para prestar assistência suplementar e/ou emergencial à escola, receber, executar e prestar contas dos recursos financeiros obtidos por meio de repasses governamentais, como também os provenientes de doações ou eventos, além de promover e apoiar atividades sócios-culturais. A Secretaria de Educação do DF destina à APM, à Apam ou à Caixa Escolar ; toda escola tem uma dessas unidades gestoras para representar a comunidade escolar ;, o equivalente a R$ 45 por aluno.
ENTREVISTA ; Vanessa Cabral
Em um dia não tão belo assim, o pavio de Vanessa Cabral, 37 anos, encurtou de vez. O colégio chique e caríssimo frequentado pelos filhos Arthur, 12, e Ian, 10, estava mais para enganação. Após uma pesquisa, a jornalista matriculou os meninos na rede pública paulistana. Em um primeiro momento, na escola estadual Brigadeiro Faria Lima, depois, na municipal Amorim Lima. Durante esse período, manteve um blog chamado Escola pública não é de graça, que acabou se tornando uma referência entre mães de classe média dispostas a tentar outros modelos de ensino. Seus posts oscilavam entre o entusiasmo e a crítica ferrenha ; isso até o site hibernar, em junho do ano passado. Um pouco frustrada, ela aposta novamente no ensino privado. Na entrevista a seguir, ela expõe os motivos.
Como você ;descobriu; a rede pública?
Eu sempre fui muito ativa, de participar mesmo na escola. Tentei entre várias particulares, sempre aquelas ;boas e caras;. E eu sempre muito insatisfeita, porque, se a escola era boa no ensino formal, pecava pela mentalidade e pela formação global. Assim, fui alternando entre as fortes no ensino formal e as ;alternativas;. Comecei a pesquisar, mas meus filhos eram pequenos ainda e eu achei que não era o momento, porque criança menor não sabe falar tudo que está acontecendo e eu ficava com um pouco de medo.
A Brigadeiro Faria Lima era do lado da sua casa, né?
Eu já tinha ido lá e era aquele esquema: tinha grades, não gostei dos diretores. Até que voltei, em outubro daquele ano, e achei que algo tinha mudado, porque o aspecto físico estava diferente. Enfim, estava com mais cara de escola infantil e menos de presídio. E aí conheci o diretor novo e achei o cara muito interessante, mais consciente do papel da escola. Acabei indo mais umas três ou quatro vezes; conheci professores; vi que a escola era muito aberta; que a gente podia circular. Enfim, era muito transparente a relação. Achei que era o momento de tentar.
O blog surgiu logo em seguida?
Isso. Tive a ideia para acompanhar o processo. Eu já conversava com várias amigas que queriam fazer o mesmo, mas tinham medo. Tem essa coisa da nossa classe, que morre de medo, que acha que o filho vai ser estuprado, que vai virar um drogado. Tinham vários mitos. Fiz o blog pra isso: para desmistificar algumas coisas e para ser um modelo de pressão.
Quais foram as suas impressões?
A princípio, foram ótimas, porque as professoras eram muito boas. Mas é difícil, porque você lida com várias demandas que numa escola mais protegida não tem que lidar. Mas foi superválida a experiência. E acho que, em termos de estudo, não deixou a desejar. Deixava em termos de estrutura.
Foi um balde de água fria?
Acabei optando pela Amorim Lima, considerada modelo dentro da rede municipal. Há 10 anos eles mudaram completamente a pedagogia da escola. Parece com a do mestrado, com linhas de pesquisa ; é bem interessante. E lá tem um grupo de pais superatuantes, que embarcaram no projeto. Mas o que eu comecei a perceber? O projeto era incrível, só que a estrutura da gestão do município atrapalhava demais. Tem menos professores do que deveria, por exemplo. A biblioteca foi os pais que fizeram, então não tinha um profissional da área ajudando. Para a aula de informática, deram um monte de computadores para a escola, equiparam tudo. E aí ficaram seis meses para habilitar a internet. Assim não é possível.
Isso comprometia a aprendizagem?
Senti que o ensino formal foi ficando pra trás. Então tomei a atitude meio radical ; por isso, parei de escrever no blog ; de voltar com eles para uma particular. A aprendizagem estava um pouco defasada mesmo. Acabei optando por voltar, mas muito frustrada.
O que ficou dessa história?
Vejo que tem vários pais muito interessados, mas isso acaba brecando na gestão pública, o que é uma coisa absurda. O problema mais grave não é de formação de professores, que nem todo mundo fica batendo. Eu conheci alguns incríveis nessas escolas, mais até do que nas particulares. Acho que, no tripé pais-professores-administradores, os dois primeiros estão a anos luz dos gestores. O saldo para mim é uma vergonha em relação à gestão da educação no país.
O caminho não só de flores
Beatriz, 56 anos, postergou até onde foi possível o momento de matriculá-los na escola. ;Optei por sair do emprego convencional e trabalhar em casa justamente para isso: para acompanhar a vida deles. Acho que, nessa primeira fase da infância, é importante brincar também. Então a obrigação da escola podia vir um pouquinho depois;, explica. Assim, os pequenos ingressaram no sistema por volta dos 7 anos. Começava aí uma história impressionante, na qual a família inteira se doou em nome de uma formação íntegra e sólida.
Dá para dizer que os cinco conheceram a fundo a rede no Plano Piloto. Estudaram nas escolas da 304 Sul, da 316 Norte, da 103 Sul, da 113 Norte, na Escola Parque, no Cean (Centro do Ensino Médio da Asa Norte), no Centro de Ensino Médio Paulo Freire (610 Norte), no Gisno (908 Norte). Judô e natação foram no Cief (Centro Interescolar de Educação Física). Línguas fizeram no Cil (Centro Interescolar de Línguas). Música, na Escola de Música de Brasília. ;A gente procurou usufruir ao máximo o equipamento público;, resume o patriarca, hoje com 60 anos.
Ao longo do caminho, o realismo foi de grande valia. ;O ensino público, com algumas exceções, tem suas deficiências. Então, desde cedo, a gente os ensinou a não se limitar às limitações da rede. Então, eles procuraram sempre estudar por fora. Alguns conseguiram bolsas, e todos trabalharam para ajudar em casa. O sistema deixa meio à míngua, mas também tem suas vantagens. Eles ficaram mais autossuficientes;, diz Humberto, cuja formação básica foi parte no Colégio Dom Bosco, parte no famoso Ciem. ;Ensinamos que eles poderiam ser pessoas completas, sem serem escravos de dinheiro;, completa a mãe.
O casal é ciente de que a opção de vida deles abarcava o destino dos meninos. ;Se você puder conversar com os filhos sobre as carências e oportunidades, a experiência é bastante rica e se vive mais harmoniosamente;, acredita Beatriz. ;A escola pública é um retrato mais real da sociedade;, conclui Pellizzaro. E os pais marcaram presença. Naquela época, por exemplo, Humberto curtia acampar e fazer trilhas. Nessas ocasiões, sempre estendeu o convite às demais turmas. Comunicava à direção e, aqueles que os pais autorizassem podiam entrar na aventura.
;Nem tudo foram flores;, ressalta Beatriz. ;Muitas escolas são fechadas. Foi uma convivência com certo atrito.; Duas coisas a preocupavam sobremaneira. A alimentação e o desperdício de material escolar. No primeiro caso, ela identificou uma carência. ;Eles não consideram que possa existir pessoa vegetariana. Muitas vezes, uma criança de 4 anos come só arroz e salada, porque tem carne todos os dias.; O problema foi parcialmente contornado quando os Pellizzaro toparam dar palestras sobre nutrição para merendeiras, professoras e outros pais, sempre que possível.
A segunda questão foi mais espinhosa. As professoras tinham o hábito de usar os cadernos como suporte para folhas xerocadas, em vez de pastas. ;Agora, depois de muitos anos, uma professora me falou: Sabe que você tinha razão?;, revela Beatriz. O racionamento tinha uma motivação, além do óbvio aspecto ecológico. Os cinco atravessaram ensino básico, médio e superior sem livros. Isso mesmo. Todo o material consultado, exceto os exemplares fornecidos pela rede, era de bibliotecas públicas.
Importante ressaltar ainda que, durante todo esse período de formação, os meninos trabalharam no negócio da família (e, mais tarde, como monitores, na universidade). Não tirou pedaço de ninguém, pelo contrário, deu fibra. Todos ingressaram na UnB, exceto Yolie, que cursa turismo no Senac de São Paulo. Os formados engrenaram carreiras muitíssimo bem-sucedidas. Marcos, por exemplo, é engenheiro florestal. Formada em educação física, Kimie é servidora licenciada do Banco do Brasil e mora atualmente em Bamberg, Alemanha.
O caçula André teve formação em webdesign na Itália graças a uma bolsa de estudos. Hoje, cursa matemática e vê com simpatia uma carreira na área financeira, embora ainda esteja no terceiro semestre. Ele estudou no Cean, ao qual não poupa elogios. ;A maioria dos professores de lá são mestres, graduados pela UnB.; E minimiza os eventuais problemas: ;As aulas nem sempre são boas e nem todos têm o interesse de aprender. Isso não ajuda, mas é assim em qualquer sala de aula. Então tem de ter interesse e ir atrás. Na particular, esse incentivo pode rolar por competição. Mas o melhor mesmo é querer algo ; esse é o maior estímulo;, ensina, com simplicidade.
Tudo pode dar certo
Como os irmãos, Keiko passou pelo Cean, que a marcou profundamente. ;Foi fundamental para mim. Lá eu fiz amigos que tenho até hoje e foi um período muito rico de experiências;, recorda. É gratidão autêntica. ;Eu fiquei assustada quando soube que o Gisno está fechando um turno de ensino médio porque não tinha aluno. Pensei: ;Poxa, vou colocar minha filha numa escola pública.; Sua principal ressalva em relação à rede é mesmo o número de greves enfrentadas, que descontinuavam o aprendizado. ;A sorte é que sempre gostei de estudar, de ler, e fui levando sem muito esforço, o que era muito bom.;
Quando estudava no antigo Paulo Freire e o vestibular batia à porta, Keiko soube aproveitar uma oportunidade rara. Naquela época, um dos professores de matemática da unidade era o Toshio Nakamura. Ele se desligou da escola justamente para fundar o Galois, colégio particular que hoje é referência. Nesse momento, ofereceu três bolsas para seus antigos alunos. Keiko foi uma das indicadas pela diretora. Curiosamente, os outros dois premiados não aceitaram a proposta. O resto da história é emocionante: quando a bolsa terminou, Keiko pediu para trabalhar na secretaria do Galois em troca do auxílio. Vieram as provas e ela passou em primeiro lugar geral no PAS (Programa de Avaliação Seriada da UnB).
Sempre guardou para si essa glória. ;As pessoas nem souberam. Não é muito meu estilo ficar alardeando. Então fiz biologia e foi ótimo. Descobri que a universidade pública tinha muitas semelhanças com as escolas que eu havia estudado, o que pode ser muito bom ou muito ruim. Mas, para mim, foi interessante: o que eu aprendi serviu até para passar em concurso. Tive bons professores. Acho que dei sorte;, arremata.
Participação legitimada
Uma das batalhas travadas pela comunidade escolar foi finalmente aprovada pela Câmara Legislativa em dezembro passado. Projeto de lei proposto pela deputada Rejane Pitanga (PT-DF), o PL n; 588/11, da Gestão Democrática do Sistema Público de Ensino do DF propõe maior participação de pais e estudantes na gestão do ensino público. Durante a votação, a deputada citou como avanços a democratização e um maior controle social do Conselho de Educação do DF, que passará a ter como representantes professores, estudantes e outras entidades da sociedade civil para a criação do Fórum Distrital de Educação e da Conferência Distrital de Educação. A previsão é de que até o fim desse semestre sejam feitas as eleições para as direções de escola. É possível ler o projeto na íntegra no site: http://www.bayron.com.br/rejane_pitanga/Parecer_pl_588-2011gestao.pdf