Se hoje a moda pipoca na televisão, nos jornais, nas centenas de revistas especializadas e nos incontáveis blogs que falam do assunto, na década de 1980 o cenário fashion era bem menos farto. Nada de sites, programas na televisão e nem mesmo semanas de moda brasileira. Foi nesse contexto que surgiu Cristina Franco. Jornalista e consultora de moda, ela foi uma das pioneiras no país a abordar o tema de forma simples e explicativa. Por 15 anos, ela aparecia no Jornal Hoje, da TV Globo, para falar sobre o que rolava na moda internacional e por aqui. Era um dos primeiros passos para democratizar esse tipo de informação, conhecer um pouco mais sobre o que grandes estilistas faziam pelo mundo.
Ela viajou o mundo e entrou nas mais concorridas semanas de moda. Esteve na fantástica casa, como ela define, de Kenzo Takada em Paris, entrevistou Christian Lacroix e Jean Paul Gaultier. Conheceu gente muito chique e seu desafio era simplificar tanta sofisticação. Cristina deixou o vídeo em 1995, mas continua trabalhando com moda. Presta consultorias e dá palestras sobre o tema. De passagem por Brasília, falou com a Revista. Com senso de humor apurado, ri e conta histórias. Na hora de dar entrevista, no entanto, mede as palavras. Discreta, não gosta de citar nomes. Nem para elogiar, tampouco criticar. Cristina mora na Bahia, mas não perdeu o sotaque carioca. Amante da moda genuinamente brasileira, garante: é preciso apostar no DNA do país na hora de criar.
Identidade brasileira
;Com a globalização, tudo acaba sendo muito igual. Se você quer ser competitivo e reconhecido, é preciso apostar, sem dúvidas, na identidade do seu país. Para se aventurar no mercado externo você tem que ter lenço e documento. No caso do Brasil, por exemplo, você tem matrizes africanas, as iconografias indígenas e europeias. Alguns estilistas brasileiros já entenderam isso e trabalham essa identidade durante o processo criativo. Posso dizer que o Lino Villaventura foi um dos pioneiros do processo que usa nossas raízes para fazer moda.;
Semanas de moda do Brasil
;Certos formatos têm que passar por revisões. Desde 2008, nós estamos enfrentando furacões financeiros no mundo. Precisamos redimensionar as semanas de moda brasileira, que duram uma semana. É preciso racionalizar, enxugar mesmo. Estamos falando de mercado e precisamos nos concentrar mais nos negócios. Me incomoda esse excesso de glamurização.;
Business
;Moda é um negócio. Sempre foi. Quando você trabalha com moda, não trabalha com o ego. É preciso ter a responsabilidade de empresário. Você precisa saber para quem está vendendo. Não adianta fazer marketing se não tem um produto de qualidade para entregar.;
Cobertura de moda nos anos 80
;Eu era quase um Indiana Jones. Não tinha a estrutura que tem hoje. A logística era terrível. Viajava eu e uma equipe de duas pessoas. Uma viagem a China era quase como chegar a Marte. Era muito difícil entrar nos desfiles. Naquela época, as pessoas não tinham o respeito pelo assunto que deveriam ter. Meu olhar sempre foi jornalístico, com foco em design, economia e cultura. O objetivo era democratizar essas notícias. A gente usava uma linguagem muito simples. O cunho da história era muito mais a informação do que um estímulo ao consumo.;
Enquanto isso, no Brasil;
;Por aqui tínhamos grupos incríveis trabalhando com moda, como o Grupo Mineiro de Moda. Sempre digo que o melhor japonismo (influência daquele país na arte e na moda) feito fora do Japão estava em Minas Gerais.;
Falar de moda hoje
;A cobertura de moda no Brasil atualmente conta com uma multiplicidade de mídias que permite as mais variadas linguagens. Os blogs, por exemplo, viraram um fenômeno mundial e você tem acesso à informação rapidamente. Às vezes, os blogueiros nem têm tanto conteúdo de moda do ponto de vista jornalístico, mas têm um olhar interessante sobre o tema. Eles criam até dialetos.;
Tendências
;Hoje você tem roupas e códigos de moda cujos focos são os mais diversos estilos de vida. As pessoas se vestem muito mais de acordo com a rotina que levam. Por que alguém, por exemplo, que tenha um estilo de vida aberto, iria querer comprar um vestido com cauda?;
Estilo Cristina Franco
;Não sou perseguidora de grifes. Adoro mercados. Em todos os lugares do mundo você encontra o DNA de um povo no mercado. Adoro usar artesanato. Adoro vintage, as matérias-primas, os tecidos. Adoro acessórios. Eles personalizam, dão a sua cara à história.;