Baroud, como é chamado, tem 65 anos e mora em uma casa de 750m; no Lago Sul. Após 40 anos de casado, se divorciou da esposa. Os filhos, já adultos e independentes, não moravam com os pais há anos. "Fiquei aqui preso nessa casa imensa, uma solidão danada. Meus filhos, noras e netos me visitam bastante, mas quando vão embora, fica aquele vazio", conta o advogado aposentado. Para evitar o sentimento ruim, Baroud vivia viajando. Quando muito, passava dez dias por mês em Brasília, só vinha para ver os filhos e os netos. "Eu não tinha motivo para estar aqui, ficava na frente do computador, procurando onde estava fazendo sol. Fortaleza? Ia para lá. Rio de Janeiro? Comprava a passagem. Minha vida era andar por esse país", lembra. Foram cinco anos nessa rotina.
Em uma de suas estadas em Brasília, durante um churrasco com os filhos e a ex-mulher (de quem jamais perdeu a amizade), surgiu o assunto solidão. Karim Roberto, um dos filhos de Baroud, sugeriu que ele adotasse um cão para fazer companhia. "Na hora que ele falou, lembrei logo da Luna, um boxer que tive há anos. Ela era supercompanheira, dormia no meu quarto até. Quando voltei de uma viagem de 45 dias na Europa, meu filho foi me receber no aeroporto com uma cara estranha. A Luna tinha morrido enquanto eu estava fora. Eram 11h. Assim que chegamos em casa, só pedi para tirarem as malas do carro e me dessem a chave. Só voltei à 1h da manhã. Não conseguia entrar em casa sem ela. Não quis mais saber de cachorro, a gente se apega muito quando perde", lembra, emocionado, o aposentado. Não se sabe do que Luna morreu ; nunca tinha tido nenhum problema de saúde. Baroud acredita que foi saudade. Mas, na nova situação em que se encontrava, aceitou o desafio.
Na mesma hora, a nora de Baroud Carine Pinheiro, foi em casa buscar Simão. "De vez em quando pego alguns animais de rua para cuidar, já cuidei até de coruja", conta a funcionária pública. Em uma visita ao veterinário, foi abordada por uma senhora que queria dar um de seus cães. Quando soube que era um filhote de golden retrivier, aceitou na hora. E quando ouviu que o sogro queria um cachorro, Simão foi a opção perfeita. "Ele já chegou aqui fazendo bagunça, conquistando todo mundo. E de lá para cá, houve uma mudança muito grande na minha vida mesmo. Primeiro, na companhia: ele só dorme perto do meu quarto. Não adianta colocar a cama dele em outro lugar, só dorme perto de mim e está sempre onde eu estou. Isso transforma a vida da gente, não tem mais tristeza, tempo ruim, só alegria", diz.
Graças a Simão, a frequência de viagens foi drásticamente diminuída. Agora, quando Baroud viaja, Simão fica com Carine. "Mas ele sofre. Da última vez, ficou muito triste mesmo. Nem petisco ele queria comer. No dia que íamos levar ele de volta, Simão entrou no carro sozinho, parece que já sabia que ia para casa", conta a nora. E o golden é tratado como um filho: todas as vezes que Baroud vai ao mercado, compra algum agrado para o cão e até escova seus dentes diariamente.
E Simão recompensa os cuidados, cercando o dono e sua família de carinho. Um dos netos do advogado, Erick Roberto, 2 anos, adora brincar com o cão. Corre atrás, pega a bola, pula em cima e até tenta dividir seu almoço com ele. O golden, no alto de sua paciência, brinca com o pequeno com todo o cuidado, consciente de seu tamanho. Mas Simão, de um ano e oito meses, também é criança e, às vezes, se empolga ; já quebrou uma garrafa de whisky e vive derrubando objetos enquanto faz sua festa. Mas Baroud o aceita sem reservas, um amor incondicional. "A alegria que ele me dá compensa tudo."