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Vovó blogueira

Heloísa Cunha criou um blog para dividir com os internautas a experiência única de ser avó... e de muito mais

Antenada às novidades do mundo virtual, Heloísa Cunha tem 73 anos e uma única neta, Isadora, de 5 anos. Com a experiência de ser avó, ela se viu envolvida em outro projeto inovador: criou um blog onde relata, entre outras coisas, o prazer da rotina com a netinha. Assim surgiu o Blog da vovô; mas não só (), que conquistou leitores em todo Brasil, encantados pela paixão dessa avó pela caçula da família.

Como surgiu a ideia de fazer um blog? Sua intenção era dividir com outras mulheres a experiência de ser avó?
Minha filha tinha criado um blog, em que contava sobre sua vida com sua filhinha. Passei a comentar os posts e notei certo entusiasmo das outras comentaristas, todas jovens, a respeito das minhas colocações. Resolvi, então, criar um blog para falar sobre a vida, e dividir experiências. No início, ele girava mais em torno da netinha, do seu desenvolvimento, das preocupações com ela, muitas vezes fazendo um paralelo com situações semelhantes que havia vivido com meus filhos. Com o tempo, outros assuntos foram chegando, mas sempre mantendo o foco na família, e na vida. E dando muito destaque para a netinha.

Qual foi o retorno que teve do blog? O que as pessoas te diziam, queria saber?
Embora não tivesse a preocupação com o retorno, fiquei muito feliz com a aceitação do meu blog. Há um número razoável de pessoas que me acompanham e tenho fiéis comentaristas. Também já fui contatada por diversas jornalistas, em busca de entrevistas. Além disso, pelo blog conheci muitas pessoas interessantes, até de outros países, e estabeleci contatos de amizade.

A Isadora é sua primeira e única neta. Como se sente sendo avó?
A Isadora é minha primeira e única neta. Gostaria que o número fosse maior, mas me sinto imensamente recompensada por essa oportunidade única.

Ela já curte o blog?
Ela ainda é pequena, pois completou 5 anos em julho. Mas sabe que tenho um blog e, muitas vezes, quando ele está na tela do computador, encanta-se com as fotos.

Que tipo de avó você é? Daquelas que mimam, deixa a netinha fazer um pouco de tudo?
Sou uma avó absolutamente presente, e tenho uma relação muito forte com minha netinha. Ela adora ficar comigo, pois fazemos diversas atividades diferentes, mesmo dentro de casa. Até na cozinha, nos distraímos. Ela vai brincando, e aprendendo. Por outro lado, não sou uma avó que permite tudo. Mimo bastante, no sentido de expressar muito carinho e afeto, mas coloco limites no seu comportamento.

Você tem ou teve conflitos com sua filha por conta da criação e educação da Isadora?
Sempre tive uma relação muito boa com minha filha, e sem conflitos. Mas, por conta da criação da Isadora, tivemos algumas situações difíceis. E isso porque, contrariando o usual, ela se mostrava totalmente permissiva, enquanto eu, que como avó deveria aceitar tudo, queria colocar limites. Hoje, parece que chegamos a uma boa acomodação, tanto que fizemos uma viagem de 10 dias, as três, sem qualquer problema. E vivendo juntas as 24 horas do dia.

Qual o seu papel em relação à Isadora?
Tenho o papel de avó presente, sempre disposta a ajudar. Moramos separadas por aproximadamente 80km, pois vivo em Santos e elas, em São Paulo. Dificilmente passamos uma semana sem nos vermos. A saudade não permite. A Isadora é agarradíssima com a Priscila, sua mãe, e também comigo. Isso, muitas vezes, a deixa dividida. Se estamos em dois carros, vem a dúvida: vai com a mamãe ou com a vovó? Se está passando o fim de semana na casa da vovó, vai dormir num colchãozinho ao lado da cama da vovó ou da mamãe? E na hora de voltar para São Paulo, ela sempre quer ficar mais um dia com a vovó.

O que a senhora acha que mudou na relação de avós e netos atualmente? Imagine algumas décadas atrás uma avó blogueira... Isso faz parte da modernidade, não é mesmo?
Acho que a mudança foi enorme. As distâncias foram diminuindo, e hoje é possível um entrosamento muito grande entre avós e netos. No tempo em que eu era neta, os contatos com os avós eram distantes, e até frios. Era uma época em que não se expunha os sentimentos. No tempo dos meus filhos, as relações já tinham uma carga bem maior de afetividade, mas faltava, aos avós, a mobilidade dos dias atuais. Hoje, nós, avós, somos blogueiras, internautas, motoristas, ativas, e conseguimos estar sempre próximas dos netos. E nos derramamos em amor, sem qualquer constrangimento.

Quais os conselhos a senhora daria para outras avós, no sentindo de estabelecer uma relação amorosa com netos, mas ao mesmo tempo participar da educação deles e transmitir valores?
É difícil dar conselhos. Acho que quem tem amor consegue estabelecer uma relação amorosa com os netos. Quem preserva os valores fundamentais da vida, com certeza vai conseguir transmiti-los. E se a educação decorre principalmente dos exemplos, uma vovó presente estará fatalmente participando da educação dos seus netos.