Jornal Correio Braziliense

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A maternidade na era Google

Como a internet tem difundido uma face mais real das mães, com todas as dúvidas, alegrias e dores. Em blogs e redes sociais, elas trocam experiências e conversam sobre os mais variados assuntos, sem nenhum pudor


Olívia Meireles
Carolina Samorano ; Especial para o Correio

Quem vê de longe pode acreditar que a maternidade é igual a uma propaganda de margarina. Uma mãe linda e sorridente, que consegue equilibrar a vida pessoal, os filhos e o trabalho sem suar ou reclamar. Ao longo dos últimos anos, esse modelo vem sendo desmistificado e a figura da mãe perfeita está ficando para trás. Assim como seus filhos, as mães da geração 2000 estão conectadas à internet. Escrevem e compartilham todos os seus dilemas em blogs e redes sociais. Mas, afinal, quem são essas mulheres, o que elas pensam e como a comunidade de mães on-line tem transformado a experiência da maternidade?

;Se eu não tivesse o blog, eu não sei que tipo de mãe eu seria. Por meio dele, converso com outras mães, troco ideias e aprendo várias coisas. A pediatra me disse que eu e meu marido não parecemos pais de primeira viagem, porque nós somos muito seguros;, confessa Luíza Diener, o nome por trás do blog Potencial Gestante (), uma das páginas para mães mais lidas do Brasil.

O alto número de blogs, redes sociais e mulheres interessadas em ler sobre crianças e maternidade na internet tem uma explicação. Quem busca essas informações são as filhas da geração baby boomers (que nasceu no pós-guerra). ;Essas mulheres não foram criadas para serem mães, mas para serem profissionais;, explica Carolina Longo, criadora da rede social Mulher. Por isso, elas só foram ; e vão ; engravidar quando se consolidarem no mercado de trabalho e casarem. ;Ter um filho é uma coisa distante para essas mulheres;, acrescenta Carolina. Por isso, quando elas se veem grávidas não sabem o que fazer, nem como lidar com os filhos. Elas buscam e trocam informações onde pesquisam sobre outras coisas: nos sites de busca e comunidades virtuais.

Mas essa camaradagem não existia antes da internet? É claro que sim. Mas as mães dessa geração não têm a rede de apoio que as mulheres tinham antigamente. Hoje, as avós estão no mercado de trabalho e não podem ajudar tanto. ;Esse companheirismo foi se perdendo com as milhões de funções e papéis que as mulheres foram acumulando ao longos das décadas;, analisa Maria Clara Machado, no blog Meu Menino Tigre ().Essa lacuna seria preenchida pelos livros, argumentam alguns. Mas as blogueiras acreditam que os manuais são muito técnicos, a maioria é traduzida de outras línguas e não tem as especificidades culturais do Brasil.

Os blogs complementam as informações dos livros, ajudam as mulheres a adaptarem as dicas ao contexto de cada família e falam mais sobre como é a maternidade do ponto de vista das mães. Essa troca rende tópicos de discussão comuns às mulheres modernas.

Potencial de mãe
Luíza Diener, 26 anos, sempre teve um sonho: ter um filho. Desde criança, planejou como ia criá-lo, que estilo de roupa ele ia vestir, tinha selecionado possíveis nomes e já estava decidida a largar o emprego quando ele nascesse. Quando ela casou com o publicitário Hilan Diener, Luíza viu o seu sonho se tornar cada vez mais real. Por isso, há dois anos, ela resolveu criar o blog Potencial Gestante (www.potencialgestante.com.br). ;Eu queria apenas compartilhar com as pessoas as coisas que eu pesquisava sobre crianças e gravidez. Não tinha muita pretensão com ele;, explicou a blogueira.

A ideia era divulgar fotos e links interessantes de decoração, roupas e outras coisas de criança. Além de discutir as ideias que ela ; ainda sem filhos ; tinha sobre a maternidade. A blogueira dividiu a dor de receber inúmeros testes negativos de gravidez. Ganhava leitoras que estavam na mesma situação que ela ou que já tinham filho. O blog continuava nesse ritmo, até que há pouco mais de um ano, finalmente, postou a notícia que sempre quis dar: ;Gravidíssima;, com oito semanas.

Luíza descreveu como contou ao marido que estava grávida, a emoção ao ver primeira imagem do seu filho Benjamin na ultrassonografia. Mostrou os convites charmosos do chá de bebê. Descreveu com detalhes ; e sem censura;todos os passos do parto normal. Acompanha com charme o crescimento do pequeno Benjamin. E desvenda ; para quem é e para quem não é mãe ; o que é a maternidade no século 21. ;Tudo o que eu escrevo é sentimento. Compartilho aquilo que eu acho que vai ajudar outras mães. Às vezes, abro um pouco mais da minha intimidade porque eu sei que outras passam pelas mesmas situações;, explica. Foi com essa sinceridade que ela conquistou um público fiel de todo o Brasil e hoje tem mais de 2 mil acessos diários no blog.

Luíza garante que sua ocupação principal é ser mãe. Dedica-se com afinco ao blog, mas só à noite, depois que o Benjamin dormiu. Chega a passar cinco horas escrevendo, respondendo os comentários e desenvolvendo ideias para os próximos posts. ;No dia que isso atrapalhar a minha vida com a família, eu paro;, garante. Mas, por enquanto, isso não é preocupação, pois o marido incentiva o blog. Além de dar uma consultoria no layout da página, ele acha informações para postar, sugere assuntos e, às vezes, se arrisca a assinar um ou outro texto ; já contou, por exemplo, a sua linda versão sobre quando recebeu a notícia que seria pai.

O casal se preocupa, entretanto, em preservar tanto a intimidade do casal quanto a vida do filho. ;Eu sempre estou ponderando e equilibrando o que escrever;, garante Luíza. ;Por exemplo: não gosto de falar de sexo no casamento. Muita gente me pede. Mas isso é uma intimidade minha e do meu marido. Não costumo falar de doenças e de algumas preocupações que tenho com o meu filho;, conclui.

No fim, a fórmula de Luíza deu certo. Como consequência dos 14 mil visitantes que leem o blog toda semana, ela começou a receber propostas para colocar publicidade no site. Marcas de artigos para bebê compram banners e posts ; tudo devidamente explicado. O próximo passo do Potencial Gestante é abrir uma loja com artigos desenvolvido pelo casal. Mas isso é mais para frente.