Se você acha que jogar videogame, colecionar bonecos de super-heróis e ler gibis é coisa de adolescente, o que diria de um adulto que faz tudo isso, mas tem um trabalho fixo, paga as contas da casa e ajuda os filhos nas tarefas escolares? Estaria ele numa fase de transição? Afinal de contas, o que é ser adulto?
Perante a lei, algumas idades são definidoras. Por exemplo, aos 16 anos já se pode votar, aos 18, tirar a carteira de motorista. No entanto, para a polêmica escritora norte-americana Kay S. Hymowitz, esses marcos não definem mais a idade adulta. A autora acendeu essa discussão no mesmo período em que a mídia discutia a imaturidade do ator Charlie Sheen. Disposta a responder o que diferencia um adolescente de um adulto, mas amparada por uma ótica feminista, a autora publicou o livro Manning-up: How the rise of women has turned men into boys (Amadurecendo: Como a ascendência das mulheres transformou homens em garotos, em livre tradução).
No livro, ela tenta provar que a emancipação da mulher ; participação crescente no mercado de trabalho e na vida acadêmica ; não só postergou a vontade nelas de serem esposa e mãe como também deixou os homens confusos. Se antes eles eram chefes do lar, o que lhes caberia nesse momento em que a mulher paga suas próprias contas e adia a formação de uma família? Controversa, a autora provocou os leitores do conservador The Wall Street Journal em fevereiro. ;Por que os homens deveriam crescer? Ninguém precisa deles mesmo. Não há nada que os homens possam fazer. Eles poderiam, muito bem, tomar mais uma cerveja;, disse em entrevista ao jornal.
Doutora em sociologia, psicóloga e psicanalista, Isabel Maria de Carvalho Vieira acredita que qualquer conclusão da norte-americana deve ser tomada como precipitada. No entanto, para a pesquisadora carioca, a questão merece atenção e, de fato, é possível dizer que a emancipação feminina responde por um novo comportamento dos homens. ;Se pensarmos nas transformações sociais decorrentes da revolução industrial no século 19, das duas grandes guerras do século 20, da democratização do ensino superior, além de uma nova posição em relação à vida política (o direito de votar e de ser eleita), não podemos deixar de considerar as enormes mudanças que acarretaram no mundo dos homens;, observa.
Em seu consultório, o psicólogo Enrique Maia percebe um grande número de homens com empregos sérios, dinheiro na conta bancária, esposa, filhos, mas confusos como adolescentes. ;Emocionalmente, um garoto de 18 anos pode se comportar como um homem de 30 e vice-versa. Podemos dizer que o adolescente é aquele que depende dos pais, que está se descobrindo. Enquanto o adulto é aquele já se encontrou, se desenvolveu, sabe quem é. Só que devido às mudanças na família, no competitivo mercado de trabalho, está difícil dizer que o adulto não possa parecer um adolescente tanto nos questionamentos acerca da carreira quanto na adoção de passatempos comuns entre os mais novos;, reflete.
Para o artista plástico Lima Neto, 34 anos, o que separa o adolescente do adulto não é uma questão de idade, mas de cabeça. ;Você se torna adulto quando para de imaginar que tem responsabilidades e passa a vivenciá-las. Sejam elas contas para pagar, providências a tomar ou outras atitudes que cabem ao adulto e não ao adolescente.;
Para tentarmos compreender que comportamento é esse ; adotado por adultos, mas considerado ;coisa de adolescente; ;, entrevistamos diferentes especialistas e ouvimos quatro homens que, em comum, mantêm a seriedade profissional sem abrir mão de brincar nas horas livres.
Não é brinquedo, não
Aos 34, o artista plástico Lima Neto tem mais barba e menos cabelos do que ostentava aos 18 anos. Sócio de uma loja que vende gibis, camisetas e bonecos de super-heróis, ele aprendeu a levar a sério a vida adulta quando passou a pagar as próprias contas e a tomar, sozinho, decisões que antes cabiam aos pais. Mas o custo para sair da puberdade, no começo, foi alto. O empresário se viu enredado em dívidas e foi obrigado a retornar ao lar paterno. Na época, aconteceu o que ele próprio chamou de ;brincar de ser adulto;. Lima, como veremos, não está só nesse enredo.
Ainda são muitos os jovens recém-saídos da adolescência que não sabem ao certo as implicações e responsabilidades peculiares da nova fase. Professor de psicologia na Universidade de Clark em Worcester, Massachusets (EUA), Jeffrey Jensen Arnett analisa esse comportamento comum entre os que ele chama de ;adultos emergentes; do século 21. Em entrevista ao jornal The New York Times, o especialista acredita que é preciso refletir sobre o ingresso na vida adulta da mesma forma que se discutiu a adolescência ao longo do século 20.
Já a psicóloga comportamental Ana Karina de Farias vê uma relação direta entre o novo contexto familiar e o comportamento dos homens na faixa dos 25 aos 30 e poucos anos. ;Temos que salientar que a geração canguru, aquela que permanece na casa dos pais esperando o emprego ou o término da pós-graduação e a conquista de um emprego, faz parte desse novo cenário. Muitos adultos ficam na casa dos pais por falta de dinheiro, para economizar e comprar a casa própria, ou porque se acomodam mesmo.;
A partir do momento em que Lima percebeu que não adiantava desviar-se de certas responsabilidades, mudou de atitude. ;Quando se é adolescente, você acha que está protegido pelos pais. Pensa que nada de mau vai acontecer. Já o adulto passa a perceber que é o único responsável para que suas aspirações e sonhos possam se concretizar. Ser adulto é outra onda. Aí você começa a correr atrás. Isso inclui família, conta, consumo; Decidi que, da próxima vez que for morar sozinho, vai ser de verdade e não mais de brincadeira;, conta.
Há quatro anos, o empresário apaixonado por HQs e super-heróis vive da renda desses produtos consumidos, também, por outros adultos. ;Quadrinho, em geral, não é coisa de adolescente nem de gente imatura. Essa questão do que é maturidade mudou. Hoje, constituir família e ter filhos já é questionável. A pessoa que é solteira, tem mais de 30 anos, trabalha e não precisa se preocupar com família, tem mais dinheiro para investir no gosto particular dela;, pondera. No entanto, Lima confessa que ainda vê marmanjos comprando brinquedos escondido da esposa. ;Eles dizem: ;Deixa guardado isso aí, porque estou com minha mulher e, se ela vir, vai ficar no meu pé;;, relata.
Ciente de que ainda vai enfrentar preconceito por levar a sério o universo dos gibis, Lima faz parte de uma geração de adultos que repensam o que querem deixar de legado para as gerações futuras. ;Não importa sua seriedade. No Brasil, a imagem é mais importante. Como se o adulto só pudesse ser aquele de paletó e gravata. Para mim, ser adulto no século 21 tem mais a ver com espontaneidade do que com a necessidade de cumprir uma aparência;, resume.
Entrevista//Miguel Paiva, cartunista
Criado há 17 anos, o Gatão de meia idade não se cansa de paquerar gatinhas no calçadão de Ipanema. Cheio de papo, o vaidoso personagem do cartunista e escritor carioca Miguel Paiva, 61 anos, é um exemplo de como prolongar o descompromisso juvenil. As tirinhas bem humoradas já extrapolaram as páginas de jornais, ganhando até uma versão para o cinema, em 2006, com o ator Alexandre Borges no papel principal. Hoje, Miguel ainda acredita que o coroa de papo reto e cabeça aberta mantém as mesmas características da década de 1990. Sempre às voltas com casos amorosos fugazes e preocupado com a barriguinha de chope, o Gatão de meia idade está em voga. ;Muda-se o repertório, mas as questões fundamentais são as mesmas;, acredita o cartunista.
Será que as conquistas das mulheres atrasaram, de certa forma, a entrada do homem na idade adulta?
Acho que aconteceu com os homens um trauma pós-choque. A transformação feminina acabou assustando os homens que, diante da perda do poder tradicional, perderam também o poder da sedução e de conquista. Daí o medo de sair à rua. Acho que, além desse retardamento da emancipação do homem, ele sofre de um infantilismo. Você vê homens de mais de 30 anos morando com os pais e cultivando hábitos de adolescentes, não como lazer, mas como compulsão mesmo. Como jogar videogame ou habitar redes sociais sem intervalo. Nesses lugares, eles estão protegidos.
Como se manifesta esse comportamento adolescente? É resolver andar de skate depois dos 40 anos; farrear com os amigos; fazer uma tatuagem?
Isso é o menos importante. O mais grave é quando ele não se sente maduro o suficiente, ou não sabe como ser maduro. Talvez só perceba que não é maduro a partir de uma crítica externa. Daí talvez o atraso em relação a esse enfrentamento normal da vida. Andar de skate não precisa ser uma coisa exclusiva da garotada. É uma atividade física. Vestir-se como jovem também pode ser só uma questão de gosto. A questão está na atitude ou na não-atitude.
Quando você criou o Gatão de meia idade, na década de 1990, pensou que ele seria hoje um espelho do adulto do século 21?
Os tempos mudam, mas os problemas permanecem. Sempre digo isso mesmo em relação às questões femininas. Os problemas se resolveram em parte. Hoje se fala de tudo, mas nem tudo foi resolvido. Enfim, essa questão toda do feminino, da transformação da mulher acabou me instigando desde a criação da Radical Chic. Anos depois, já navegando na com mais tranquilidade nesse universo, me senti instigado a entrar no universo masculino ainda tão inexplorado. Tentei algumas coisas, mas acabei vendo que seria melhor fazer uma tira diária. E aqui estou, ainda hoje, tentando entender esse ser estranho que é o homem.
Em voga, o ator Charlie Sheen vive na ficção e na realidade o personagem Charlie do seriado norte-americano Two and a half man. Sempre às voltas com bebida e mulheres, ele não tem qualquer intenção de relacionar-se seriamente. Em sua opinião, essas atitudes reforçam um comportamento adolescente?
O caso de Charlie Sheen é patológico. Ele devia fazer um período de adaptação em outro seriado tipo ;em terapia;. De repente, o ajudaria a voltar para o seu seriado, mas fazendo o papel do adolescente.
Pingue com o Gatão de meia idade
Quantos anos você tem? Um pouco mais de 40 e um pouco menos de 50.
Quais são os seus hobbies? Beber um vinhozinho, se possível em boa companhia.
Como você definiria seu estilo? Casual cult.
Quando você vai botar uma aliança no dedo esquerdo? Já botei uma vez e nunca mais vou botar de novo. Ou vou?
Namorar lolitas dá trabalho? Muito. Preciso ir ao supermercado antes, comprar Toddynho.
No final de semana, bom mesmo é... Tomar cerveja com os amigos.
Desafios do porvir... Ficar eternamente jovem e sem barriga.
Planos para o futuro; Comer todas as mulheres do mundo.
Meu quarto secreto
;Um quarto só para mim;. Esse foi um dos pedidos que o profissional de marketing Gustavo Veiga e Lins, 26 anos, fez à esposa assim que começaram a procurar um apartamento. Quando finalmente se mudaram, em novembro do ano passado, ele já sabia que teria um espaço só dele para colecionar ainda mais bonecos dos Simpsons e do universo Star Wars, além de cartazes dos seus desenhos animados favoritos. Os quadros foram comprados na lua de mel em Londres e a esposa, Marjorie Veiga Samad Anjos, 28, não se incomoda com o hobby. Pelo contrário. No aniversário dele, já sabe como presenteá-lo.
O apoio de Marjorie contribuiu muito para que o ;quarto secreto; de Gustavo pudesse existir. ;Todo homem tem isso de gostar de coisas que remetem à infância, à adolescência. Até bem mais do que a mulher. Acho que ao longo da vida, alguns fatores externos ; com profissão, esposa, família ; vão tentando brigar com esse lado do homem. Mas, no meu caso, eu segurei e não abri mão;, conta Gustavo.
O casal acredita que encontrou um equilíbrio. Harmonizaram o estilo mais sério da esposa, que é advogada, e do marido, entretido com o mundo da internet, dos jogos, da ficção e dos desenhos animados. Toda quinta-feira, às 20h, ele se reúne com outros 15 amigos para jogar on-line. Marjorie também compartilha com o marido, vez ou outra, uma partida no videogame. Ela não acha ruim, mas confessa que no começo, a família dela o julgava ;bobo;. ;Se assim for, acho que abobei junto com ele, porque hoje curto todas essas brincadeiras. Passei até a gostar de Simpsons;, ri.
Segundo a psicóloga e doutora em sociologia Isabel Maria de Carvalho Vieira, não é possível classificar o adulto como adolescente simplesmente porque ele gosta de entretenimentos comuns entre os mais jovens. ;Jogar pingue-pongue, andar de skate, entreter-se com videogames são alguns exemplos de atividades que podem ser realizadas por adultos. O que podemos afirmar sim como comportamento de adolescente é não assumir as responsabilidades que lhe são atribuídas perante a sociedade e a família;, ressalta.
Tímido, Gustavo acredita que esse mesmo lado ;criança; o ajuda a extravasar. ;Como se eu tivesse uma dupla identidade. Algo tipo Bruce Wayne e Peter Parker;, brinca, referindo-se ao Batman e ao Homem Aranha. Mas o profissional de marketing, que trabalha na área de design gráfico e de criação, sabe que há momentos de seriedade e momentos em que pode se valer das brincadeiras e do bom humor como cartas na manga.
No futuro, mesmo quando tiver filhos, ele acredita que seguirá como esse jeito menino de ser. ;Minha mãe até fala para mim que ele deve mudar quando for pai, mas sei que não e respeito isso porque ele é responsável;, elogia a esposa. Ao pensar em filhos, Gustavo acredita que vá brincar tanto ou mais com os pequenos. Marjorie já imagina o marido entretido com as crianças e a coleção de brinquedos do quarto secreto. Brincalhão, ele só pede um favor à mulher: ;Só não posso ficar de castigo;.
Um pé no chão, outro no ar
Sábado de manhã, quando as tarefas de casa estão em ordem, o analista de sistemas Bruno de Souza Oliveira Mariz, 30 anos, vai ao Parque da Cidade brincar de aviãozinho. Peraí; Não é o que vocês estão pensando. Nada de brincadeira de criança, avião de papel ou algo do gênero. O aeromodelo de isopor e motor elétrico que Bruno montou após dois meses é coisa de adulto e nem mesmo o filho Davi, de dois anos, brinca com ele.
Montar, desmontar e ;pilotar; o avião foi a solução que Bruno encontrou para enfrentar um princípio de depressão há pouco mais de um ano. Aconselhado pela psicóloga a dedicar um tempo para algo prazeroso, Bruno logo lembrou que, quando criança e adolescente, sempre quis um aeromodelo como o do Ayrton Senna. Mesmo que não fosse lá tão profissional como o ;brinquedinho; do ídolo corredor de Fórmula 1, o avião do analista de sistemas seria a realização de um sonho passado.
;Sempre tive fascínio por brinquedos de controle remoto, mas não tive oportunidade de ter quando mais novo.;
Incentivado por um amigo, aprendeu a montar aviões e tomou gosto por sentir-se piloto de um aeromodelo. Questionado por reviver uma paixão da infância, Bruno acredita que a maturidade de um homem não pode ser medida por seu interesse ou não por brinquedos. ;Mudam-se os nomes, mas no final sabemos que, quando se é criança, você brinca e, quando se é adulto, você tem um hobby.;
Segundo a psicóloga comportamental Ana Karina de Farias, hoje é mais aceito entre os adultos obter prazer através de hobbies. O passatempo é, inclusive, incentivado por psicólogos e médicos para que se cuide do lado físico e mental sobrecarregado pelas obrigações diárias. Se antes, segundo a especialista, o que diferenciava um adulto de um adolescente era o tempo para brincar, hoje o adulto pode ser sério e também ter seu momento de diversão. ;E, quando eles pensam que atividade fazer para relaxar, logo lhes vêm à cabeça as brincadeiras e jogos da infância;, destaca.
Bruno assumiu as responsabilidades de um adulto assim que entrou na faculdade, na década de 1990, e passou a pagar as próprias contas. Casado há cinco anos e pai, também, de Ana Clara, 14 anos, Bruno compartilha com os dois filhos o prazer de ser criança. Nem mesmo a esposa acha ruim ficar em segundo plano, de vez em quando, para que o marido possa divertir-se jogando PlayStation. ;Tanto a minha esposa como as mulheres dos meus amigos nos apoiam e incentivam. Elas vêem que essa é um atividade para sair dessa zona de estresse. Melhor que ir para um boteco e encher a cara. Agora, se me esquecesse dos compromissos de casa, aí sim, estaria agindo como um adolescente;, pondera Bruno.
Consciente das escolhas que faz, Bruno acredita que o grande desafio de ser adulto é aprender a lidar com tantos papeis, sem deixar de lado o prazer de brincar. Aos 30 anos, comemora mais uma vitória na vida adulta: poder pilotar, pela primeira vez, o primeiro aviãozinho.
Joguinho lucrativo
Dinâmico e lucrativo, o setor de brinquedos faturou, em 2010, R$ 5 bilhões, segundo o consultor de varejo Moacir Moura. Espera-se que, até o final desse ano, o segmento fature um bilhão a mais do que no ano passado. Movimentado por mil lançamentos ao ano, o público consumidor fiel é, de acordo com as estatísticas, o masculino. Mas não estamos falando de meninos e sim de adultos. E o que leva esses barbudos às filas das lojas?
Em primeiro lugar, a relação afetiva com o brinquedo. Em segundo, a diversão, e, em terceiro, a vontade de colecionar artigos considerados por eles como verdadeiras preciosidades. Aproximadamente 75% dos clientes desse setor são homens na faixa dos 30 anos ou mais. São fãs de jogos de tabuleiro e de videogames, na maioria. Apesar de ser o maior consumidor, ainda não há pesquisas de mercado que indiquem se o adulto compra mais para si ou para os filhos. ;E nem sob tortura, ele vai falar que está compartilhando o brinquedo com o filho;, constata o consultor de varejo.
Na última década, o prazer de brincar responde por uma generosa parte do orçamento dos homens. E quanto mais a idade avança, mais eles compram brinquedos para si. ;Isso deve-se ao fato de que quando adulto, aquela criança que almejava um brinquedo, pode, enfim, comprar o jogo que os pais não tiveram condição financeira para comprar;, analisa o psicólogo Enrique Maia. ;O brinquedo funciona como uma válvula de escape do cotidiano do adulto e que ele também quer compartilhar o jogo com a nova geração;, conclui Moacir Moura.
Tabuleiro no trabalho
Professor de história na Universidade de Brasília (UnB), André Leme Lopes, 39 anos, já foi chamado de criança por gostar tanto dos jogos de tabuleiro que carrega para cima e para baixo, em casa ou no trabalho. São cerca de 80 no total. Despreocupado, André não se incomoda e transforma aquilo que parece uma brincadeira em estudo acadêmico. Há pouco mais de dois anos, o historiador pesquisa o valor didático de jogos de tabuleiro com temática histórica. São cartas, peças e estratégias que permitem compreender desde o desenvolvimento das civilizações às últimas eleições nos Estados Unidos, disputadas por Barack Obama e John McCain.
Algumas partidas podem durar mais de três meses, como um jogo que simula as guerras de Napoleão Bonaparte, do momento em que é coroado imperador à batalha de Waterloo. Mais complexos, esses segmento de jogos para adultos não se compara a clássicos como War e Banco Imobiliário (criados na década de 1930), primeiros jogos da coleção de André . ;Quando eu conheci esses jogos para adultos, tinha pouco mais de 20 anos. Aprendi a jogar Diplomacia, um jogo de 1962 comparado a War, mas que envolve muito conhecimento e poder de argumentação ao invés de dados e sorte;, explica.
Mesmo com o respaldo do conhecimento que é necessário para brincar nesses tabuleiros de adultos, André ainda escuta que isso é coisa de adolescente. ;Me lembro de uma vez em que estava jogando com meus amigos e a esposa de um deles falou: ;Realmente; Anos de estudo, trabalho e vocês aí, brincando de aviãozinho;. Ele respondeu: ;Não é aviãozinho. É miniatura histórica.;;, recorda, com bom humor.
Comentários à parte, André já refletiu muito sobre esse passatempo que avançou para o dia a dia na universidade. E mesmo que digam o contrário, nada disso contribui para que ele fique estacionado na adolescência. Isso porque, assim que André saiu de casa, há mais de 16 anos, aprendeu a se virar sozinho. ;Nunca parei para pensar se minha vida é a vida de adolescente. Se for, está boa, tranquila, porque pago minhas contas, tenho uma vida fora dos jogos, uma esposa, amigos, e saímos para fazer outras coisas. Os jogos não atrapalham minhas responsabilidades como adulto.;
Muito mais paciente e ciente das obrigações, inclusive quando está debruçado sobre um tabuleiro, André não pretende deixar de comprar novos jogos e, quem sabe, compartilhar o gosto por estratégias, peças e conhecimento com o primogênito. ;Pretendo jogar com meus filhos. Fazer algo que não pude compartilhar com meu pai;, diz, bem resolvido com a idade adulta.