O professor Tiago Lacerda Oliveira, 24 anos, há muito quer fazer uma tatuagem. Porém, o desejo sempre foi barrado por um empecilho. Ele sofre de vitiligo e, como qualquer outro problema de pele, necessita cuidado especial na hora de uma intervenção. ;Só discuti com minha dermatologista sobre o tratamento do vitiligo. Agora, pretendo conversar sobre a possibilidade de uma tatuagem. Sei que é uma decisão séria.; As tatuagens, assim como os piercings, deixaram de ser apenas demonstrações de rebeldia, popularizaram-se e saíram dos guetos. Contudo, muita gente ainda acha que basta uma agulha e tinta para gravá-la. A realidade, porém, não é tão simples assim.
;Se vejo uma mancha de nascença, cicratiz, micose ou qualquer alteração na pele, só tatuo com uma autorização do dermatologista. É uma forma de garantir a qualidade do meu trabalho e a saúde do cliente;, garante o tatuador Lico. Há 18 anos no ramo, ele explica que o aval médico é imprescindível, já que a tatuagem pode esconder uma marca de pele com indícios de câncer, por exemplo, se o caso for sério.
Lico garante, entretanto, que esse cuidado não é usual entre outros profissionais da área. Segundo ele, 80% dos tatuadores não se preocupam em saber o histórico da pele dos clientes. A atitude de Lico é celebrada pelos dermatologistas. De acordo com o médico Alexandre Filippo, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, muitas pessoas têm distúrbios de cicatrização que só serão descobertos depois de feito o desenho. ;Nesse caso, deve-se evitar a tatuagem. Pessoas com alergia aos corantes das tintas também. Essas últimas, inclusive, podem até desenvolver uma alergia crônica;, alerta. A cor da pele só é relevante no caso de arrependimento, segundo o médico. ;A pele negra tem mais melanina, o que dificulta a retirada com laser.;
Quanto ao vitiligo e quaisquer outros distúrbios de pigmentação, Filippo avisa que é imprescindível um teste dermatológico antes da decisão. ;Não é contraindicado, mas o paciente deve conhecer a situação da própria pele.; Alguns têm sorte e, mesmo apresentando algum problema, conseguem obter um resultado desejável. Foi o caso da servidora pública Mariana Carpanezzi, 30 anos. A borda da estrela que fez nas costas foi desenhada com uma agulha mais fina que a do preenchimento e ela desenvolveu queloide. ;As pessoas acham que foi proposital, porque o efeito ficou bonito. Mas nunca vai melhorar.; Mariana diz que o efeito a agradou e que não tem qualquer receio de fazer uma nova. ;Gosto dela assim. E a culpa não foi do tatuador, já que eu nunca havia tido queloide. Foi algo que aconteceu.;
No caso de Mariana, os tatuadores que a atenderam foram atenciosos ao alertar sobre cuidados necessários. Porém, muitos clientes não gostam de ouvir que precisam de exames médicos para ganhar uma tatuagem ou um piercing. ;Só 15% daqueles para quem peço autorização do dermatologista voltam;, afirma Lico. A psicóloga Theresa Lins, 48 anos, não teve problemas em levar o exame dermatológico. Com dois desenhos gravados no corpo, ela quis um terceiro que cobrisse uma mancha de nascença. ;Não que eu tenha problemas com ela, apenas achei que seria um bom local para uma nova. A minha dermatologista já havia me dito que poderia fazer, mas gostei da atitude do profissional.;
Furos cuidadosos
O piercing também exige cuidados extras, já que há uma perfuração da pele. Para aqueles que têm algum problema cutâneo, a atenção maior é no momento da cicatrização. Apesar de perfurada, a pele não sofre uma raladura, exigindo um tratamento diferente. ;É uma sutura, limpa e seca e não pode ser cuidada com pomadas ou sprays;, explica o body piercer Áter, no ramo há 10 anos. O profissional, que indica apenas antissépticos naturais, mantém um cadastro com o histórico de saúde de todos os clientes.
;Preciso saber se ele tem algum problema de pele, se é hemofílico. Até quem vai colocar um segundo piercing deve preencher o cadastro de novo.; A intenção do profissional é, justamente, garantir uma cicatrização tranquila. ;Quem já tem alguma restrição raramente quer colocar piercing. O que causa maior transtorno é a falta de cuidados.; Áter entrega sempre um folheto explicativo para os clientes, no qual todas as recomendações são expostas.
Com 11 piercings pelo corpo, a estudante Amanda Marchi, 18 anos, já sabe de cor o que deve ser feito para que o procedimento não seja traumático. ;O risco de infecção é grande e tem muita gente que acha que pode fazer em qualquer lugar e com qualquer pessoa. Já conheci uma pessoa que colocou, ela própria, um alargador em casa, sem cuidado algum;, lembra. Amanda, ao contrário, prefere seguir a cartilha à risca. Até mesmo porque a estudante sabe quais seriam as consequências de um procedimento mal realizado. ;E cada vez que coloco um novo piercing, converso muito com o body piercer.;