(;) Faltam apenas duas horas para meu embarque rumo a Katmandu;o agito no aeroporto de Guarulhos, com crianças chorando, belas mulheres de salto alto desfilando com suas Louis Vuitton, homens de terno conectados com seus notebooks, adiantando algum trabalho, e eu contrastando com minha roupa de aventureiro e duas pesadas mochilas (;)
Essa é uma das anotações que o fotógrafo Elias Luiz, 39 anos, rabiscou em seu diário de viagem sobre o Nepal, em outubro passado. Representante de uma versão contemporânea de desbravadores do além-mar, Elias junta-se a outros mochileiros dispostos a viver grandes aventuras e registrá-las num caderninho para a posteridade. Novos autores de relatos históricos, eles gravam suas impressões em papel e lápis. Nada passa em brancas nuvens no itinerário.
Nessa viagem, o companheiro é o legendário moleskine vendido nas Américas do Norte e do Sul, Europa, Ásia e Oceania. Secular caderno de anotações usado por grandes pensadores e artistas como Pablo Picasso, Ernest Hemingway e Vincent Van Gogh, o moleskine ressurgiu há pouco mais de uma década para compor prateleiras de livrarias e papelarias pelo mundo. De lá para cá, o caderno já foi adaptado por outras marcas, ganhou versões com capa colorida, em espiral e modelos de luxo (lançados pela Louis Vuitton). Mas a versão ;pretinha básica; nunca sai de moda.
Elias, também editor do portal de viagens de aventura extremos.com.br, faz bom uso de um Moleskine que conheceu há pouco tempo. ;Em minha primeira viagem pela Patagônia, em 2004, avistei um senhor fazendo anotações em seu diário e era exatamente o estilo que eu sempre sonhara. Cheguei a fazer uma foto para que na volta ao Brasil pudesse procurar um igual;, recorda. Até que, em 2008, a busca pelo mesmo caderno bonito e adequado à mochila estrategicamente organizada do fotógrafo chegou ao fim numa livraria da cidade.
Desde então, Elias não dispensa anotações sobre o clima, a geografia, as pessoas, a comida e tantos outros assuntos que encantam os olhos do viajante. ;Conto muito a história do dia e, às vezes, resumo para não faltarem folhas. Junto à descrição do itinerário, também colo selos, adesivos, rótulos de cerveja, mapas, papel de bala.; Até pequenas reproduções de bandeiras budistas, Elias fez para colar no último diário de viagem durante a visita ao Nepal.
Dispostos a seguir a mesma jornada, os moleskines e outros cadernos de viagem compartilham espaço com suportes digitais, tais como blogs e outros arquivos virtuais. Para postar informações sobre as viagem que faz, Elias também recorre ao iPod que comprou há pouco mais de três anos. O mesmo acontece com o estudante de direito Lucas Camargo, 24 anos. De mochila por quatro continentes, o estudante fez turismo, pegou no batente e registrou todas as impressões da viagem de forma analógica e digital.
(;) O resultado é que no meu baú de lembranças, nostalgias e histórias inventadas, eu pude acrescentar vários volumes que eram necessários. Eles documentam os lugares que eu visitei, as culturas que pude experimentar, os cheiros que me marcaram, as canções que tocaram, as pessoas que tive a sorte de encontrar nesse período e com as quais eu aprendi e compartilhei muitas coisas(;)
Também, não daria para passar despercebido todas as novas experiências do jovem aventureiro. Lucas trabalhou como garçom, peão de vinhedo, empacotador de kiwi, operário de fábrica de batata frita, tripulante de cruzeiro e professor. Esses e outros relatos, ele compartilhou com amigos e familiares. Primeiramente num fotolog, em 2004, e em seguida no blog lucasontheroad.blogspot.com, de 2007 a 2010.
Mesmo com a ferramenta digital, antes de postar no blog, Lucas editava pensamentos e palavras no bom e velho caderninho de anotações. ;Meus suportes preferidos são o papel e a caneta. Normalmente escrevia à noite e guardava as anotações. Alguns dias depois, voltava a ler o caderno e via se aquilo era realmente o que eu queria falar para, então, postar no blog;, lembra.
Para Lucas, Elias e tantos outros com o pé na estrada, não há contestações: a internet é imprescindível para que os diários de viagem sejam lidos por um expressivo número de pessoas. Mas mesmo com a ajuda do suporte virtual, o bom e velho método de encontrar uma sombra, um banco e escrever num caderno deve perseverar. Até porque não é sempre que se encontra um cyber café à disposição. Vale mesmo um lápis e papel à mão para descrever como é encontrar-se e perder-se em países do outro lado do planeta.
Na internet;
http://www.moleskine.com
http://www.1000journals.com
http://theculturevulture.co.uk
BAZAR
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