Jornal Correio Braziliense

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Estrofes achadas na rua

Imagine entrar em um banheiro na Rodoviária do Plano Piloto e deparar-se com cartazes de poesias. A primeira impressão, ao ver versos subindo pelas paredes de azulejo, é de que o poema só pode ter fugido de casa. Nesse caso, de alguma estante de biblioteca. De fato, o toalete não seria o primeiro lugar onde buscaríamos poemas de Manuel Bandeira, por exemplo. Mas foi nesse ambiente inusitado que a poeta Marina Mara, 31 anos, colou cartazes poéticos.

Coloridos e em tamanho de 30cm x 42cm, os versos da escritora compartilham a folha de papel com reproduções de telas da artista plástica Clarice Gonçalves. O resultado não passa despercebido. ;Tenho mania de colocar poemas no meu banheiro, até porque adoro decorá-lo. Percebi que as pessoas se demoravam muito tempo lá (risos) e que a poesia era um dos motivos. Foi aí que surgiu o projeto Sarau Sanitário;, explica. Com financiamento do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), Marina Mara realizou, em 2010, ano, o sonho de devolver à poesia o caráter popular.

Torná-la acessível é o objetivo da autora. A proposta é conferida por homens e mulheres que já entraram em um dos mil banheiros do Plano Piloto e cidades do Distrito Federal por onde a poeta espalhou os cartazes. Dá até vontade de levar um para casa. E é isso que aconteceu com dezenas deles. ;Não tem problema; Acho que faria o mesmo;, confessa a poeta que resolveu disponibilizá-los para download no site www.sarausanitario.com.

Marina também formatou os versos em braile para que pessoas com deficiência visual pudessem abraçar essa causa poética. Os temas que lêem com as mãos divagam sobre amor, saudade, tristeza e assuntos do cotidiano. ;Falo de Mc; Donalds, TPM, sustentabilidade, homossexualidade; Dificilmente você vai achar uma palavra que desconheça. Na poesia não vale parar no meio, senão perde-se a mensagem. ;Além dos cartazes, o projeto da poeta brasiliense incluiu o livro Sarau sanitário. A publicação reúne todas as 20 poesias ilustradas nos cartazes e outras 34 que ficaram de fora.

O próximo passo de Marina Mara, com ajuda de leis de incentivo à cultura, é lançar um audiolivro a ser distribuído gratuitamente em instituições de deficientes visuais do país. Alguns dos poemas ela já gravou em parceria com músicos da cidade, como Móveis Coloniais de Acaju e Ellen Oléria. Projetos e poesia são dois coelhos que não faltam na cartola dessa poeta militante da popularização da arte. ;É assim, quando o bicho da poesia te pega, não tem como fugir;, brinca.

Agradecimento ao Balaio Café


Alguns locais onde foram colados os cartazes:
Associação Brasiliense de Deficientes Visuais ; SGAS 903, Conjunto C, Parte A ; Asa Sul
Biblioteca Braille Dorina Nowill ; QNB 01 ; AE 01 ; Centro ; Taguatinga Centro
Biblioteca Demonstrativa de Brasília ; EQS 506/507 W3 Sul ; Asa Sul
Biblioteca Pública de Ceilândia ; QNN 13 lote B Área Especial ; Ceilândia Norte
Biblioteca Pública Monteiro Lobato ; 215/315 ; Santa Maria
Casa da Cultura da América Latina da UnB ; SCS Q. 04 ; Ed. Anápolis ; Asa Sul
Casa do Cantador ; QNN 32, A.E, Ceilândia Sul
Centro Cultural do SESI ; QNF 24 A.E ; Taguatinga Norte
Centro Interescolar de Línguas do Guará ; QE 07 Lote Q Área Especial ; Guará 1
Funarte ; Eixo Monumental
Jardim Botânico ; Lago Sul
Museu Vivo da Memória Candanga ; VIA EPIA Sul, SPMS lote D ; Núcleo Bandeirante
Rodoviária do Plano Piloto
Rodoferroviária

Pelo calçadão;
No dia 31 de novembro, ao pé do ouvido de Carlos Drummond, quer dizer, da estátua que homenageia o poeta mineiro na praia de Copacabana (RJ), pessoas de todas as idades e nacionalidades confessaram versos. A intervenção artística que chamou a atenção de cariocas e turistas também foi ideia da poeta brasiliense Marina Mara. O projeto chama-se Declame para Drummond. No ano passado, quem passou pelo calçadão deparou-se com uma parede de cordões de barbantes onde mil poemas se ofereciam para ser lidos pelos transeuntes. Para tanto, Marina teve ajuda de escolas do Acre, Maranhão e Piauí, estados onde as professoras pediram aos alunos que fizessem poemas para Carlos Drummond de Andrade. Além dos versos escritos pelos estudantes, a poeta acrescentou poemas de autoria própria e de grandes poetas brasileiros. ;Tanto o vendedor de biscoitos Globo quanto gringos e crianças declamaram para Drummond. Esse foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida;, confessa. Agora, Marina promete repetir a experiência. Sem esquecer de levar o Sarau Sanitário de Brasília para os quatro cantos do país.