Revista

Roer e brincar

O gerbil ou esquilo da Mongólia começa a chegar a Brasília. Apesar de silvestre, ele pode ser muito dócil se bem domesticado.

postado em 02/12/2010 17:06

Caroline Aguiar
Especial para o Correio


Soraya, com a filha Victoria, e o esquilo da Mongólia: parece hamster, mas não é

Cães, gatos e pássaros são presenças comuns nos lares brasileiros. Mas você já pensou em criar um esquilo? É normal que a primeira imagem que nos venha à cabeça seja aquele bichinho do rabo longo e peludo segurando uma noz. Mas nem todos os esquilos são assim. Comum nos Estados Unidos e pouco conhecido no Brasil, o gerbil ou esquilo da Mongólia é bastante diferente dos esquilos dos filmes e mostra-se como uma boa opção para quem quer um bichinho de estimação, mas não tem muito espaço em casa. Aparentemente, ele é bastante semelhante a um hamster, mas patas e cauda são diferentes.

A origem deles não é muito certa. No entanto, a explicação mais aceita é a de que sejam oriundos dos desertos do Oriente Médio e da Ásia Central. Segundo a Associação dos Criadores de Gerbils na América Latina, ele está na lista dos 10 animais de estimação mais procurados nos Estados Unidos. No Brasil, o esquilo da Mongólia ainda não é muito conhecido, tanto que não existem produtos específicos para eles e é bastante difícil encontrar profissionais que atendam os bichinhos. A falta de informações faz com que sejam vendidos em agropecuárias, misturados a outros roedores, como camundongos, ramsters e topolinos.

Outro meio de ter acesso a um esquilo da Mongólia é por meio de criadores particulares, que doam ou vendem as crias no intuito de difundir a espécie. Soraya Castilho, 43 anos, está começando a sua criação. O primeiro casal foi adquirido em setembro e já deu duas crias. No total, ela já tem 10 bichinhos, que são criados em duas gaiolas. Tudo começou quando a filha de Soraya, Victoria Castilho Costa, 7 anos, pediu um ramster à mãe. Foi quando a oficial de chancelaria lembrou-se de um gerbil com o qual tinha tido contato nos Estados Unidos. Então, começou a procura.

Soraya passou por várias pet shops e só foi encontrar um gerbil em uma agropecuária em Sobradinho. Ainda com poucas informações, acabou levando gato por lebre, ou melhor, macho por fêmea. Depois de algum tempo e muita leitura, ela percebeu que tinha dois machos e não um casal, como imaginava. Voltou à loja e trocou os bichinhos, ficando finalmente com um casal. Com os novos moradores em casa, a criadora teve que começar a adaptar gaiolas, vasilhas de alimentação e brinquedos. Os potes de plástico foram substituídos por outros de metal, pois os gerbils gostam de roer. As gaiolas foram cobertas com papelão para evitar que eles ficassem com as patinhas presas nos vãos. As rodinhas de brinquedo foram deixadas de lado e trocadas pelos canudos de papel higiênico, que eles transformam em túneis e ainda aproveitam para roer. Também mudou radicalmente a rotina da família. ;Antes, a gente chegava em casa e ia para frente da televisão, hoje a gente chega e vai brincar com eles. Às vezes, ficamos até de madrugada olhando as gracinhas que eles fazem;, conta Soraya.

Temperamento forte
Os esquilos da Mongólia são extremamente dóceis, mas são animais silvestres. Se não domesticados eles podem morder e arranhar as pessoas que tentarem se aproximar. A domesticação de um gerbil deve começar logo cedo, quando eles estiverem com mais ou menos duas semanas de vida. Antes disso, não é recomendado pegar os animais porque depois a mãe pode rejeitá-lo ao sentir um cheiro diferente.

A domesticação ocorre aos poucos. Primeiro, deve-se colocar a mão na gaiola e deixar que eles a cheirem e mordisquem. É preciso fazer isso várias vezes. Depois, a estratégia é tentar atraí-los com algum alimento. Com o tempo, eles se acostumam com o cheiro dos donos e vêm naturalmente subir nas mãos, caminhar pelos braços e até ficar no ombro. Os gerbils são muito matriarcais. Quando está para procriar, a fêmea começa a fazer um ninho e fica meio arisca com o macho. No entanto, nada de misturar machos de gaiolas diferentes. Se um macho acasala com uma fêmea e é colocado junto a outra, na hora em que ele volta para a gaiola da primeira, a fêmea o rejeita e a briga pode ser fatal. Outro hábito dos esquilos da Mongólia é bater com as patas. Isso ocorre quando eles estão em perigo ou em fase de acasalamento.

Cuidados
Os esquilos da Mongólia podem ser criados em aquários de vidro ou gaiolas, desde que aja espaço para eles se movimentarem. Como são animais extremamente sociáveis, não gostam de viver sozinhos. Recomenda-se que sejam criados pelo menos dois animais juntos, de preferência um casal. Mas, no caso de ter um macho e uma fêmea, os proprietários dos bichinhos precisam estar preparados para cuidar das crias, que são muitas. Com dois meses de idade, um gerbil já atinge a maturidade sexual. O período de gestação deles é de 24 a 26 dias e as crias são de, no máximo, oito filhotes. Logo após o nascimento de uma cria, o casal já acasala novamente.

Ou seja, um criador pode ter até 96 gerbils por ano. Depois de desmamados, os esquilos podem ser alimentados com frutas, verduras, legumes, sementes e ração. Não são recomendados alface, espinafre frutas cítricas. A veterinária de animais silvestres, Angélica Lacerda, recomenda que haja um equilíbrio entre a ração e outros alimentos para que não ocorra deformação nos dentes do animal. ;Se o gerbil comer apenas ração, os dentes molares e pré-molares podem ser desgastados da forma errada e acabar machucando as bochechas do animal;, explica a veterinária. Ela ainda ressalta que a alimentação não deve ficar restrita às sementes.

Semente para roedor é igual chocolate para as crianças. Eles adoram, mas não tem valor nutricional;, justifica.
Outro hábito alimentar dos gerbils é a coprofagia, ou seja, o costume de comer as próprias fezes. Logo após se alimentarem, eles ingerem a primeira remessa de fezes que é eliminada. O intuito é absorver todos os nutrientes, pois esses não são totalmente aproveitados na primeira digestão. Um quesito que deve ser olhado com muito cuidado é a forração das gaiolas. O mais indicado é um produto chamado corn cob, mas ele não é vendido no Brasil. Os criadores costumem cobrir o chão da gaiola com maravalha, uma espécie de serragem. É preciso observar se a forração não contém pinus ou cedro, pois essa composição pode causar problemas respiratórios aos gerbils. A forração tem que ser trocada pelo menos uma vez por semana. Se isso não for feito, a chance de eles terem doenças é muito maior.

Entre os problemas de saúde mais comuns dos esquilos estão a sarna, fungos, infecção nos olhos, constipação, dentes muito longos e tumores. Nenhuma dessas doenças pode ser transmitida ao homem. Mas é preciso ficar de olho para que o seu bichinho de estimação não entre em contato com ratos vindos da rua ou roedores de procedência desconhecida. A aproximação com esses animais pode transmitir leptospirose ou raiva ao gerbil que, por suavez, pode transmiti-las para humanos. É aconselhável que, pelo menos uma vez ao dia, seja colocado pó de mármore na gaiola para que eles rolem e ;tomem banho;. Evite molhar o gerbil, ele não vai gostar e isso pode trazer prejuízos para a saúde dele. Nunca pegue um gerbil pela cauda, ele pode morrer se isso acontecer. Ao contrário dos outros roedores, o gerbil tem estrutura óssea na cauda, é como se fosse a continuação da coluna vertebral. Pegá-lo pela cauda é o mesmo que quebrar o pescoço de um homem.

Características
Tamanho: de 8cm a 10cm sem medir a cauda. Com a cauda, podem chegar a 20cm
Peso: 60g a 70g
Cauda: mais grossa, peluda e com um tufo na ponta
Patas: mais longas
Pêlo: curto e das mais variadas cores.
Tempo de vida: de três a cinco anos
O gerbil fica em pé e pode saltar.
Não é um bom escalador.
É crepuscular. Tem atividade maior ao entardecer.

Gostos diferentes

Camila e Renatta, com Cris e Ozzy: família mais unida

A mania de criar bichinhos diferentes já está se espalhando por alguns lares brasileiros. São várias as histórias de pessoas que criam cobras, iguanas, coelhos e outros animais silvestres. As irmãs Camila Leal, 21 anos, e Renatta Leal, 19, sempre quiseram ter um animal de estimação, mas a mãe nunca deixou. Só, agora, dois coelhos conseguiram furar o bloqueio. Chris e Ozzy fazem parte da família desde fevereiro e mudaram a rotina da casa. ;A gente passa o dia inteiro correndo atrás dos coelhos. Eles uniram a família porque todos se juntam para cuidar deles;, conta Camila.

Eles passaram a ter mais cuidado com os fios dos aparelhos eletrônicos. ;Eles roem tudo, adoram um carregador com o fio baixo, vão lá e roem até não sobrar mais nada;, diz Renatta. Sapatos e chinelos também são vítimas dos coelhinhos. Já Paulo Anderson Andrade, 28 anos, arrumou dois companheiros. O casal de hamsters Uli e Truli virou dois filhos. Os animais foram presentes da noiva dele, Elaine Cristina, e já são xodó do casal. ;Todo dia de manhã, antes de ir para o trabalho, eu converso com eles e quando a mãe deles (Elaine) liga, coloco o telefone perto para ela conversar com eles.;
A presença dos hamsters mudou o clima da casa. ;Ficou muito mais humano e alegre. Não consigo mais ficar sem eles. Uma vez, deixei de ir para São Paulo de avião para ir de carro e poder levá-los comigo;, relata Paulo.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação