Jornal Correio Braziliense

Revista

Meditação: uma janela para o ser

Desvinculada da religião, a prática ganha seguidores interessados em saúde e alívio para o estresse

Criar objetivos é uma característica indelével dos seres humanos. Ao traçar metas, as pessoas conseguem focar seus desejos e, com sorte, trabalham com mais afinco para alcançá-los. Entretanto, toda meta causa uma expectativa. E, independentemente do sucesso da empreitada, ao se projetar no futuro, surge o questionamento: E se eu não conseguir?

O ímpeto de buscar a felicidade, atrelando-a a prazeres, cria expectativas desproporcionais. ;Se eu comprar um carro novo, serei feliz;. ;Se eu passar no vestibular, minha felicidade estará garantida;, pensamos. ;Isso gera um constante estado de perturbação mental. Sempre estamos jogando para o futuro situações que não dependem só de nós. Dependem de eventos, de outras pessoas, gerando uma condição de stress, já que não temos controles sobre esse tipo de acontecimento;, afirma o engenheiro Régis Guimarães.

Aos 71 anos, ele é um dos criadores da Sociedade Vipassana de Meditação, grupo não religioso e sem fins lucrativos que se dedica à prática e aos ensinamentos dessa técnica de meditação de matriz budista. Para ele, todos podem, por meio do conhecimento de si mesmos, mitigar a dor e a frustração. ;A meditação nos faz entender os fatores do sofrimento, em vez tentar supri-lo ou evitá-lo. Um resumo seria: ;Não tente ser feliz. Pare de sofrer;. A felicidade é decorrente ; surge quando você elimina o sofrimento;, explica Régis, praticante da vipassana desde 1985.

Apesar dos seus milhares de anos de história, a meditação ainda padece, em grande parte do Ocidente, de uma aura de misticismo que impede muitos de a conhecerem mais profundamente. Entretanto, os benefícios visíveis já despertam a atenção da comunidade científica brasileira. Mais ainda, membros dela, que já colocam a meditação como prática constante, se valem dos seus conhecimentos acadêmicos para ;legitimar; a prática for a do âmbito religioso.


A conquista do presente

A ciência prova os benefícios, mas o que dizem os praticantes? Esses, independentemente de teses, colocam a meditação como o início de uma nova forma de enxergar o mundo.

;Sou uma pessoa muito ansiosa. Acredito que, se não fosse a meditação, não teria conseguido engravidar, porque não me imaginava focando apenas nos cuidados com um filho;, afirma a advogada Tatiana Malta Vieira, 34 anos. Ela, que sempre buscou formas de desenvolver a espiritualidade, se vale da meditação para direcionar toda sua atenção apenas a Rafael, seu filho de três meses. ;Com mais autoconhecimento, nos tornamos mais tolerantes e observadores e tenho certeza que isso vai me ajudar a perceber todas as características do meu filho.;

Régis Guimarães, da Sociedade Vipassana, relaciona a decisão de se iniciar uma experiência meditativa com a entrada em uma academia. Quando alguém percebe que o físico necessita melhorar, se vale de exercícios para fortalecê-lo. A meditação faz isso com o cérebro, fazendo com que ele possa se antecipar aos impulsos ao garantir uma melhor observação da realidade. ;A meditação tem a função básica de trazer o indivíduo para um estado de tranquilidade. Você tem que baixar o nível de seu sistema hormonal. A partir desse estado, abre uma janelinha do seu interior.;


Leia a íntegra desta matéria na edição 288 da Revista do Correio