Os brasileiros não têm informações suficientes sobre trombose, um distúrbio de coagulação do sangue que provoca a formação de coágulos nas veias e artérias. Também desconhecem a principal e fatal complicação da doença ; e sua principal complicação ;, a embolia pulmonar. A conclusão é de uma pesquisa do Ibope, realizada entre 27 de julho e 3 de agosto, entrevistando 1.008 pessoas de cidades de todas as regiões do país.
Apesar de o conhecimento do termo trombose aumentar de acordo com o grau de risco, 57% não conhecem os sintomas e as suas consequências e, entre aqueles que já ouviram falar da trombose, 43% não sabem apontar medidas preventivas. A embolia pulmonar é ainda mais desconhecida. Há vários fatores de risco que predispõem uma pessoa à doença, como idade acima de 40 anos, obesidade, imobilidade, tabagismo, presença de varizes nas pernas, entre outros. E se ela fez uma cirurgia, esse risco dobra.
A enfermeira Raquel Marques, 46 anos, descobriu na prática esses fatores de risco. Em 16 de junho, ela fez uma cirurgia plástica tripla ; lipoaspiração e redução de mamas e abdome. Nesse redesenho do corpo, ficou 11 horas na mesa de cirurgia, anestesiada. ;Por ser uma operação longa, segui uma rotina preventiva da trombose, com orientação médica;, conta. Porém, os cuidados não adiantaram. Raquel tem um quadro de anemia profunda, herança de uma cirurgia bariátrica. ;No pós-operatório da plástica, sentia muito dor e, como estava fraca, não tinha forças para me levantar da cama.
Fiquei 15 dias praticamente imóvel, só me movimentando para ir ao banheiro.; No início de julho, ela sentiu fisgadas dolorosas na panturrilha da perna esquerda e um cansaço mais intenso ainda. ;Eu estava com trombose;, diz a enfermeira, que foi socorrida a tempo e tratou o distúrbio.
;Os resultados dessa pesquisa apontam que é preciso aumentar a conscientização da população sobre a doença e suas consequências;, afirma Guilherme Pitta, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBAVC). Segundo ele, com esse conhecimento popular será possível cobrar mais ações preventivas por parte dos hospitais, investir em programas de educação médica continuada para identificar pacientes sob risco no ambiente hospitalar e implementar a prevenção adequada. ;Essas medidas podem ajudar a evitar várias mortes;, garante o angiologista.
A pesquisa realizada pelo Ibope foi financiada pelo laboratório farmacêutico Sanofi-Aventis e recebeu o apoio da SBAVC e da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). A margem de erro da pesquisa é de 3 pontos percentuais para os resultados do total da amostra, com intervalo de confiança de 95%.
Grupos de risco
Os especialistas do Ibope dividiram os entrevistados em três categorias para avaliar o grau de informação das pessoas sobre a trombose e identificar o estilo de vida delas. No grupo de alto risco, com idade média de 48 anos, o conhecimento é maior (65%), porém apenas 5% dos entrevistados consideram ter alto risco de desenvolver o tromboembolismo venoso e 64% relatam não ter esclarecimentos para avaliar o seu risco de desenvolver a doença. Além disso, 40% dizem já ter ouvido falar de embolia pulmonar, mas não sabem o que é.
O grupo de risco, com idade média de 44 anos, é adepto de atividades físicas mais leves e 13% são fumantes. Entre eles, 41% não sabem responder quais as medidas preventivas para evitar distúrbio circulatório e 68% não têm informação para avaliar o seu risco de desenvolver a doença.
A população de risco baixo, com idade média de 30 anos, pratica atividades físicas com mais frequência. Em contrapartida, sua alimentação é menos saudável e 11% são fumantes. Sobre a trombose, 75% não têm conhecimento dos riscos e 46% nunca ouviram falar de embolia pulmonar.
O angiologista Marco Edoardo Araújo Bezerra, que atende no Distrito Federal, afirma que os números do levantamento do Ibope refletem a realidade vivenciada no consultório. ;As pessoas do grupo de risco maior, acima dos 50 anos, fumantes e sedentárias, podem ter conhecimento da doença, mas se negam a reconhecer que fazem parte dessa categoria;, diz o médico brasiliense. Segundo ele, somente os pacientes com trombose perguntam sobre a doenças e suas complicações. Eles buscam informações por sentirem medo das consequências. ;A preocupação deles é se podem ficar paralíticos ou terem a perna amputada. Desconhecem que a doença pode matar;, explica Bezerra.
O que é
Trombose ou tromboembolismo venoso é um distúrbio do sistema circulatório, quando ocorre o bloqueio do fluxo de sangue dentro de um vaso sanguíneo por um coágulo ou trombo. A doença apresenta duas manifestações clínicas distintas: a trombose venosa profunda (TVP), quando surge a formação do coágulo na veia profunda da perna, coxa ou pelve, e a sua maior complicação, a embolia pulmonar, quando o trombo cai na circulação sanguínea e segue em direção aos pulmões. Dependendo do grau de obstrução nos pulmões, os sinais podem variar desde uma respiração mais curta até sintomas graves, muitas vezes fatais.