Carolina Samorano // Especial para o Correio
Entre setembro e outubro, Nova York, Londres, Milão e Paris colocaram nas suas emblemáticas passarelas suas apostas para o que os bem-nascidos (ou nem tanto, tão logo as redes de fast fashion incorporarem as tendências) devem vestir por aí no verão do próximo ano, mal ele se despediu dos europeus em 2010. Durante um mês, fashionistas antenados circularam para lá e para cá entre os Estados Unidos e os países da Europa de olho em fisgar em primeira mão as novidades. Para facilitar as pesquisas na hora de preparar a lista de compras da estação quente, a Revista preparou um resumo com os melhores momentos do que rolou nas bandas de lá.
Nova York
A semana nova-iorquina de moda deu a largada nos desfiles primavera-verão 2011 lá fora. Durante a semana, o complexo cultural Lincoln Center, em Manhattan, recebeu algumas das mais renomadas marcas e estilistas do circuito fashion, como Marc Jacobs, Calvin Klein Collection, Alexander Wang, Carolina Herrera, Oscar de la Renta e os brasileiros Alexandre Herchcovitch - que desfilou a mesma coleção mostrada por aqui na última São Paulo Fashion Week - e Carlos Miele. A maior parte das tendências estava de acordo com o que os brasileiros mostraram nas semanas de moda do Rio e São Paulo, em junho passado. As transparências e os tons neutros afirmaram-se como absolutos da estação quente. Calças, blusas, saias, vestidos longos e macacões receberam cortes amplos e esvoaçantes, muitas vezes em seda, crepe ou cetim.
Algumas grifes se destacaram pelo trabalho mostrado na passarela. A Calvin Klein Collection, por exemplo, que há algum tempo tem apostado em coleções fortemente minimalistas, mostrou este ano como se faz. Em tempos em que a moda tem voltado ao conceito do "menos é mais", a marca comandada pelo brasileiro Francisco Costa brilhou apresentou uma coleção quase toda em preto e branco. Tinha decotes em "V", contraste entre formas fluidas e ajustadas e, mesmo com looks monocromáticos, provou que o minimalismo pode sim ser sexy. Marc Jacobs sempre faz suspirar mulheres e é mestre em criar peças que viram desejo absoluto. A coleção deste ano foi um mix de referências e fez alusões da Paris de Yves Saitn Laurent ao tradicional zigue-zague da Missoni. A maquiagem, com olhos cinzas e bocas bem marcadas em vinho, foi uma das mais comentadas.
O brasileiro Carlos Miele prova a cada apresentação que não está para brincadeira. Depois de virar queridinho das protagonistas bem nascidas de Gossip Girl, Blair e Serena, apresentou no Lincoln Center uma parceria com a joalheira Ivanka Trump para lá de elogiada pela crítica. Neutros, como off-white e nude, apareceram muito, mas deixaram espaço também a cores animadas, como o laranja, o azul e o verde cítrico, além das estampas delicadas, como uma de borboletas coloridas. E por falar em Gossip Girl, Blair provavelmente aprovaria o que foi mostrado por Tommy Hilfiger: uma pegada urbana, colorida e preppy, na qual não faltaram saias curtas, cardigãs, camisas. Roupa esportiva do tipo que todo mundo usa o tempo todo e, por isso, não para muito tempo nas araras. Fórmula de sucesso garantido.
Londres
De 17 a 21 de setembro, foi a vez de Londres mostrar o que tem a oferecer para o cenário internacional de moda para o próximo verão. As modelos da Mulberry entraram de perucas ruivas, reforçando uma imagem de mulher de personalidade marcante. Embora a marca se apresente em Nova York antes de passar por Londres, o desfile na capital inglesa é sempre um show maior e com maiores cuidados. Seguindo a tradição da marca, Emma Hill se inspirou este ano em filmes: os escolhidos da vez foram o remake de Grey Gardens e O jardim secreto. A transposição da película para a passarela resultou numa paleta de cores delicadas, como se tivesse sido realmente tirada de um jardim e uma atmosfera anos 1970. Como de costume, as bolsas desfiladas devem esgotar das prateleiras.
Com nome parecido, outro hit da passarela londrina foi a Burberry. A apresentação foi uma das maiores: mais de mil convidados - entre eles os mais importantes editores de moda do mundo - sentados e muitos outros de pé. Apesar da estação quente, a coleção assinada por Christopher Bailey traz muitas jaquetas motocycle, bem pesadas, leggings em couro e saltos altíssimos, talvez uma menção aos primeiros trabalhos de Thomas Burberry, fundador da marca, que no início do século 20 desenhava roupas para os primeiros motociclistas londrinos.
Milão
Londres ficou para trás e foi seguida por Milão, por onde passam grifes como Prada, Jil Sanders, Dolce & Gabbana, Missoni, Empório Armani, Emilio Pucci e Bottega Veneta. Ao contrário do que havia sido apresentado em Nova York e Londres, os italianos qubraram com a monotonia do minimalismo e as paletas de cores neutras. Coloriram as passarelas. Uma das grifes que conseguiu fazer isso com maior maestria, segundo a crítica especializada, foi a Prada, que chegou a ser encarada por alguns como irônica, tamanha a profusão de cores e estampas que saiam do backstage rumo a passarela: as modelos vestiam óculos redondos de armações coloridas e modelagens simples com estampas de macacos, babanas e árvores. Pink, amarelo, coral e verde apareceram em vestidos, saias e blazers. A mistura de estampas - de bananas com um listrado navy, por exemplo - também deu o tom divertido do desfile. Nos olhos, muita sombra prateada fez makemaníacos se perguntarem se seria a hora de tirar do fundo da gaveta as suas abandonadas.
Outro destaque da semana de moda italiana foi a apresentação da Jil Sanders, inspirada no jogo high-low: camisetas simples que, à primeira vista, poderiam ser de qualquer loja de departamentos, combinadas a saias e calças com corte estruturado e acabamento perfeito. O contraste de cores e proporções foi uma constante no desfile. Calças amplas com blusas secas. Saias laranja combinadas a tops verdes e blazer azul - tirando a boca pink e opaca que as modelos desfilavam, forte tendência de maquiagem para o verão apresentada também pela Fendi e por Diane Von Furstenberg. Camadas e mais camadas, cores e mais cores, formas e mais formas.
Não menos chique, porém mais clássica, foi a Emporio Armani. Aqui o minimalismo, que andava meio sumido, marcou presença. Saias-lápis e leggings em tule foram peças-chave em muitos dos looks, fazendo uma composição leve e sofisticada com o restante das peças. As produções para o dia foram quase todas monocromáticas, em marrom, bege ou cinza, algumas vezes com cintos e casacos, formando várias camadas - algo que não é do costume da marca. Mesmo assim, fez sucesso.
Paris
Pelas passarelas parisienses passam a maioria das grifes mais cobiçadas do universo fashion. Chanel, Balmain, Lanvin, Miu Miu, YSL, Emanuel Ungaro, Valentino, Elie Saab e Louis Vuitton são apenas algumas. Parar variar, a Balmain apresentou uma coleção cheia de informação e peças que vão virar objeto de desejo absoluto dos fashionistas, como as botas com fivelas de metal e as calças superskinny com a barra dobrada em jeans, lamé vermelho ou dourado e couro. A inspiração era claramente punk: as jaquetas delicadamente bordadas com tachas, alfinetes e pedras denunciavam. Shorts supercurtos e a lavagem acid no jeans também apareceram. A Chanel de Karl Lagerfeld, como de costume, era um dos desfiles mais esperados. Os casacos e saias de tweeds, clássicos, fizeram companhia a vestidos floridos e monocromáticos, que seguiram uma cartela de cores que variava entre o nude, o preto, alguns florais com vermelhos e os pastéis. Nos pés, open boots e muitas gladiadoras de plataformas, algumas em madeira. As penas também apareceram em muitos looks, nos ombros em destaque ou nas barras de blusas e vestidos.
O desfile de Alexander McQueen foi a primeira grande apresentação desde o suicídio do estilista, em fevereiro. Quem assumiu a marca foi Sarah Burton, que trabalhou durante 14 anos com McQueen. As estampas em cores fortes, marca registrada do estilista, permaneceram, porém com um toque mais delicado e feminino que a estilista justificou como sendo derivado do fato de que ela é mulher, e isso muda alguma coisa. Embora o branco tenha aparecido no início do desfile, ele deu depois espaço a vestido estruturados e com cores fortes, marca registrada da Alexander McQueen. Marcaram a coleção ombros em evidência, cintura estruturada e recortes nas peças. Os sapatos, que são sempre hits, continuam com apelo forte: open boots para todos os gostos.
Marc Jacobs colocou na passarela da Louis Vuitton vestidos de festa que vão certamente entrar na lista de compras de muitas mulheres. Bordados, franjas, tecidos metálicos, lurex e os tradicionais monogramas da marca apareceram nas peças criadas pelo estilista. As bolsas Speedy, uma das mais famosas criações da marca, apareceram um pouco menores que na coleção anterior. Embora na estação passada Jacobs tenha aderido ao minimalismo na LV, dessa vez ele decidiu deixar a tendência para trás. O clima anos 70, no entanto, também visto no seu desfile em Nova York, deu sinais de vida em Paris também.