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Puxa, aperta, segura... e aparece

Nada de ficar escondido sob a roupa. As semanas de moda decretaram e a moda já começou a ganhar as ruas: sutiãs são para ser mostrados. Por isso, estão cada vez mais belos e funcionais

A situação se tornou insustentável. Não dá mais para usar roupa de baixo como sinônimo de lingerie. Nas últimas temporadas de moda, tudo mudou. Sutiãs não são mais sem graças e feitos para serem escondidos. Eles estão em todos os lugares. Aparecem discretamente nas alças das regatas, escandalosos por debaixo de camisetas transparentes e até por cima das roupas.

Basta ir a qualquer loja especializada que se percebe: é tudo mais colorido, romântico e feminino.
O movimento começou com os estilistas de grandes marcas de moda. O queridinho das celebridades Marc Jacobs resolveu expor os sutiãs na sua coleção de verão de 2010. Com recorte da década de 1950, eles apareceram por cima de camisas e cardigãs. Logo, a pop star Lady Gaga começou a desfilar por aí com as peças do designer. Depois, ela criou a moda própria e foi para jogos de baseball de lingerie preta e jaqueta de couro por cima. Na última temporada de moda brasileira, principalmente no Fashion Rio, já foi possível perceber o resultado da junção Jacobs e Gaga. Diversas marcas lançaram bustiês retrôs combinados com saia de cintura alta.


As fábricas de lingerie não ficaram para trás. "A mulher quer uma calcinha e um sutiã que funcionem com as roupas que ela compra", argumenta a diretora de marketing da Liz, Carolina Teixeira. A indústria começou a pegar estampas da moda, tecidos em voga e os tons que foram visto nas passarelas, além de explorar os recortes das roupas para que o sutiã se encaixasse nelas. O pensamento vanguardista faz com que a indústria da moda íntima movimente R$ 5 bilhões por ano no Brasil.


Quanto às estampas e às cores, a cartela é coordenada com o que é mostrado nas principais passarelas do mundo. "Se o estampado da temporada é o florido, fazemos lingerie que dê para que as mulheres dialoguem com seu guarda-roupa", diz a gerente de produto da Hope Aline Blanco. A Hope também desenvolve tecidos parecidos com as roupas mostradas nas passarelas. Para o inverno, por exemplo, fizeram uma linha que imitava o veludo e outra que tinha paetês bordados. As duas tendências que dominaram a moda na última estação.

A fascinação pelo universo da lingerie não é de hoje. Desde o século 19, ao longo de toda a história da sociedade ocidental moderna, vários tipos de "roupa de baixo" viraram peças de guarda-roupa: espartilhos, cinta-liga. Mas por que séculos de fetiche com a lingerie? "Por que é íntimo, é aquilo que aparentemente é quase inacessível, proibido. É fetiche", explica Eloize Navalon, coordenadora do curso de design de moda da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo.

Desde os anos 1980, o designer Jean Paul Gaultier já usava o modelo. "Como os anos 1980 estão na moda, a questão da lingerie aparente ou como peça principal também voltou com força total", explica Eloize. Madonna já fez isso nos anos 1980 com os escandalosos sutiãs de cone. Até as pin-ups da década de 1950 já exploravam o universo.


É novo para mim, é novo para você

O novo lema da indústria da moda íntima é: sutiãs feitos sob medida. O conceito já foi espalhado há anos nas maiores empresas norte-americanas e europeias. Mas só chegou aqui em 2007. Agora, finalmente, mais marcas aderiram ao movimento. O ideal é coordenar a largura das costas com o tamanho do bojo. "Ao comprarem lingerie, as mulheres prezam pelo conforto e, por isso, essa linha é ideal. Elas não aceitam mais viverem apertadas dentro de sutiãs", argumenta a diretora de marketing da Liz, Carolina Teixeira. A mudança pode até parecer pouca, mas faz uma grande diferença para uma mulher gordinha com pouco busto ou uma mulher magra com seios grandes, por exemplo.


Os tecidos são também grandes diferenciais do mercados. "O tecido é essencial para a venda, pois o primeiro contato da compradora com a lingerie é pelo toque, só depois ela experimenta o modelo. É importante o material ser atrativo", conclui a gerente de produto da Hope, Aline Blanco. A maioria das marcas usa as microfibras. "Elas são finas, confortáveis, secam mais rápido e têm um alto poder de respirabilidade", justifica Blanco. A disputa entre as marcas de lingerie fica pela leveza do tecido. Algumas marcas chegam a colocar à venda tecidos de 90 gramas. O objetivo é desenvolver peças mais finas, leves e confortáveis, que se tornem cada vez mais imperceptíveis no dia a dia das mulheres.
Outra novidade do mercado brasileiro é o tule.

Antigamente, até existiam marcas que usavam o tecido na produção. Mas o material era áspero e desconfortáveis quando usado na lingerie. Agora, o tule foi refeito para se encaixar nos padrões das brasileiras. "Existia uma grande resistência interna para as peças de tule. Por isso, desenvolvemos o tule de microfibra e estamos reintroduzindo o material no mercado", explica Carolina Teixeira. Algumas empresas exploram o tecido nos detalhes, mas algumas marcas fazem peças inteiras dentro desse conceito.