Por Carolina Samorano
Especial para o Correio
Na moda é assim: as pessoas que ganham o direito de sentar na primeira fila de um desfile são aquelas que, na concepção do estilista e da sua equipe, merecem conferir um pouquinho mais de perto a sua coleção. A fila A, como é chamada, pode dizer tanto sobre o conceito da marca quanto sobre as próprias roupas. E foi justamente por isso que, quando a grife Dolce & Gabanna decidiu colocar na sua disputadíssima primeira fila do desfile de primavera/verão 2010, no fim do ano passado, não um, mas quatro blogueiros ao lado de nomes como o da veneradíssima editora de moda da Vogue americana Anna Wintour, o mundo da moda ficou com o queixo caído sobre os saltinhos grifados. ;Quem são essas pessoas e o que elas fazem aqui?;, perguntavam-se celebridades e jornalistas, que se viram de repente obrigados a ceder seus lugares privilegiados a essa gente desconhecida.
A foto em que o grupo se divertia, enquanto, munido de seus laptops, atualizava com informação em tempo real os seus blogs, estampou sites e revistas especializadas de todo o mundo. Enquanto isso, compradores de multimarcas de peso como Neiman Marcus e Saks tiveram que se contentar em escolher as peças que ocupariam as suas araras na próxima estação de uma amarga segunda fila. Os responsáveis por tanto burburinho, na época, foram a francesa Garance Doré (www.garancedore.fr); o namorado dela, Scott Schuman, do The Sartorialist (www.thesartorialist.com), um dos mais famosos blogs de moda de rua do mundo e que lançou um livro no ano passado; Bryan Boy (www.bryanboy.com), que também assina livro próprio; e Tommy Ton, do Jak & Jil (www.jakandjil.com), que conquistou no ano passado a vaga de fotógrafo de estilo do Style.com, site da revista Vogue americana e leitura diária obrigatória para qualquer ser interessado em moda.
A atitude da Dolce & Gabanna abriu a discussão: blogueiros de moda merecem tanta atenção quanto têm recebido? Polêmicas à parte, o fato é que, mais do que nunca, eles são ;material de primeira fila;, como definiu o site especializado WWD logo depois do desfile na semana de moda de Milão. Alguns blogs chegam a ter mais visitantes por dia do que o número de exemplares vendidos mensalmente por algumas revistas e, em casos um pouco mais raros, conseguiram transformar o que inicialmente era um passatempo em profissão, com direito a assistentes, negociação de espaço publicitário, organização de pautas e projeto editorial ; coisas que até então só se via em redações jornalísticas.