Sabe aquele tipo de gente que sente até arrepio quando alguém pede para dividir comida? Ou que senta do lado do prato de petiscos em uma festa para degustar todas as opções de pratos servidos? Tem aquele tipo também que só consegue parar de comer quando se sente empanturrada. Então, essa pessoa sou eu. Comer, para mim, é um delicioso rito diário ; quanto mais vezes por dia, melhor. Eu sei apreciar o verdadeiro valor de um bom azeite e a divindade de um prato de filé mignon. Eu tomo café pensando no que vou almoçar e almoço pensando no que vou jantar. Por causa disso, me propuseram o desafio: trocar deliciosas refeições por farinhas e líquidos sem gosto. Só de imaginar em parar de comer comida com gosto me deu um frio no estômago. Mas aceitei o desafio.
Ganhei um kit: shake e ração humana. Poderia usar quando quisesse, por quanto tempo que quisesse. Sem restrições e sem regras. Começar foi difícil, mas todo desafio gastronômico deve ser tomado com mente aberta. Resolvi começar com o shake por parecer mais saboroso e, de fato, ele tem quase o gosto de milk shake. Não segui as instruções da caixa, que alertava para consumir depois de uma refeição. Tomei depois do jantar. Grande engano. Menosprezei o poder do shake. Em poucos minutos, me senti como se tivesse comido uma pizza inteira ou um sanduíche grande de alguma cadeia fast food. Não tive ânimo nem para dar uma passada na cozinha antes de dormir.
O segundo desafio que fiz foi com a ração humana. Ela é muito mais feia que o shake, muito menos gostosa e bem mais difícil de consumir. O principal problema da ração é que ela não cai bem com nada. É ruim quando se mistura com frutas, nojento quando colocada em líquidos ; porque não dilui ; e desagradável quando se mistura com a refeição. Não é um alimento que passa despercebido, se ele está na comida você vai notar a sua presença. Mas, ao contrário do shake, dá um efeito de saciedade muito mais longo. Duas colherzinhas no lanche são o suficiente para passar a vontade de beliscar o pão a noite inteira. Até uma sopa ou um sanduíche sem graça te satisfazem.
Agora, o mais desafiador dos testes foi tomar o shake antes do aniversário de um amigo. O objetivo era evitar um consumo exagerado do cardápio e tentar não atacar tudo que fosse posto à mesa. Pois, para mim uma festa só é boa se a comida servida for deliciosa. Não comer tudo ; e muito ; do que é servido é uma verdadeira tortura. O cardápio em questão era um rodízio de pizza. Quando fui exposta ao primeiro pedaço, me deu um certo enjoo. A segunda vez que o garçom passou, fiz um esforço para comer um mísero pedaço. Afinal, quem não degusta em uma festa? Pela terceira vez, não consegui controlar a minha gula e comi indiscriminadamente, sem elegância e como se não houvesse o amanhã. Não dá para negar, entretanto, que em dia normal comeria facilmente mais alguns pedaços de pizza.
Depois dos diversos testes que fiz, para mim ficou provado que não é o shake ou a ração que vai controlar a minha fome e sim uma boa dose de concentração mental para não devorar um saborosa comida. Afinal, o shake pode cortar o apetite, mas ele não some com o cheiro delicioso de uma carne na chapa, nem com o vapor quentinho de um pão fresquinho e muito menos com o sabor inigualável de um risoto de camarão. Os substituidores podem te deixar magra, sem fome e serem práticos. Mas com certeza você vai ser uma pessoa mais infeliz sem poder aproveitar os prazeres de degustar um belo prato em um charmoso restaurante.
E você, trocaria um prato de comida por uma cápsula? Responda a nossa enquete.