Politica

Bolsonaro, de novo, 'receita' cloroquina

Em Bagé (RS), presidente diz que pandemia traz recessão, miséria e %u201Csocialismo%u201D, e que medicamento defendido por ele apenas não tem comprovação para os efeitos da covid-19



O presidente Jair Bolsonaro mais uma vez exibiu, ontem, sua versão de propagandista da hidroxicloroquina, medicamento que não tem efeito algum contra a covid-19, segundo o Informe nº 16 da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), divulgado no último dia 17. Ao descer em Bagé (RS), onde cumpriu agenda, voltou a exibir uma caixa do medicamento, erguendo-a para os apoiadores que o saudavam. Apesar de ter-se recuperado há poucos dias da doença, distribuiu apertos de mão, pegou criança no colo e tirou a máscara de proteção por alguns segundos.

Ao conversar com os jornalistas, novamente Bolsonaro desdenhou da pandemia no país. Segundo ele, como a maioria da população eventualmente será infectada pela doença, é necessário enfrentá-la. “Temos três ondas: a questão da vida, a recessão e, em cima da miséria, vem o socialismo. É isso que vocês querem no Brasil? Temos é que enfrentar as coisas, acontece. Estou no grupo de risco. Nunca negligenciei, sabia que um dia ia pegar. Como, infelizmente, eu acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Ter medo do que? Enfrenta. Lamento, lamento as mortes. Morre gente todo dia, de uma série de causas, e é a vida. Minha esposa agora está (infectada). Depois de quase um mês que peguei o vírus, ela pegou”, disse, após a inauguração de condomínios populares na cidade gaúcha.

Bolsonaro ressaltou que não está “apostando” na cloroquina, mas disse que estudou o medicamento. “Eu estudei a questão junto com médicos, via como estava sendo feito no mundo, em especial em países da África. Quando você não tem alternativa, não proíba o médico que queira usar. Se não fosse essa tentativa e erro do receituário off label, fora da bula, muitas doenças ainda estariam até hoje existindo no mundo”, explicou.

Mesmo com as autoridades médicas afirmando que a cloroquina e sua derivada não fazem qualquer efeito contra a covid-19, segundo Bolsonaro, o que falta aos medicamentos é comprovação científica –– o que não é verdade, pois o informe da SBI deixa claro que foram testados contra a doença, nos Estados Unidos e na Espanha, e não apresentaram qualquer resultado. “Todos nós sabemos que não tem comprovação científica, agora não tem também ninguém cientificamente dizendo que não faz efeito. É o que tem, vamos usar, ora. Ouvindo o médico, obviamente”, insistiu.

O presidente assegurou que melhorou com a ajuda da hidroxicloroquina e elogiou como o prefeito de Bagé, Divaldo Lara, conduz a crise na cidade “sem fechar quase nada”. “Sempre falei: ‘não tem como fugir. Vamos enfrentar’. Proteger os mais idosos, quem têm comorbidades, fazer como o prefeito fez aqui em Bagé. Parabéns, praticamente não fechou nada aqui”, apontou.

Ao ser questionado sobre as novas moradias, Bolsonaro respondeu que “faz parte” da agenda do governo e que viajará pelo país. “Pelo menos uma vez por semana vou sair de Brasília. Ontem (quinta-feira), estive no Piauí. Estivemos na Bahia também. Foi água encanada para 40 mil famílias que não tinham, e a gente fica sensibilizado quando vê pessoas pedindo água a você. Coisa de comover. Não existe vida sem água. Estamos felizes em atender cada vez mais pessoas que necessitam”, garantiu, antes de encerrar a entrevista ao ser indagado sobre a nova CPMF, que vem sendo defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

Da comitiva de Bolsonaro participaram, além do prefeito de Bagé, os deputados federais gaúchos Maurício Dziedricki (PTB), Ubiratan Sanderson (PSL), Daniel Trzeciak (PSDB) e Bibo Nunes (PSL). Na cidade, ele inaugurou a Escola Municipal de Ensino Fundamental São Pedro, que se tornará a primeira escola cívico-militar do Rio Grande do Sul, e visitou o 3º Regimento de Cavalaria Mecanizada, onde almoçou.

“Todos nós sabemos que não tem comprovação científica, agora não tem também ninguém cientificamente dizendo que não faz efeito. É o que tem, vamos usar, ora. Ouvindo o médico, obviamente” 
Presidente Jair Bolsonaro